As fundações profundas padecem.

Seu Moraes, era seu nome. Operador de bate-estaca veterano da Protendit, no começo da década de oitenta. Ele me falava orgulhosamente do seu pioneirismo em protensão citando mestres da geotécnica e da tecnologia do concreto. Um desvio na bacia não o incomodava porquanto se mantivesse sentado na bandeja metálica que lhe servia de banco no bate-estaca. Durante a jornada, falava de Golombek e de Vasconcelos – um geotécnico e um tecnologista influentes na disciplina por décadas - e das maravilhas das estacas protendidas, a grande novidade. A Scac, outra fabricante de estacas, não deixava por menos, já as produzia em concreto centrifugado. Agora, Seu Moraes tinha planos de evoluir para os modernos equipamentos de perfuração que chegavam ao mercado de fundação. Era tempo de progredir e na área da tecnologia do concreto, aqui era o lugar certo. Depois, fui encontrá-lo já aposentado e orgulhoso, falando de suas duas atividades pioneiras.

O setor de fundações sempre foi o mais evoluído da construção civil. Muito cedo, as empresas do ramo perceberam que a substituição de trabalho braçal pela implantação de equipamentos cada vez mais tecnológicos é fundamental. Hoje, este é o diferencial competitivo no setor que só avança, embora a realidade recessiva.

Neste cenário de avanços, tudo evoluiu, mas a NBR 6122 manteve as especificações dos concretos de fundações inalteradas por muito tempo e hoje ele é inadequado para o serviço que se pretende executar, adulterado em sua grande parte, problemático e gerador de baixa produtividade. De tudo, entretanto, o que mais preocupa é a frequência das patologias relacionadas à viscosidade do concreto, com a formação de grandes inclusões hidráulicas.

Eu reconheço os riscos das atuações do geotécnico e do executor das fundações ao lidar com o solo, material cujas características são completamente heterogêneas e incontroláveis, cercadas de dúvidas e incertezas, e por isso,

Não vejo como admissível o concreto também se qualificar como incerto e contribuir somando dúvidas e inseguranças. O concreto e a armadura constituem os únicos elementos previsíveis do serviço de fundação. E assim tem que ser!

Infelizmente, a frequência de falhas de concretagem no preenchimento dos elementos das fundações profundas é alarmante e ocorre exclusivamente pela especificação inadequada do concreto, que é aquele recomendado pela norma.

Para obter um concreto denso com baixa permeabilidade e durável, adequado para fundações profundas, exigem-se comportamento reológico distinto em relação à viscosidade e ao tempo de retenção de slump. Durante o processo de lançamento com tremonha, o concreto fresco deve deslocar o fluido de perfuração, passar através das estreitas aberturas da gaiola de armadura, preencher todos os vazios e nivelar-se para garantir a completa e perfeita ocupação da trincheira ou furo. Por isso, deve ser autonivelante para evitar inclusões hidráulicas como mostrado na figura (Figura 1), e autoadensável para garantir densidade e permeabilidade ideais. Com o desenvolvimento de avançados aditivos de reologia na última década, a moderna tecnologia de concreto oferece oportunidades para alcançar critérios de desempenho e durabilidade que pareciam impossíveis no passado.

Este concreto autoadensável é orientado pela “NBR 15823 - Concreto autoadensável” e quando traz as informações necessárias sobre o tempo de pega e o tamanho máximo de agregado, resolve o problema do setor e o coloca na dianteira tecnológica do mercado outra vez.

Somos todos "Seu Moraes"!