Fogo no Pantanal! Juntos podemos mudar esse retrato
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fogo no Pantanal! Juntos podemos mudar esse retrato

Por Daniela Teston – Diretora de Relações Corporativas no WWF-Brasil e Cyntia Cavalcante Santos – Líder da estratégia de Pantanal no WWF-Brasil 

Estamos estarrecidos acompanhando as notícias do fogo que consome o Pantanal e tudo que nele vive. Além dos eventos climáticos que agravam o período de seca do bioma, a redução da disponibilidade de água no Pantanal está ligada também a ações humanas, criminosas ou descuidadas, principalmente para manejo de atividade agropecuária, ligada à produção de commodities.  

Lançamos esta semana um estudo inédito que dá luz à situação que o Pantanal enfrenta. Desde 2019 o bioma passa pelo período mais seco das últimas quatro décadas e a tendência é que a pior crise hídrica seja em 2024. O que parece confirmar que estamos vendo apenas o início de uma temporada catastrófica de incêndios. 

O Pantanal não teve período de cheia este ano: no primeiro quadrimestre, quando deveria ocorrer o ápice das inundações, a média de área coberta por água foi menor que a do período de seca do ano passado. E as perspectivas futuras não são melhores, os resultados do estudo apontam para uma realidade preocupante: o bioma está cada vez mais seco, cada vez mais cedo, o que o torna mais vulnerável.  


Quais as consequências desta seca?  

Uma das áreas úmidas mais biodiversas do mundo ainda preservadas, o Pantanal é caracterizado justamente pelas cheias que ocorrem geralmente entre os meses de outubro e abril - a estação seca ocorre entre maio e setembro. Somente a área brasileira abriga uma enorme variedade de espécies: 3.500 plantas, 650 aves, 260 peixes, 124 mamíferos, 80 répteis e 60 anfíbios. 

Foto:


As principais nascentes da Bacia do Alto Paraguai (BAP), que abastecem a planície pantaneira, estão situadas na área mais alta, no Cerrado – atualmente uma paisagem extremamente devastada, conhecida como Cabeceiras do Pantanal, onde temos uma atuação integrada incansável para resiliência hídrica. 

A sucessão de anos com poucas cheias e secas extremas poderá mudar permanentemente o ecossistema do Pantanal, com consequências drásticas para a riqueza e a abundância de biodiversidade e o modo de vida das pessoas. Grandes impactos também são previstos na economia local, que depende da navegabilidade dos rios e das populações de peixes para as comunidades dependentes, da escassez de água nos campos de inundação onde uma grande diversidade da fauna se alimenta e espécies de plantas semi-aquáticas renovam seus ciclos. 

E se engana quem pensa que as consequências da destruição de ecossistemas são localizadas, precisamos sempre lembrar que está tudo conectado, além do avanço da destruição dos biomas vizinhos, Cerrado e Amazônia, representarem uma ameaça ao Pantanal. As cabeceiras do Pantanal, que estão no planalto da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai, por exemplo, são áreas prioritárias para a preservação e restauração do bioma, e elas estão no Cerrado, que conecta áreas bem importantes da Amazônia. E todos esses biomas vêm sendo sistematicamente desmatados. Nesta região do planalto, 58% da vegetação nativa foi suprimida e o avanço da agricultura já ultrapassa 47% nos últimos 10 anos. A rapidez na conversão das áreas nativas para plantio impacta o solo, acelerando o processo de sedimentação. Esse impacto causa consequências em cadeia: a diminuição ou falta de água em seu fluxo natural, por causa da degradação das nascentes, os rios na planície assoreados devido à condução de quantidades muito maiores de sedimentos, as alterações nos ecossistemas modificando a variedade e presença de espécies de plantas e animais, adaptados à planície há centenas de anos, e o impacto direto e indireto nas atividades econômicas neste território, como a pesca, o turismo e a pecuária. 

Foto: Fernando Donasci / MMA


Juntos é possível solucionar! 

Na Nota Técnica, os autores destacam a necessidade de Soluções Baseadas na Natureza e ações de prevenção e adaptação a eventos extremos no Pantanal, especialmente secas e altas temperaturas, para evitar danos socioambientais permanentes. As principais recomendações são: 

  • Mapear ameaças aos corpos hídricos, especialmente nas Cabeceiras do Pantanal. 

  • Fortalecer políticas públicas contra o desmatamento e barrar retrocessos. 

  • Restaurar Áreas de Proteção Permanente (APP) nas cabeceiras para melhorar a infiltração da água e reduzir erosão e assoreamento, aumentando a qualidade e quantidade de água. 

  • Valorizar comunidades, proprietários e setores produtivos que adotam boas práticas e ações sustentáveis. 

O Pantanal é um patrimônio que precisamos conservar, por sua importância para o modo de vida das pessoas e para a manutenção da biodiversidade. Já parou para pensar sobre o quanto o seu negócio ou cadeia de suprimentos pode estar contribuindo para que esse cenário se agrave? É fundamental fazer essa avaliação e tomar ações para regenerar o Pantanal, temos apoiado empresas nessa jornada de implementar cadeias livres de desmatamento e restaurar áreas degradadas, estruturando cadeias da restauração que se mantenham em longo prazo. Assim, juntos com empresas podemos deixar uma marca positiva e quem sabe mudar o curso do desolador cenário previsto e já em curso no Pantanal.  

Confira a Nota Técnica: Alerta precoce para mitigar impactos da seca no Pantanal e entenda melhor os achados do estudo.  

Saiba como ser uma empresa parceira do WWF-Brasil e apoiar as ações emergenciais de controle do fogo no Pantanal. Entrando em contato conosco pelo e-mail empresas@wwf.org.br. Juntos é possível!   

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos