Tecnologia, Inovação e Impacto
Quando era criança, meu sonho era ser cientista. Em 2007 entrei para o bacharelado em Bioquímica na UFV e depois de três anos me aproveitando ao máximo das experiências na bancada de laboratório, realizando e acompanhando experimentos de engenharia genética e protótipos vacinais, para mim ser cientista era muito mais do que se fechar na academia. Essa foi a primeira das várias vezes que entendi que um sonho nem sempre se materializa da forma que imaginamos, e muitas vezes esse sonho cai para dar lugar à uma missão.
Em 2010 entendi que a jornada da Ciência e da Tecnologia não fazia sentido sem a jornada da Inovação e do Empreendedorismo e, então, resolvi sair da minha Torre de Marfim. Ficava cada vez mais claro que o cientista havia se isolado e perdido contato com um mundo precioso de ideias e informações que estava do lado de fora.
Apesar de ter participado de um grupo de pesquisa muito engajado com o mercado e que estava se desenvolvendo cada vez mais para fazer parcerias externas ao ambiente acadêmico, via que transformar o mundo e criar soluções que impactassem o lado de fora do laboratório era uma preocupação de poucos - mais como uma consequência positiva do que uma missão a ser perseguida. Resolvi então que era hora de iniciar uma outra jornada, não paralela, não oposta, mas que me levaria aonde eu queria chegar desde o início, por um caminho diferente.
“Tu julgarás a ti mesmo – respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.
Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar – replicou o princepezinho. Não preciso, para isso, ficar morando aqui.” – Antoine Saint-Exupére in: O Pequeno Príncipe
Desde então iniciei a minha versão de A Viagem do Beagle - quando Charles Darwin saiu para explorar o mundo e conhecer as diferentes formas de vida para depois construir sua Teoria da Evolução. Fui visitar os diferentes atores desse ecossistema de inovação e empreendedorismo. Entender como pensavam as grandes empresas, as startups, as aceleradoras e incubadoras. Aprender sobre eles, no planeta de cada um, trabalhando junto.
Oito anos depois me deparo com um tema novo e que, pela limitação do meu próprio conhecimento, não constava na minha lista inicial de diversidade do ecossistema. Um nome que sempre deveria estar no meu planejamento de conhecer esse mundo, para voltar um dia para o laboratório sendo um cientista do jeito que eu sonhava quando era criança. Um cientista que se conectava e entendia as demandas do mundo, e que fazia seus experimentos para melhorar a vida das pessoas e resolver problemas que pareciam impossíveis para a sociedade.
A convite da Wylinka, depois de alguns projetos em parceria no ano passado, comecei a atuar efetivamente como parte da organização nesse ano de 2018. E um dos primeiros temas que me aprofundei foi o de finanças e negócios de impacto. Alguns meses depois de muito estudo, participação nos maiores eventos do país sobre o tema e conversando e ouvindo alguns dos principais atores desse assunto no Brasil e no mundo, posso dizer uma coisa: impacto é a palavra que nunca deveria faltar nessa trajetória que une a ciência e tecnologia com a inovação e o empreendedorismo.
Nós da Wylinka estamos finalizando um estudo sobre o ecossistema de finanças e negócios de impacto para desenvolvermos melhor nossas iniciativas e ambições. Queremos alavancar a maneira como nossa própria organização gera impacto positivo, na realização da nossa missão de desenvolver instituições e ecossistemas através da inovação e do empreendedorismo; e também entendermos como podemos potencializar ainda mais nossos projetos onde buscamos apoiar, facilitar ou acelerar o desenvolvimento dessas organizações e ecossistemas através da construção ou execução de projetos, programas e agendas de capacitação nos pilares de tecnologia, inovação e empreendedorismo.
Entendemos que impacto é uma palavra-chave também para o mundo de ciência, tecnologia e inovação. Muitas empresas de base tecnológica geram impacto ou poderiam gerar e não sabem como. Falta ainda maior sinergia desse ecossistema com o de impacto, para que as organizações saibam direcionar suas estratégias para colaborarem ainda mais na solução de problemas sociais e ambientais. Nas palavras do próprio BNDES, em um dos eventos que participamos esse ano, diversas empresas do seu portfólio poderiam ganhar muito ao construírem e desenvolverem sua tese de impacto, da mesma forma que trabalham o seu modelo de negócio. Narrativa que se repete também em outros exemplos.
