FILHAS DE UM DEUS MACHISTA
Paula Nicho Cumez Maya woman artist in Guatemala Proceso y Visión de los Acuerdos de Paz [The Process and Vision of the Peace Agreement]

FILHAS DE UM DEUS MACHISTA

As mulheres não têm qualquer deficit de inteligência ou de capacidades físicas, psicológicas, mentais, sexuais, emocionais, intelectuais ou profissionais.
Não há nada de feio ou impuro no corpo de uma mulher. Não há nada de impróprio no prazer sexual da mulher.
Não existe nenhum motivo pelo qual as mulheres se devam sujeitar a um suposto, mas inexistente, superior poder, capacidade, autoridade ou desejo de nenhum homem.
Não existe nenhum motivo admissível para que se mutile, viole, discrimine ou exerça violência sobre as mulheres.
Nenhuma mulher deverá ser obrigada a cobrir o seu corpo de forma indigna, como se nele existisse algo de pecaminoso. 
Comportamentos agressivos ou sexualmente agressivos por parte dos homens não têm qualquer tipo de  justificação ética, social, religiosa, moral ou intelectual. Estes comportamentos são desviantes e de origem patológica. Nenhum homem, que se preze de o ser, atacará ou violará uma mulher, em circunstância alguma.
Lutar pelo direito à dignidade, integridade física e igualdade das mulheres não é uma questão de feminismo, mas antes um direito e um dever de qualquer ser humano.
Ao longo dos milénios, ser mulher tem sido, quase sempre, sinónimo de desigualdade, de descriminação, de dependência e incontáveis abusos por parte dos homens, na grande maioria das civilizações.

Raras são as exceções de sociedades em que os poderes e regalias das mulheres são idênticos aos dos homens ou até mesmo superiores. Encontramo-las, principalmente, na Pré-história e na Antiguidade, em civilizações como a Cicládica, Minoica, Suméria, Acádia, Elamita, Celta ou Grega. Algumas destas civilizações eram matriarcais e nestas o papel de liderança e poder era exercido pela mulher e especialmente pelas mães de uma comunidade, noutras essa igualdade ou superioridade encontrava-se relacionada, quase exclusivamente, com elites específicas, como era o caso das  Sacerdotisas ou das Amazonas da Grécia Antiga.

Conta-se que, na Idade Média, as índias guerreiras, icamiabas, da América de Sul, pela enorme oposição que fizeram aos invasores espanhóis, levaram Carlos V a batizar o grande rio com o nome de Amazonas.

Nos nossos dias, existem, pelo menos, duas sociedades matriarcais, o povoado Mosuo, na China, que conta com cerca de 30 mil pessoas, e o povo Minangkabau, na Indonésia.

Atualmente, no Mundo Ocidental é suposto que vivamos numa sociedade em que os direitos de homens e mulheres sejam iguais. No entanto, o elevado número de mulheres vítimas de violência doméstica, violações, assédio sexual ou discriminação em contextos profissionais, ou sobrecarga de trabalho, ao nível das famílias, parece indiciar uma outra realidade, em que, efetivamente, ainda existem grandes desigualdades entre homens e mulheres.

(continuar a ler - Varela, Teresa - "Filhas de um Deus Machista" - Caminhos & Labirintos)

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