Feliz Dia das Mães?
A desigualdade de gênero não é novidade para o mundo corporativo. Nos últimos anos a discussão acerca da desproporção salarial entre homens e mulheres e o machismo ganhando espaço como "vilão" na agenda social, fizeram com que pudéssemos vislumbrar um princípio de mudança para esse cenário. Porém, o que há alguns anos parecia promissor, já parece ter perdido a força mais uma vez. Dados levantados por Heliani Berlato, professora do MBA USP/Esalq, em 2017, apontavam 2090 como o prazo máximo para atingirmos uma plena e real equidade de gênero no meio empresarial, porém, dados atualizados do Fórum Econômico Mundial levam essa perspectiva para um futuro bem mais distante. De acordo com as pesquisas feitas, atingíriamos a equidade salarial entre gêneros apenas em 2158 e poderíamos ver uma sociedade livre do machismo e oferecendo oportunidade iguais a todos por volta de 2289.
O que não podemos deixar de refletir a respeito, é que todas essas perspectivas, por mais que pareçam desanimadoras, são calculadas em cima do que somos enquanto sociedade nos dias de hoje. Ou seja, essas previsões para o futuro, fruto de como nos comportamos agora, podem ser mudadas a qualquer segundo. Se são nossas ações que indicam o caminho que vamos seguir, assim que alterarmos os fatores que estão sendo somados, nós mudamos também, o resultado dessa conta. Mudar nossos comportamentos, o modo como vemos e ensinamos os outros a ver o mundo, depende unicamente do que fazemos dia após dia.
E se a desigualdade de gênero já se solidificou como uma desagradável, porém inegável, presença no meio corporativo, já está na hora de darmos mais alguns passos nessa discussão, não acha? Domingo, dia 08 de Maio, comemoramos o Dia das Mães, uma das datas mais afetuosas do ano, já que celebramos as mulheres que nos deram a vida e que, na maioria dos casos, abriram mão de muito de suas próprias para isso. Ser mãe está longe de ser uma tarefa fácil. Além de todas as mudanças corporais, dores, alterações hormonais e desafios dos primeiros meses de maternidade, ainda temos as pressões por parte dos maridos, família, vizinhos, da mídia e também do trabalho. Diferente das questões físicas da gravidez, está sim, a nosso alcance, trazer alívio para as sociais.
Enquanto o procedimento habitual de contratação se pauta na competência de um funcionário, a contratação de uma mãe, acaba indo por caminhos bem diferentes e extremamente questionáveis. Segundo uma pesquisa do IBGE de 2021, pouco mais da metade das mães com filhos de até 3 anos de idade estão empregadas. Quando estreitamos a pesquisa para mães negras com filhos também nessa idade, o número cai ainda mais e os resultados nos mostram que nem metade delas têm empregos. A primeira infância ainda é entendida socialmente como o momento em que as crianças mais vão precisar das mães e, consequentemente, o momento em que as mães menos vão poder se dedicar à outras tarefas.
Um dos fatores responsáveis por esses resultados, que é abordado no material de treinamento sobre Inclusão e Diversidade da LCM, são os chamados vieses inconscientes: Ideologias e pensamentos que comandam nossas ações e que são fruto de uma construção pela qual passamos, porém, que hoje em dia, ocupam um espaço inconsciente e adormecido em nossas memórias. Ou seja, os vieses inconscientes ainda ditam nosso modo de ver e agir no mundo, porém são dificilmente acessados por nós, uma vez que não são fruto da nossa racionalização e tem suas origens muito mais enraizadas do que pensamos. Nossa construção enquanto seres sociais é feita sob valores muitas vezes injustos e em constante atualização, exigindo que diariamente busquemos entender outras vivências e realidades, trabalhar nossa empatia, e aos poucos tirar de nós essas camadas que podem ser nocivas a outros grupos ou até a nós mesmos.
Enquanto os números para mulheres contratadas com filhos pequenos são tão baixos, outra realidade se apresenta quando levantamos os mesmos dados sobre homens nessa situação. 89,2% dos homens com filhos de até 3 anos possuem empregos, superando até os 83,4% de homens empregados que não têm filhos. Isso mostra que ainda vivemos imersos em uma cultura que deposita a responsabilidade da criação dos filhos em apenas um dos membros do casal e que já espera que os pais tenham uma participação muito menor do que as mães na primeira infância de seu filho.
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Por mais que muitas vezes demos foco nas deficiências envolvendo a contratação de mães, precisamos também falar das pressões sofridas por mulheres que sonham em viver a maternidade, mas que acabam sendo podadas e coagidas a seguir esse caminho por seus ambientes de trabalho. É comum que mulheres adiem a maternidade com medo das implicações que isso possa trazer para suas carreiras, e não em relação a organização pessoal delas, mas em relação a posição vulnerável que essa experiência as coloca no ambiente corporativo. Não são escassos os relatos de mulheres que, mesmo com anos competentes de trabalhos prestados, acabam ficando desempregadas ao retornarem da licença maternidade, sendo obrigadas a reiniciar suas histórias em novas empresas.
Existem caminhos relativamente simples para que essa realidade mude e que mães possam viver essa etapa de suas vidas sem se sentirem ameaçadas. Projetos de alteração na duração da Licença Paternidade são frequentemente apresentados e ganham grande repercussão online e debates acerca do assunto são cada vez mais frequentemente levantados chegando até a grande mídia. O objetivo principal de qualquer uma dessas medidas, é a mudança de ideologia e posicionamento das empresas. Educar a população sobre pais deverem dispor tanto de seu tempo quanto as mães para cuidar dos filhos e tirar da figura masculina, essa "vantagem" que as empresas enxergam em sua contratação. Debater isso e trazer o machismo estrutural para a agenda da grande mídia, é também de extrema importância! Conscientizar até as camadas menos instruídas do país sobre os impactos de uma cultura patriarcal, nos coloca muito mais próximos de atingir a tão desejada equidade de gênero.
A LCM participa desse movimento e impulsiona essa mudança através de seus programas de treinamento empresarial sobre Inclusão e Diversidade, que provocam as equipes a conhecerem seus vieses inconscientes, dialogar com seus preconceitos e enxergar, juntos, como solucionar esses problemas dentro de cada ambiente de trabalho. Enquanto gestores, somos também responsáveis por despertar o fator humano dentro de nossas equipes, prezar por respeito e direitos iguais para todos. Empresas que abraçaram as práticas de diversidade e inclusão já se mostraram mais produtivas, criativas e abertas a inovação do que as que se mantém dentro de padrões ultrapassados e que não dialogam com o mundo dos dias de hoje.
Portanto, volto à pergunta do título do texto. Feliz Dia das Mães? Será que estamos realmente fazendo tudo o que podemos por elas? Quisemos trazer essa reflexão nessa data tão especial, para que repensemos o mundo que estamos construindo, na herança que queremos deixar para as próximas gerações e o que podemos fazer pela nossa.
Um Feliz Dia das Mães para todas as guerreiras que enfrentam muito mais adversidades do que pensamos, que nos inspiram e cuidam de nós, que nos ensinam sobre respeito, sobre trabalho duro e que constroem diariamente um mundo mais amoroso. Lutar por inclusão e igualdade, não é um papel apenas de quem sofre com a falta dela, é um papel de todos nós.