Ferretes em bytes
Texto: Gil Dicelli / Editor-Executivo do Núcleo de Imagem
Não é de agora que os meus olhos deitaram sobre as marcas de ferrar gado. Encantei-me pela possibilidade de releitura do rude ferro em brasões ancestrais que contavam a história das famílias do sertão. Pelas mãos do jornalista e pesquisador Gilmar de Carvalho, que me revelou um universo de nuances.
O assunto silenciou em mim por mais de 10 anos. Eis que em 2013, voltou a me sussurrar possibilidades. De lá para cá, O POVO abraçou a ideia e ampliou imaginações. Ferros polifônicos, rastros de tradição, poder e territorialidade, traços dos nossos quintais que desconhecem fronteiras. O mundo é aqui. E o design um canal para traduzi-lo.
Desenhar esse conceito é navegar num universo concreto e, ao mesmo tempo, simbólico. O projeto gráfico rasga o conteúdo. Marca, tal qual estigmas, o couro, a foto. Aponta leituras. As colunas de texto são forjadas na bigorna. A tipografia, criada especialmente para este caderno e batizada de “Chico Type”, homenageia e reproduz a letra do ferreiro Chico Gomes, de Tauá. Redesenhada pelo nosso infografista Pedro Turano, ressoa moderna, digitalizada. Marcamos no computador com ferrete de bytes.
As manchas pretas são lembranças do ferro virgem, protegido por um óleo para não enferrujar. Uma promessa de permanência para as histórias que estão nas próximas páginas.
É fogo, é ferro, são vários caminhos. Um universo de possibilidades que se abrem. Os sentidos estão em chamas.