A geração de profissionais que não se encaixam

A geração de profissionais que não se encaixam

Dia desses me deparei com um meme no qual uma menininha tentava encaixar uma peça circular em um espaço quadrado, num desses brinquedos educativos para a primeira infância. Irritada com as inúmeras tentativas frustradas, ela simplesmente abre a caixa e guarda o brinquedo. Ela desiste.

Impossível não traçar um paralelo com a vivência da minha geração no mercado de trabalho. Convivo e observo diariamente jovens profissionais, entre seus 25 e 35 anos, tentando encaixar suas inquietas mentes circulares nas quadradas estruturas corporativas.

Grande parte dos profissionais chega às empresas saídos da efervescência do espírito crítico e da liberdade de ação conquistados na faculdade. Cheios de expectativas e anseios, esses jovens profissionais, muitas vezes, recebem um verdadeiro balde de água fria da realidade engessada de muitas culturas organizacionais.

Na era do conhecimento e da inovação, sabemos que liberdade e criatividade andam lado a lado. Algumas das empresas mais icônicas do mundo atual, como Google e Facebook, são reconhecidas pelo ambiente de trabalho amigável, flexibilidade de horários, menor rigidez hierárquica, multidisciplinaridade de equipes e incentivo ao ócio criativo. Mas essa não é a regra.

A maior parte dos ambientes corporativos é cercado de normas e paradigmas estabelecidos em um período no qual processos eram mais importantes do que experimentação e criação. E este cenário não faz muito sentido para o jovem da geração “porque sim não é resposta”.

Esse tipo de profissional, que aprecia o trabalho por seu poder transformador e deseja ter propósitos atendidos no exercício profissional diário, simplesmente se vê imerso em pequenos regulamentos diários que tolhem seus estímulos à criatividade.

A jornada de trabalho de oito horas diárias, por exemplo, foi uma regra estabelecida em um período produtivo no qual a criatividade era irrelevante, e a produtividade era baseada, basicamente, em velocidade e precisão. 

Numa realidade produtiva que deveria estimular a inovação, qual o sentido de permanecer sentado em frente a um computador por oito horas, sem estar de fato produzindo?

Algumas das melhores ideias que desenvolvi para os meus clientes surgiram na caminhada entre o ponto de ônibus e a porta da empresa. Ou na troca de opiniões em meio ao bate papo no horário do almoço. E por que não estimular esses momentos de ócio criativo como ferramentas de trabalho?

Enquadrar profissionais cheios de energia criativa em estruturas e processos criados para realidades produtivas totalmente diferentes da atual pode gerar impactos diários nas relações dentro das empresas. Não à toa, muitos jovens começam a sair de grandes empresas e empregos formais para procurar ocupações que “tragam felicidade”.

Cabe às empresas criar estruturas capazes de estimular esses jovens a trazer a felicidade para dentro do ambiente de trabalho. Com propósito, mais flexibilidade, estímulos à criatividade e menos regras sem sentido, esse jovem poderá sentir, finalmente, que se encaixa nessa realidade corporativa. Fácil não é, mas será que é possível?

Perfeito Camila. Estou à cima dessa faixa etária, mas eu sempre fui inquieta. Desde criança sempre fiz questão de me colocar, de me posicionar, de emitir minha opinião. Nunca gostei das formas pré-estabelecidas, pois tudo muda e o tempo todo e nós também mudamos e só existe uma chave para essa mudança, ou seja, nós! Daqui um ano farei 50 anos, de repente a metade ou um pouco mais da expectativa de vida no Brasil, mas ano passado virei à mesa, depois de um "convite" de transferência indesejada, me matriculei no vestibular da UNIP (TI) justamente para deixar de ter que ser mero encaixe em estruturas organizacionais obsoletas que ainda tratam colaboradores como peças de um grande tabuleiro. Nunca é tarde para reescrever a nossa história e a caneta deve sempre estar em nossas mãos.

Rafael Angeloni

Profissional de Marketing, Operações e Estratégia de Vendas

8 a

É isso! E indo além, acho que somos a geração que não quer se encaixar! Nossa individualidade é mais valiosa que qualquer forma-perfeita!

Muito bom! Estou na fase de sair de empregos formais para procurar o que me faz feliz. Com essa estrutura "atual", muitas vezes trocamos o certo pelo duvidoso.

Marina Prata Pereira

Diretora de Marketing Corporativo na Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda

8 a

Muito bom o seu texto!! Refleti, me identifiquei, identifiquei onde trabalho, refleti de novo, pensei, voltei, reli hehehehe. Parabéns! Acredito muito que enquanto algumas empresas não acreditarem q mudanças assim podem refletir no negócio em si, ficarão para trás

Kalil Blanco Spiandorim

Diretor de Transformação Digital - Comunicação Corporativa | Comunicação Integrada | Reputação | Pesquisa

8 a

Muito bom, Camila! Penso o mesmo sobre as restrições à criatividade e inovação (fazer melhor, não aquela disruptiva). Mas não acredito que os processos sejam o problema, pois eles, de certa forma, permitem que "caos" e "ordem" coexistam, afinal, independentemente do caminho tomado, os processos podem corrigir erros de percurso. É preciso mudar a cultura, eliminar a mentalidade da "segurança acima de tudo". Ela é a maior vilã, e o medo constante do estado da economia é o que a alimenta.

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