Foco no negócio
Laerte Temple*
Joca e Zeca cresceram juntos, numa pequena cidade do Interior. Famílias amigas, ambas produtoras rurais, enviaram os filhos para a universidade, numa cidade grande vizinha, onde se formaram com um ano de diferença.
Joca, o mais velho, formou-se primeiro. Aprendeu técnicas de gestão, marketing, finanças e outras coisas que causavam admiração nos pais. Sem interesse no agronegócio, montou uma loja na rua principal. Zeca, no ano seguinte, seguiu o mesmo caminho. Mas as semelhanças pararam por aí.
A loja de Zeca prosperou com rapidez, enquanto a do Joca crescia lentamente. Joca observava o movimento da loja do amigo, do outro lado da rua, a poucos metros da sua. Inconformado com o bom desempenho do Zeca frente ao fraco movimento de sua loja, Joca vivia pensando no que fazer para não ficar para trás. Conversava com muitas pessoas e ficava horas observando o movimento na loja do Zeca. Por vezes o via na calçada, sorrindo e ajudando um cliente a colocar as compras no carro. Joca conversou com um consultor, colega de faculdade, que lhe sugeriu reunir-se formalmente com os empregados, para gerar ideias, mas fora da loja, para “tirar o pessoal da zona de conforto”.
Rosa, esposa do Joca, ciente do problema e observando sua indecisão, sugeriu que a reunião com os empregados para gerar as tais ideias fosse em sua casa, numa tarde de domingo. Preparou café, chá e uns quitutes, pegou seu tricô e ficou num cantinho observando tudo.
Quando solicitou ideias para melhorar o desempenho da loja, Joca ouviu de alguns empregados que eles já tinham feito várias sugestões. Porém, o sr. Joca nunca dava atenção e os empregados, preocupados, viam a loja do Zeca implantar várias daquelas mesmas sugestões com sucesso, enquanto Joca apenas observava o movimento da loja do amigo e nada fazia.
Joca, alheio ao que os empregados diziam, perguntou a todos: se as lojas são mais ou menos do mesmo tamanho e vendem produtos semelhantes, por que a loja do Zeca cresce muito e a minha pouco?
Rosa, ainda tricotando, disse: sabe qual é o problema Joca? O Zeca tem uma loja para se preocupar: a dele. Você se preocupa com duas. A sua e a dele. Pare de se preocupar com a loja dele e cuide da sua que tudo vai ficar bem.
É o que acontece em muitos profissionais e empreendedores. Acompanhar os concorrentes é salutar, para inteirar-se do ambiente de negócios. Porém, ao se preocupar em demasia com o sucesso alheio, muitas vezes deixamos de pavimentar a própria estrada para o sucesso.
*laertetemple.com.br