A falta de habilidades socioemocionais os negócios e o país

A falta de habilidades socioemocionais os negócios e o país

No Brasil o demônio do imediatismo é mais forte que o Saci. Vendemos o almoço para pagar o jantar. Há vários fatores nisso. Talvez o mais forte seja o delírio egóico das certezas, pela crença absoluta de que a realidade que percebo me permite rapidamente criar um plano e se preciso, improvisar. “Ah, já sei como é”. Com minhas experiência e inteligência encontro uma alternativa.

Socorro Faraday (o da gaiola)! A percepção é fruto da imaginação misturada à realidade. Matemáticos já mostraram isso. Mlodinov (O Andar do Bêbado e Subliminar) trata bem disso.

Nós acreditamos que as pessoas que tem mais conhecimento serão mais bem sucedidas. E as empresas contratam pessoas “prontas”, com experiência na área, conhecimento técnico e resultados positivos em suas carreiras. O sucesso é decorrência disso. Mas não é bem assim. Há um número enorme de insatisfeitos em suas carreiras, pessoas trocando de emprego por 10% de aumento, às vezes para ficar mais perto de casa, fugir da pressão de um chefe ou de valores incompatíveis. Onde se assenta este problema? Nas habilidades socioemocionais, negligenciadas na era da Inteligência Artificial em que parece haver resposta para tudo.

Vejamos onde começa, como identificar e o que fazer

O resultado do Pisa nos despeja no 7º pior lugar em ciências, 11º em leitura e 5º em matemática entre 73 países e regiões. As análises apontam como fator decisivo para isso o desequilíbrio emocional. Brasileiros erram muito e muitos não terminam a prova. Estudo divulgado pelo Insper (link do início) indica que brasileiros gastam 3 minutos por questão enquanto finlandeses gastam um e colombianos dois. E a última questão dos dois blocos do exame não foi resolvida por 61% dos brasileiros, contra 6% dos finlandeses e 18% dos colombianos.

Destaco que a partir de 2015 o Pisa em computador adotou um método que para responder a pergunta 2 é preciso ter respondido a 1. E assim sucessivamente, impedindo que se responda primeiro o que se sabe. Em resumo, como não há progressão na dificuldade das perguntas, o decaimento do desempenho está mesclado às questões de determinação, concentração e persistência. A reação emocional à dificuldade é tão importante quanta inteligência ou memória. E o caráter é mais importante que o QI (J. Hekman, R.Pinto e P. Savelyev). 

E esta situação se desdobra na vida de cada um dos “Pisados”, em todos os segmentos e no desenvolvimento do próprio país. Um dólar investido na educação infantil traz um retorno de sete dólares na vida adulta. Mais de 1% ao mês em 20 anos. (Heckman&Cunha - 2007).

Estes resultados apontam algumas questões estratégicas de curto/médio e longo prazos para os negócios:

·        Curto e médio prazos – Há, e continua a entrar, um contingente enorme de profissionais no mercado de trabalho que apresentam deficiências profundas em suas habilidades socioemocionais, já que o fenômeno não é novo no Pisa. O ENEM, p.ex. não identifica isto. A falta de desenvolvimento em atributos como autodisciplina, comprometimento, otimismo e estabilidade para citar alguns, fragilizam as competências de iniciativa, perseverança, flexibilidade e resiliência. Potencializam a dificuldade em colaborar, a agressividade, o foco em si mesmo, a tendência ao perfeccionismo e a intolerância aos erros dos outros reduzindo a generosidade e a capacidade de aprender com os próprios erros.

·        Longo prazo – Quanto menos as organizações investirem em processos civilizatórios e humanizados, tanto na escolha quanto no desenvolvimento, mais terá que lidar com questões como desengajamento, pequenas sabotagens, conduta aética, assédios, desmotivação, repetição de erros, práticas redundantes ou rígidas e perda de agilidade e flexibilidade. Isto se reflete na Solução de Problemas, na Orientação ao Consumidor/Cliente e no Trabalho em Equipe, tratando externalidades negativas como causas e não como consequências. Um exemplo cotidiano é a violência que cresce exponencialmente no país. Temos a 3ª maior população carcerária do mundo, em que 70% tem Ensino Fundamental incompleto, 56% abaixo de 29 anos e só 13% tem acesso à educação. E esta população deve triplicar até 2030 no ritmo em que vamos. A violência tem fundo socioemocional bem acima das causas econômicas ou de inteligência.

Neste quadro vejo como pouco inteligente o fato das organizações não insistirem no diálogo frequente sobre valores, no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e em relações saudáveis entre profissionais. O investimento em técnicas de administração e gestão de resultados é inócuo e de baixa retenção se os aspectos humanos e socioemocionais forem tratados como menores.

Recentemente estudando o WorkFORCE ® como ferramenta de apoio ao desenvolvimento humano observei que ele traz à luz excelentes possibilidades para tratar o tema. Oportunamente falarei mais sobre o WorkFORCE®.

Fica portanto a reflexão sobre o volume de dinheiro perdido pelas organizações por problemas de comunicação, colaboração, relacionamento, atendimento ao cliente, flexibilidade, ética, além da erosão na capacidade de inovar, já que o ambiente, por mais estímulo que a gestão acredite oferecer, não irá nunca superar a percepção negativa que as relações limitantes causam nos seus empregados em todos os níveis. Enganam-se portanto aqueles que acreditam que Diretores e Vice-presidentes não são vítimas disto. E o pior: podem ser vítimas de si mesmos.

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