Gestão à brasileira e ‘compliance’:  Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço

Gestão à brasileira e ‘compliance’: Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço

Basta uma simples pesquisa em sites jurídicos para constatar o quanto uma parcela significativa de empresas brasileiras pratica irregularidades, habitualmente e de forma recorrente.

Dentre inúmeras outras irregularidades, elas não cumprem a lei para contratação de portadores de deficiências; sonegam Imposto de Renda; não pagam hora extra; praticam assédio moral frequentemente; contratam fornecedores que utilizam trabalho escravo; descumprem as legislações trabalhista e ambiental, somente para citar alguns dos delitos mais comuns.

Em ato contínuo, depois desse ‘mar de lama’ de práticas irregulares e de uma enxurrada de condenações, criam uma área de ‘compliance’ para expiar sua culpa. Temos conhecimento de várias empresas que tinham ‘compliance’ e estiveram envolvidas ‘até o pescoço’ em escândalos (JBS, Odebrecht, OAS, Petrobrás). E, não custa lembrar que o principal pilar do discurso de Eike Batista, um dos ex ídolos dos gestores, era ética e respeito à legislação.

Aviso aos navegantes: a época da esperteza está acabando.

Em primeiro lugar, todo mundo percebe quando sua área de ‘compliance’ é uma peça decorativa, montada somente ‘para inglês ver’. Além disso a economia globalizada vai, cada vez mais, expurgar os maus empresários.

Em segundo lugar, porém não menos importante, esse discurso raso e pueril de exigir que trabalhador vista a camisa da empresa, seja pro-ativo e tenha ‘pensamento de dono’, sem a respectiva contrapartida financeira, já está mais do que desmascarado. Ninguém mais cai nessa esparrela, as pessoas só fingem que concordam porque precisam do emprego, mas jamais serão aderentes a esse projeto, jamais.

Para avançar de fato, é necessário mudar o tal ‘mindset’ e praticar o que o que é pedido aos funcionários. Pensar fora da caixinha e mudar a prática. Respeitar a legislação e investir nos funcionários. Botar a área de RH para trabalhar de fato e criar políticas de ‘Job Enrichment’, ao invés de adotar práticas humilhantes, como dar lembrancinhas, bilhetinhos amorosos ou retratinhos de funcionários na parede enquanto a empresa pratica uma remuneração pífia com a justificativa de que paga o que é estipulado pelo mercado, enfim, é essencial criar planos de encarreiramento e pagar salários justos. Afinal, toda empresa obtém de retorno o que ela oferece, e essa é uma regra básica.

Essa é a verdadeira revolução para atingir um grau de excelência em gestão empresarial.

Todo o restante é falácia, pode até ganhar muitos ‘likes’ como discurso, enganar os incautos e fazer o gestor parecer moderninho, mas, certamente, jamais contará com a cumplicidade do trabalhador.

Prof. Fernando Santana fernandoads54@gmail.com

#compliance , #gestaoderh; #rh

Parabéns Professor Fernando Antônio de Santana. Na prática é isso mesmo. Gostaria de complementar ainda que, muitas empresas instituem um departamento de compliance que acaba não cumprindo o seu papel por falta de apoio da alta gestão. A troca de hábitos antigos por novos que estejam em compliance só será bem sucedida com o referido apoio. A cooperação dos stakeholders também é fundamental, compreendendo suas responsabilidades e colaborando para o crescimento sustentado das empresas.

José Eduardo Pereira Filho

Professor Universitário na Faculdades São José e FASC

4 a

Excelente conteúdo que nos leva a pensar sobre os nossos discursos e o que efetivamente executamos. No caso ilustrado, um descompasso total!

Erika Maria Camini De Conto

Apaixonada por conhecimento/Administradora/Pedagoga/ Gestora EAD/ Especialista em Vendas e em Educação

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Excelente, disse tudo! Destaco essa frase " [...] encara o funcionário de forma utilitarista, visando apenas o atingimento dos objetivos". Lamentável essa situação! Algumas empresa esquecem que o bem mais preciso delas é o CAPITAL HUMANO.

Tania Arouxa

Docente de Administración de Empresas en las Universidades: San Andres, UADE, Belgrano, UCES, CAECE y ISEGH. Socia fundadora del Instituto de idiomas Bossa Nova.

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A estratégia deveria ser fazer uma gestão focada nos stakeholders, mas não nos stakeholders que convenham. Todos os grupos de interesse precisam de atenção e apoio das empresas, e no final, eles terminam devolvendo os "benefícios" através do fortalecimento da marca e da imagem que elas conquistam. Por que insistem em fazer o contrário? Bom texto, Fernando, como sempre.

Fabiano Ribeiro

Contas Médicas I Recurso de Glosa l Sinistros l Saúde Petrobrás l MBA em Gestão

4 a

Aguardamos por dias melhores, e que Compliace, gestão de capital humano tornem-se uma prática e não fique somente como um bonito guia de códigos e regulamentos.

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