Futuro da Tecnologia #1 - Liberdade e Controle
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Futuro da Tecnologia #1 - Liberdade e Controle

Como um apaixonado por tecnologia, um tema que sempre me dedico a desenvolver e refletir é sobre o futuro da sociedade considerando novos habilitadores gerados pelo desenvolvimento tecnológico.

E um dos mergulhos que planejei para 2018 é cultura cyberpunk. Cyberpunk é um sub-gênero de ficção científica com características bem específicas e marcantes: "alta tecnologia e baixa qualidade de vida". Um mundo distópico onde a vida cotidiana é impactada por uma drástica mudança causada pelos avanços tecnológicos, criando possibilidades antes pouco imagináveis, ao mesmo tempo permitindo uma polarização ainda maior de poder e percepção de liberdade.

"When you want to know how things really work, study them when they're coming apart" - William Gibson

Apesar de possuir certas características bem marcantes, cada mundo criado em um cenário cyberpunk possui sua própria identidade e complexidades. As sociedades e seus personagens criados pelos melhores autores que produzem sua arte nesse tema, são poderosas fontes para o pensamento sobre cenários futuros impactados pelo desenvolvimento da humanidade em relação à ciência e tecnologia. Assim como a mitologia grega é uma rica fonte de arquétipos para construção de teorias em áreas como a psicologia, cultura cyberpunk pode ser utilizada pelos futuristas para gerar insights em suas construções de cenários.

E uma construção de mundo que me surpreende bastante é a do anime Psycho-Pass. Produzido em 2012, a história acontece em um mundo fictício onde existe um sistema chamado Sibyl, responsável por gerenciar e sinalizar questões relacionadas a segurança pública. Esse sistema faz uma analise e atribui um score para cada cidadão baseado em seu comportamento, gerando um número individual chamado de psycho-pass e que é considerado como medida oficial sobre seu nível de cidadania e saúde mental.

Nos scores abaixo de 100, o suspeito não é considerado alvo de ação policial e o gatilho da Dominator permanece travado. Já entre 100 e 299, o suspeito é considerado um criminoso latente e deve ser retido e submetido a algum tipo de tratamento, enquanto a arma ativa o seu modo de tiros paralisantes e não letais. De 300 para cima, o suspeito é considerado um criminoso perigoso e deverá ser eliminado, possibilitando que a Dominator assuma sua forma letal.

Apesar de estar falando até o momento de um desenho animado japonês, muitas coisas no mundo real irão acontecer de maneira semelhante ou análoga no que vemos nesses mundos de ficção. E o que mais me chamou atenção em Psycho-Pass é que o anime trata de um tema que aos poucos está se materializando em realidade na China.

A China em 2017 implementou um projeto chamado Skynet (a arte imita a vida e a vida imita a arte) onde 20 milhões de câmeras de segurança foram implementadas nas ruas. Isso significa uma câmera lhe vigiando a cada passo, em cada esquina e cada rua. O sistema que comanda todas essas câmeras pode escanear até 3 bilhões de pessoas por segundo, identificar 40 traços faciais diferentes, independente do ângulo ou iluminação e identificar pessoas com acuracidade de 99,8% [1]. E de acordo com objetivos do governo chinês, esse sistema deverá apresentar, até 2020, "cobertura global, compartilhamento em toda a rede, disponibilidade em tempo integral e controle total" [2].

Alguns policiais da China já utilizam smart glasses para escanear os cidadãos e analisar seu registro em bases de dados do governo. Nos próximos anos os chineses pretendem atribuir um score numérico para cada cidadão (social credit system). E esse seu score poderá banir você e seus filhos das melhores escolas e empregos ou também impedir que tenha acesso a alguns serviços de maior qualidade como a velocidade da sua internet e viagens para determinados lugares, hotéis ou com passagens aéreas. Enquanto um bom score lhe dará condições e facilidades que apenas os cidadãos considerados exemplos terão acesso.

AI scored meritocracy: better life or worse? - ShadrachSmith

Muitas outras obras de ficção, consideradas cyberpunks ou variações de estilo com bastante semelhanças, trazem vários insights sobre como funcionaria a vida das pessoas e a sociedade nesse futuro que estamos cada vez mais próximos com o desenvolvimento tecnológico acelerado que passamos . Para quem é mais de seriados ficam também duas outras indicações: Person of Interest da CBS e Black Mirror da Netflix.

Camila Betterelli Giuliano, PhD

Microfluidic Innovation Specialist at Microfluidics Innovation Center

6 a

Eu li o 1984 faz pouco tempo e ainda estou tentando digerir o livro, mas os insights que ele traz de como a tecnologia (ainda rudimentar se pensarmos no que temos hoje) pode ser usada para acabar com a liberdade realmente fazem pensar. Outro ponto que você trouxe, sobre a tecnologia na China, me fez pensar. Uma das nossas startups trabalha com reconhecimento de expressões faciais e o CEO me disse uma vez que, se tratando de rostos, quanto maior o banco de dados menos acurado ele fica, pois os rostos humanos diferem muito pouco do ponto de vista de algoritmos. Fico pensando como deve ser a tecnologia que a China está usando para ser capaz de processar tanto dado em tão pouco tempo e ainda ter os resultados corretos.

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