Futebol, religião e política não se discute!

No Brasil existem alguns assuntos que, de tão sagrados, jamais devem ser discutidos, sob pena de você se tornar o chato da turma. São os mais comuns: futebol, religião e política. Mas porquê?

Entendo quando falamos que futebol não se discute. Envolve paixão – e a paixão não pode ser discutida. Aceitamos comentar erros e acertos, mas como filho, não importa o quanto erre, jamais vamos deixar de amar. Jamais vamos deixar de torcer...

A religião também é compreensível que não se discuta. Afinal, o que é a fé se não a certeza das coisas que não se veem. E como discutir a certeza sobre o invisível? As pessoas podem criar suas próprias religiões, misturar parte das crenças de cada uma como melhor convir (fato bem comum recentemente...).

Mas e a política: por que cargas d'água não devemos discuti-la?

Bem, vamos entender por que não discutimos: pois ela se tornou uma mistura de futebol e religião – envolvendo paixão e a crença no invisível. O partido político se tornou uma camisa de futebol, algo do qual eu me orgulho quando ganha e me envergonho quando perde. Reúno a família em torno da TV acompanhando a apuração dos votos, da mesma forma que faço quando meu time joga. Ah, tem comemoração e cerveja se ganharmos e tem tristeza e melancolia se perdermos, com direito inclusive a revanche. Lá mesmo já começamos a falar da estratégia para ganhar na próxima. Além disso, temos o lado religioso: nossa fé no partido independe dos acontecimentos passados e vindouros. É como “eu escolhi acreditar”. Eu escolhi um partido, não me importa a qualidade do governo, eu jamais vou deixar minha fé desanimar – é apenas mais uma provação divina que devo vencer. As acusações? São obras do inimigo!

Posto como as coisas ficaram, sobre a pergunta: por que não devemos discutir política? A resposta é: nós deveríamos. Os únicos beneficiados com nossa repúdia e vontade de não nos aprofundarmos no assunto são eles, os (piores) políticos.