Mudanças inconsequente e suas consequências
Laerte Temple*
Leio e ouço há tempos, e também lecionei e palestrei muito sobre o tema “Mudanças”. No mundo dos negócios, a única constante, é a mudança.
Porém, mudança não se resume em mudar apenas por mudar. É preciso saber onde a empresa se encontra (sua situação no mercado), de onde veio (histórico evolutivo), como chegou até aqui (erros e acertos) e, principalmente, para onde vai (futuro da organização). Simples? Claro que não. Dependendo do porte da organização, de seu estágio atual de desenvolvimento e do escopo da mudança desejada, é trabalho para vários meses (ou anos).
Mas o que pode acontecer se alguém com poderes para deseja mudar os rumos de uma organização desconhece, ou simplesmente não dá a mínima, para o arcabouço teórico sobre o assunto? Criei um exemplo, fictício, porém inspirado em dezenas de casos consumados, no Brasil e no exterior.
Imagine uma empresa que tenha por hábito substituir periodicamente alguns executivos para “arejar” a administração. O escolhido é sempre “prata da casa” e o substituído passa a integrar o Conselho. Esse modelo é comum, e também uma forma de garantir a continuidade administrativa sem sobressaltos.
Agora imagine que o escolhido seja um “garoto rebelde”, alguém que acha que sabe e pode tudo. Ele (ou ela) pode promover alterações radicais em cargos chave e alguns substitutos, independente das qualificações, pouco ou nada têm a ver com o negócio. Mas são, igualmente, “garotos rebeldes”.
Bem, para coordenar o processo, buscam um renomado consultor, só que pouco ou nada dizem a ele e à equipe de executivos remanescente sobre o que desejam. O resultado disso? Reuniões estilo Torre de Babel, onde parece que todos falam línguas diferentes, pois ninguém se entende.
Algum tempo depois é provável que a mudança faça água. O consultor sai de cena, não sem antes receber um cheque com muitos zeros. Antigos e novos gestores não conseguem se entender. Cria-se o ambiente “nós e eles” e a tão propalada mudança de rumos se transforma em inanição, marasmo, atraso.
A hipótese acima é um exemplo fictício, mas encaixa-se bem em muitos processos de mudanças absolutamente desastrosos e que até já determinaram a queda, ou mesmo falência, de vários negócios.
Mudar é preciso, pois o ambiente muda a todo instante. Quando o ambiente muda, tudo muda. Porém, é preciso acompanhar os ventos da mudança e agir na hora certa, do jeito certo e no rumo certo. Isso não é trabalho para amadores. Muito menos para garotos rebeldes. O ambiente de negócio no qual vivemos hoje não admite erros graves. Sempre cobra um alto preço.
*laertetemple.com.br