A falta de franqueza está nos destruindo.

A falta de franqueza está nos destruindo.

Ando afastado de escrever a bastante tempo, em muito porque os movimentos dos últimos anos me fizeram recuar e observar os movimentos e fazer uma melhor leitura do mundo atual, afinal sou defensor do pensar, esta capacidade inalienável do indivíduo que nos torna únicos.

O que venho observando e estudando é um "stress" da sociedade em geral, em parte motivado pelo excesso de informação e uma carga demasiada de ideologias das mais diversas formas e origens, e isso tem tido um impacto gigantesco na gestão de empresas, carreiras e evolução da sociedade moderna.

O modismo interminável e a saga para ganhar um lugar ao sol

Não é de hoje que a gestão e estratégia ganha formatos e mais formatos que em essência não trazem nada de novo, mas como temos visto nos últimos anos, estes modismos ganharam proporções estratosféricas. Nada incomum ver “gurus” de mercado com estratégias de enriquecimento exponencial, coaching e mentoring proporcionado por profissionais que rasamente se sentaram numa cadeira de uma empresa e com uma experiência igualmente rasa na obtenção de resultados e participação em projetos robustos que o qualificariam.

O acesso a todos e a tudo através da internet e, em particular nas redes sociais, criou uma competição e uma correria em busca de um lugar ao sol. Como não poderia deixar de ser, criar ou gerar conteúdo “politicamente correto” – odeio esta expressão – tornou-se uma mola para chegar lá. O fato é que o politicamente correto vem aniquilando a franqueza que como bem dizia -Jack Welch “Somos educados desde a infância para atenuar as más notícias e adoçar os temas amargos. Você acaba concluindo que as pessoas não dizem o que pensam porque é mais fácil agir assim” e essa é uma grande verdade.

O que tenho visto na maioria das empresas e grupos sociais é a transcrição deste mantra em nome do politicamente correto e em seu rastro uma destruição das possibilidades de se chegar mais longe, de atingir resultados concretos e construir realmente uma sociedade melhor. Quando se alimenta este tipo de comportamento, as verdades não são ditas, as agendas ocultas ganham espaço, a verdade sempre vem através de um manto invisível que a oculta e todos perdem.

Muito se fala de propósito, mas ele vem sem propósito

Existe uma confusão crescente relacionada ao propósito. Para mim é válido, mas não passa de uma intensão de fazer ao passo em que CAUSA, esta sim move as pessoas a realizarem algo. Ora propósito e metas de nada diferem, nada mais é que um estado desejado ou a ser alcançado, diferente de uma CAUSA onde se faz algo onde nos empenhamos para realizar e obter resultados de forma franca, aberta e direcionada. Eu iria mais longe e lembrando a fábula da galinha e do porco, propósito é como a galinha que dá os ovos para fazer uma omelete ao passo que o porco dá a vida para oferecer o bacon.

Como escrevi em um artigo de 22 de Agosto de 2015 – Meta é coisa do passado – dizia: “Mas como ficam os números, como atingir resultados se for essa uma verdade absoluta? Simples, a medida que fazemos o que gostamos, que nos integramos e engajamos no que acreditamos, os números passam a ser a consequência de nossas convicções. Não tenho dúvida, e não é teoria pois experimentei pessoalmente essa experiência, todos os grandes casos de sucesso que tive como executivo vieram de empreendimentos onde a causa levou aos números, da mesma forma com que todos os casos de insucesso vieram acompanhados da pressão pelos números acima das necessidades das pessoas, ignorando a mais importante das perguntas: “Por que estamos aqui e por que estamos fazendo isso?” E para se atingir este patamar sem franqueza, desculpe-me é impossível!

Um stress silencioso, prestes a explodir

Como dizia no início do artigo, a sociedade anda estressada, e muito estressada. Quando se fala muito de ideologias e conceitos não aderentes o ser humano reage inicialmente favorável, mas assim que percebe que não é prático e o leva a um estado de ansiedade, imediatamente e silenciosamente ele rejeita.

Um número imenso da geração Y por exemplo está casando-se com a mesma namorada, constituindo família, tendo filhos e buscando estabilidade e prazer. Muito diferente pelo anunciado pelos modismos e rótulos construídos ao longo dos últimos anos. O mesmo já começa acontecer com a geração X que em recente pesquisa realizada pela PUC do Rio Grande do Sul aponta que entre suas principais aspirações está a de ter a casa própria como seus avós ou pais. As exigências de formação tradicional vêm caindo como dominós enfileirados, a idade está na mesma fileira e assim outros dogmas construídos e difundidos nos últimos anos.

Em um outro extremo, as disputas políticas nos tiraram do pragmatismo e nos lançaram num terreno lamacento que mais ofusca e distorce da verdade do que propriamente aponta caminhos e soluções. O “nós contra eles” vem fabricando um moedor de franqueza e objetividade jamais visto. A sociedade está cansada de ser jogada de lá para cá e como em muitos movimentos sociais do passado está com um grito travado na garganta de CHEGA.

O impacto de tudo isso nas empresas e negócios

Das novas empresas de tecnologia, compartilhamento entre tantas outras até os negócios mais tradicionais a cultura da falta de franqueza vem produzindo empresas com balanço negativos, mas com valoração constante nas bolsas. Ninguém questiona a fundo onde tudo isso vai terminar e uma bolha maior que a de 2001 está prestes a explodir. Protecionismo em todo o mundo tem colocado os mercados em xeque e as consequências ninguém quer discutir.

Venho trabalhando com empresas japonesas nos últimos meses e lá tenho encontrado um ambiente maravilhoso e permeado de franqueza, abertura e acima de tudo real. O Genchi Genbutsu é uma expressão japonesa que significa “vá e veja por si mesmo”. A ideia por detrás do conceito de Genchi Genbutsu é muito similar à ideia do conceito de Managment by Walking Aroung (MBWA), em resumo, enfrente as verdades de forma aberta, aprenda com elas e faça melhor, pratique o Kaizen: uma palavra de origem japonesa que significa mudança para melhor, usada para transmitir a noção de melhoria contínua na vida em geral, seja ela pessoal, familiar, social e no trabalho.

As empresas estão perdendo isso, esta capacidade de ver as coisas como elas realmente são e se não mudarmos isso, assim como a sociedade, as empresas também estão estressadas e tendo de lidar com tantas variáveis que o negócio, sua sustentabilidade e crescimento acabam ficando em jogo. Todos temos a perder!

Para finalizar, abrir a mente para o novo é fantástico, mas não deve vir embalado de agendas e conceitos que parecem modernos, mas que na verdade são arcaicos e destrutivos. Devemos transformar novamente a franqueza numa mola de prosperidade e parar de encobertar o trabalho que devemos fazer com subterfúgios que nem ao menos temos certeza para que servem. Existe um mercado enorme a ser conquistado de forma árdua e dedicada, mas este mercado somente irá acolher aqueles que estiverem investidos na CAUSA de fazer mais e melhor e que realmente se reverta de forma concreta em benefícios de todos.

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Magali Leite de Oliveira

Consultora Comercial/Executiva de Contas/Análise de Risco/Consultora de Negócios

5 a

Ricardo Abiz compartilho dessa linha de pensamento. Estava fazendo uma reflexão sobre essas questões por esses dias.

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