Gestão da Água: Rompendo Modelos
Um dos temas mais complexos para quem trabalha com água no Brasil hoje é a gestão hídrica. Perguntas aparentemente simples trazem grandes desafios, sejam para gerir melhor o maior manancial de água doce do mundo – que representa 12% do volume total –, sejam para administrar a costa marítima, que, se bem gerida, pode se tornar grande fornecedora de água dessalinizada.
O que tratar? Esse é o ponto inicial. Embora conhecido como País rico em águas, as mudanças climáticas combinadas com o adensamento populacional têm criado áreas onde essa água tratada já não é mais suficiente. É preciso identificar e trazer ao plano recursos que não eram levados em consideração até hoje. Água do mar, efluentes para reúso e fontes de mananciais antes poluídos devem ser tratados e somados em novo balanço hídrico. Esses recursos passam obrigatoriamente pela qualidade.
Como tratar? Trata-se do maior desafio. Se por um lado é óbvio que novas tecnologias, como tratamento com membranas, podem garantir a qualidade, por outro existe dificuldade enorme para superar a resistência ao novo. No que diz respeito aos investimentos, as análises são financeiras, mas deveriam ser econômicas. Análises econômicas consideram questões mais amplas e de longo prazo em que rentabilidade e lucratividade são mais relevantes.
Onde tratar? As questões geográficas – sejam de âmbito federal, estadual ou municipal – são muito complexas dadas as diferentes regulamentações, e geram limitações de investimentos. Inúmeras companhias de saneamento não conseguem ter o fluxo de caixa positivo, o que impede novos investimentos. A gestão sobre perda de água (pelas diversas formas, como roubo, vazamento nas tubulações, alta frequência de lavagem dos filtros de areia existentes) é primordial para garantir a receita das empresas, permitindo que elas invistam e melhorem as condições de saneamento.
Por fim, quando tratar? A palavra-chave é planejamento. Estatísticas demonstram que a seca de São Paulo em 2014-2015, que não acontecia havia cerca de 80 anos, se repetirá – mas em períodos curtos e em diferentes intensidades. Independentemente se vamos vivenciar ou não nova crise, sabemos que o futuro é incerto, mesmo com o legado positivo das próximas gerações. Se alguém, anos atrás, tivesse pensado nisso, talvez as crises enfrentadas em São Paulo e agora a do Nordeste teriam sido evitadas.
Chegou o momento de romper modelos antigos e criar nova gestão hídrica para garantir o futuro das próximas gerações e a busca de meio ambiente mais sustentável e mundo melhor.
Renato Giani Ramos
"artigo foi originalmente publicado pelo Diário do Grande ABC, no dia 10 de novembro de 2017"