Gente estranha e parecida
Foto: Pedro Kirilos

Gente estranha e parecida

O prédio em que morei há alguns anos tem menos apartamentos, mas uma estrutura muito semelhante ao Edifício Master, por fora e por dentro dos apartamentos. Pequenos cômodos multiplicados em centenas de portas distribuídas em corredores fundos. 

Sobre meus ex-vizinhos acho que sei muito menos do que pude ter ideia sobre os que viviam (ou ainda vivem) no conhecido edifício de Copacabana. E a "ideia" aqui vem proposital mesmo, no sentido de imaginar como seja, pois ainda tendo esbarrado (ou sido) com gente bem parecida, existem figuras que eu não reconheço e estranho. E é daí que entendi que sai o conflito do reboliço entre familiar e exótico, em que a gente vê e torce o nariz, volta e tenta traduzir. 

Coutinho, sem querer ou não, nos deu a oportunidade de ir a campo a cada porta que ele bateu, exercitando o ir e vir da atividade antropológica. Ouvindo as histórias de cada morador, a gente começa a entender e encontrar semelhanças nas escolhas do porquê chegaram ali e também no que os fizeram ficar. O aluguel acessível parece uma prioridade a todos, mas a garota de programa de família pobre compartilha com a patricinha da zona sul de alguns andares abaixo motivos semelhantes como a maternidade solo e questões mal resolvidas com o pai. Assim como a gente não sabe quem mais sente vontade de largar o cubículo pra encontrar quem ama, se a senhora modelista ou a moça que espera pelo gringo. 

Desilusão, sonho, amor, aborto, morte, família une e separa os personagens reais, familiariza e exotiza pra gente que também vê, durante o filme todo. No final, um bando de gente que a gente estranha e se parece.

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