"Fim dos privilégios para deficientes" e a bestificação da comunicação
Ontem circulou pela internet uma campanha intitulada:
"MOVIMENTO PELA REFORMA DOS DIREITOS"
Foi criada uma FanPage, uma Petição e instalado um Outdoor ( em Curitiba ) explicando os porquês da campanha existir:
POR QUE LUTAMOS PELO FIM DOS PRIVILÉGIOS PARA DEFICIENTES
"Antes de falarmos sobre a gente, pense num exemplo que você já deve ter vivido.
Você fica meia hora dentro de um estacionamento de shopping procurando um lugar pra estacionar e não acha uma vaga livre. Aí, você passa por aquele monte de vagas com um símbolo azul no chão, todas esperando pra serem ocupadas.
Mas não, você não pode! É daquele deficiente que nem vai usar! Aí, passa mais uma hora e a vaga está lá, sem ninguém pra ocupar. E a sua vaga, cadê? E o seu direito?
Você não está prejudicando ninguém, mas não dá pra pegar aquela vaga ali, não é seu direito!
E quando você está num supermercado lotado e aquela fila pra deficientes ali, livre, esperando, mas que não pode ser usada?
Eles têm privilégio pra tudo. É meia-entrada, desconto, isenção, fila especial, banco especial no ônibus, banheiro especial, tratamento VIP pra tudo. E essa história de lei de cota, que garante vaga em universidade, mercado de trabalho, concursos? E a gente que concorre e batalha por tudo, não tem nada de especial?
E quando tudo no seu trabalho muda por causa de um deficiente só? Gastam muito pra adaptar o lugar, mas aquele aumento prometido há dois anos não sai.
Fala a verdade, dá raiva, né?!
É hora de dar um basta nisso!
Agora eu vou ter que ser prejudicado porque não tenho nenhum problema? Já pensou se a gente criasse privilégio pra cada tipo de doença?
Acreditamos que todo mundo nasce com os mesmos direitos. Inclusive nós, pessoas normais. Eu não tenho culpa de nascer normal, sem nenhuma deficiência. Você também não. Então, por que somos castigados por essa legislação?
Nós também temos nossos direitos. E vamos lutar por todos eles.
Se você concorda com a gente, entre nessa luta, e vamos juntos acabar com esses privilégios, que só nos prejudicam para favorecer os deficientes."
Seguido de imagens como:
Isso gerou uma reação imediata nas mídias sociais. Muitas pessoas falando sobre o ABSURDO que essa campanha defende. Sob argumentação rasa e desproporcional. Ontem mesmo, havia um número elevado de debates levantando a "lebre" de que fosse uma ação publicitária.
Eis que hoje:
"Outdoor que despertou revolta na internet é uma ação da agência Competence para o Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência de Curitiba, para alertar a população sobre a luta diária que os deficientes enfrentam" *
"Olá eu sou a Mirella Prosdocimo, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos de Pessoas com deficiência.
Nós sabemos que vocês ficaram chocados com as reivindicações feitas pelo movimento. E esse choque, é o nosso alívio. O desrespeito que aconteceu na internet durou só um dia, mas as pessoas com deficiência enfrentam essa afronta todos os dias. Esperamos que cada um que se revoltou, na internet, seja uma VOZ REAL na luta pelos nossos direitos. Que não se calem ao ver uma pessoa com deficiência sendo desrespeitada ou discriminada.”
OI?!?
Particularmente vim dizer algo sobre essa "brilhante" campanha.
- Qual a intenção da campanha? Eu realmente não consigo entender que sentido faz, despertar nas pessoas indignação e inconformismo serve para alertar e tornar mais clara a necessidade de se resguardar os direitos de quem quer que seja. Veja bem, reforço de reflexo NEGATIVO para estimular atitudes positivas nas pessoas? Oi?
- "Tudo valor a pena...": será mesmo? Vi relatos de pessoas portadoras de deficiência que se sentiram ofendidas com a linha editorial adotada pela Campanha e tenho ABSOLUTA CONVICÇÃO que essa sensação não irá "magicamente" se transformar a partir da "INTENÇÃO" revelada agora.