Da mesma forma, também vemos os investidores e negócios de impacto com grande potencial para se apropriarem mais de ferramentas de inovação, tecnologia e empreendedorismo para ampliarem o impacto que já geram. Vimos que a inovação tecnológica, por exemplo, pode ajudar a viabilizar que toda uma cadeia em torno de um problema social ou ambiental possa ser alavancada, ganhando escala e diferencial em busca da resolução desse desafio.
E um dos meus maiores aprendizados pessoais: todo empreendimento deveria ser pensado para maximizar o impacto positivo que ele é capaz de gerar - mesmo que não seja sua missão principal. É uma demanda urgente que as empresas hoje se tornem mais conscientes.
“Uniqueness, Impact, and Magic” - Joe Ito MIT Media Lab
Vivemos hoje uma era muito clara onde inovar é preciso para sobreviver no mercado. Mas a medida que o consumidor se torna cada vez mais consciente, a consciência das empresas passa a ser não mais um diferencial, mas uma linha de base. Em breve o mercado buscará apenas por empresas que se preocupem com o impacto que geram, que minimizem tudo o que é negativo e potencializem tudo o que é positivo. Que saibam trazer o impacto como parte de suas estratégias. E que consigam comunicar tudo isso com clareza e transparência.
Uma metáfora do mundo da biologia que gosto bastante é o "Efeito da Rainha Vermelha". A Rainha Vermelha é um personagem de Lewis Carroll (autor de "Alice no País das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho") que em uma parte da história, está correndo de mãos dadas com a Alice. Enquanto a rainha gritava "Mais rápido! Mais rápido!", tudo que Alice conseguia fazer era tentar acompanhá-la, já sem folego, ao tempo que notava que as árvores e todo o cenário não saiam do lugar e estavam a acompanhando.
“Bem, em meu país,”, disse Alice, ainda ofegante, “você normalmente chegaria a um outro lugar – se você corresse muito rápido por muito tempo, como nós corremos”.
“Um país do tipo lento – disse a Rainha Vermelha. Agora aqui, veja bem, é preciso toda a velocidade que você tiver para permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir além, terá de correr no mínimo duas vezes mais rápido!”
Essa metáfora foi originalmente proposta pelo biólogo evolucionário Leigh Van Valen em 1973. E tratava do efeito onde espécies que compartilhavam o mesmo ecossistema, evoluíam em paralelo. Uma espécie poderia estar evoluindo e, mesmo assim, pouco notar o efeito da sua evolução em relação ao ecossistema, uma vez que todos ali estão evoluindo também. Ou seja, era preciso evoluir a uma taxa constante unicamente para se manter ali. Para sair do lugar, era preciso evoluir duas vezes mais. Um paralelo muito interessante para o mundo da inovação, onde temos hoje um mercado competitivo, onde todos estão inovando. Para sair do lugar e se destacar é preciso ir além.
Depois da evolução das espécies e da inovação, minha perspectiva é que impacto seja a nova palavra para o Efeito da Rainha Vermelha. Teremos um mercado competitivo ao ponto de que todas as organizações já praticam estratégias de impacto positivo. Assim como no caso da rainha e da Alice, impacto positivo será um direcionador de base e que deverá ser contemplado por todas as organizações. Não para se diferenciarem ou serem mais competitivas, mas apenas para continuarem existindo.
Em breve teremos novidades sobre o estudo e iremos publicar o nosso ponto de vista como Wylinka sobre esse ecossistema e como acreditamos que inovação e tecnologia pode alavancar ainda mais o impacto.
Por enquanto, já demos uma palhinha de alguns conceitos principais desse ecossistema nesse vídeo que está em nosso Facebook.
Quer saber mais sobre a Wylinka, é só nos acompanhar em nossos canais:
Site oficial - Entenda melhor nossa atuação, projetos já realizados e acesse o nosso relatório de atividades.
Mailing da Wylinka - Para quem quer receber nossa curadoria de conteúdo sobre inovação e empreendedorismo no seu e-mail.
DEEP - Nossa plataforma de conhecimento com o objetivo de estimular o desenvolvimento de ecossistemas de empreendedorismo e inovação por meio de conteúdos relevantes.
Microfluidic Innovation Specialist at Microfluidics Innovation Center
6 aMuito legal, Mikael! Tenho cruzado com esse tema de impacto na inovação com cada vez mais frequência, acho que isso é um ótimo sinal para atingir o ecossistema de equilíbrio, onde o baseline é impacto, que você fala no texto.