A força dos 100 dias
São 100 dias de distanciamento social, dias pensando e agindo querendo o bem do todo, como fui aprendendo com a criação da minha família.
São 100 dias querendo não romantizar esse vírus que assola o mundo, mas aproveitando o tempo para cuidar melhor de mim, do meu psicológico, das minhas plantas, das paredes da minha casa, dos meus livros, dos podcasts melhores selecionados, das músicas que fazem a alma dançar.
São 100 dias conseguindo me aproximar de gente que os afazeres cotidianos e a displicência se empenhavam em querer afastar. Foi nesse tempo que pude resgatar o gosto por escutar ativamente os sons da cidade, o som do vento, dos pássaros.
São 100 dias de receitas novas e daquelas que me levam diretamente para os braços de minha família, especificamente de minha mãe e minha avó materna. É (quase) aquele baião saboroso, aquele leite com achocolatado na temperatura perfeita, aquele cuscuz com ovo cuja manteiga derrete e café como lanche da tarde assistindo televisão.
São 100 dias de silêncio e barulho. Muito silêncio e muito barulho. Silêncio do coração pulsante, vibrante, mas muitas vozes da alma, dos ventos.
São 100 dias de crença em mais 100 dias melhores, em pessoas mais comprometidas com o coletivo, de uma força colaborativa, de mais comunicação com os olhares, de mais empatia. Não de todos, mas da maioria. Sim, da maioria!
São 100 dias desse período que não é o novo normal, como muitos e muitas dizem, mas de um período temporário. Que pode, sim, ser muito mais longo que isso, mas que é temporário, assim como as lágrimas que surgiram nesse período, como os apertos no coração. E se foram.
São 100 dias pensando em quem não teve o privilégio de trabalhar de casa e foi prejudicado e prejudicada pelos cortes de salário. 100 dias pensando em quem perdeu pessoas próximas queridas. E emanando energia positiva através de um abraço espacial.
São 100 dias pensando em como uma parte da elite brasileira comprova sua falta de empatia, de uma experiência em circularidade, em não compreender a importância de uma ciranda de roda, de uma dança coletiva. Desapontado, mas não surpreso.
São 100 dias emanando energia para que o romantismo possa estar quando for possível abraçar para compensar o tempo, não perdido, mas reflexivo. Dias para sentir o aconchego daquelxs que aquecem nossos corações, independente da temperatura lá fora.
Foram 100 dias pensando, emanando, sentindo, chorando, sorrindo, dançando, cozinhando, conversando, chamando, limpando, sujando, lavando (muita louça!), levantando, espreguiçando, cantando, falando, teclando, projetando. Acreditando, assim como a minha criação me moldou.
Vai passar e, quem puder, continua em casa.
P.S.¹: Ah... Ninguém está e nem precisa estar só. Caso alguém queira conversar sobre absolutamente qualquer coisa, desde o Paradoxo de Bootstrap (obeigado, Dark), até como fazer um ovo frito perfeito, estarei por aqui. Sempre. :)
P.S.²: Se você acha que um texto extremamente pessoal não deve fazer parte de uma plataforma de conteúdo profissional, você precisa valorizar mais as competências comportamentais das pessoas. ;)
Gerente de Mercado - Grupo de Comunicação O POVO
4 aMuito bom David Varelo ! Parabéns pelas belas palavras!
Psicoterapeuta
4 aQue sensível seu texto, David! Verbalizou muito do que sinto, obrigada!