- No Faceboook: fiz um comentário no vídeo que anuncia a "ação social" e foi respondida. Vejam isso:
Essa "campanha" me fez lembrar um dos temas que vira e mexe surge nas mídias sociais:
VALE TUDO NA INTERNET?
Considero complicado. E esse foi um "infeliz" exemplo de como a ações de publicidade podem gerar movimentos altamentes NEGATIVOS.
Não acredito em "bestificação" comunicada. Não agrega valor algum as minhas reflexões.
Menos pessoal.... bem menos.
A Camila Trajano Rocha, explica direitinho quanto GRAVE é essa "bestificação". Ela gravou este vídeo quando ainda não sabia que se tratava de uma "ação social" (???????)
É grave demais! Reflitam...
Abraços, Tatti...
Tatti Maeda | Digital Marketing Consulting | Consultora, Palestrante [ Social Media e Inovação Digital ] , Content Marketing , #mãecomfilho apaixonada, sendo a mulher que desejo ser!
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* AdNews contribuiu na elaboração deste texto.
Publicitário e Analista de Mídias Sociais na Complemento Comunicação e Marketing
9 aTatti, confesso que a princípio, havia gostado da reviravolta, assim como muitas pessoas. Mas lendo o seu texto, seus argumentos, vendo este vídeo e o texto dos posts que haviam sido feitos (achei que tinha sido só o Outdoor), eu achei BIZARRO. Principalmente porque é como se eles despertassem todos os pensamentos absurdos dos seres que os tem e guardam pra si (e vendo a campanha, sentindo que estão certos) e daí pegam esses pensamentos e joga pro mundo. Pode até mesmo despertar esses pensamentos em quem não tinha parado pra pensar nisso, gerando mais absurdos, criando monstrinhos. O que você disse sobre não mudar nada é verdade. Não tem uma ação conjunta, é só "reflexão". Eu tinha achado que estava tudo ok, já que quem revelou a ação foi uma pessoa engajada na luta e vários deficientes aparecem no vídeo. Depois que eu vejo deficientes totalmente frustrados (mais do que já se frustram no cotidiano com a total incompetência urbana e social em integrá-los) me deu um aperto no coração. Isso não se faz, deveria ter uma retratação, uma ação positiva válida e não apenas ignorar, deixar ficar no passado que depois esquece, como geralmente é feito na mídia. Parabéns pela sua reflexão e obrigado por compartilhá-la.
Jornalista • Consultora • Palestrante Internacional • Escritora • Comunicação Digital para Igrejas (2007) • Mestranda em Linguagens
9 aNossa, passei o dia OFF ontem e não estava sabendo desta situação, estou em choque. Quantos deficientes se sentiram injustiçados e agredidos? Comecei a passar mal quando vi a campanha. Não como profissional de Comunicação, como pessoa mesmo. Minha cunhada é deficiente física. Já cansei de presenciar os direitos dela serem desrespeitados. Quantas pessoas impactadas pelo 1º momento da campanha não serão no 2º? Fico aqui pensando em qual é o limite? Essa necessidade de chamar atenção ou de fazer uma campanha que garanta algum tipo de prêmio. Não sei se já viram aquela pegadinha do Canal Boom no YouTube em que um cara estaciona na vaga de deficiente e tem o carro todo plotado de Post It. Foi sensacional. Se não me engano a ação foi em Curitiba. Muito mais eficiente que uma campanha dessa. Tatti, mais uma vez, parabéns pelo excelente texto e por trazer uma reflexão tão relevante não apenas para a sociedade, mas, para a publicidade.
🎯 Mentor de Negócios Digitais | Ajudo a transformar seu conhecimento em serviços e produtos digitais | Formando legiões de empreendedores IMBATÍVEIS
9 aAcho que esse pessoal está precisando ler meu artigo sobre ética, Tatti... rsrs.
Graduanda em Letras, Jornalista, mestre em Educação e especialista em Linguagem, Tecnologias e Ensino. Redatora e social media
9 aRealmente, essa campanha foi um equívoco. Não dá pra aproveitar nada. Lamentável. Tanto empenho de tantos para que os deficientes sejam respeitados e vem esse reforço negativo, inflamando os já revoltosos cidadãos.