Gestão de Pessoas e as Habilidades Socioemocionais
"Estamos em uma corrida maluca'. Acredito que vocês já ouviram essa frase inúmeras vezes, mas por mais clichê que possa ser, é a verdade. Ultrapassamos limites, deixando para trás algumas coisas que ainda importam e julgamos serem tomadoras de tempo. A busca incessante pela produtividade nos faz reféns de métodos alheios que muitas vezes não nos são favoráveis. O que na realidade foi bom, ou é bom para o outro, talvez não seja para você.
Trilhar o nosso próprio caminho tem sido tarefa diária e árdua. Estamos "olhando cegamente" para a meta a ser alcançada e esquecemos de curtir a jornada, com foco nos tombos e paradas para tomar fôlego. Apenas queremos mais e mais, e estamos morrendo por dentro.
Estamos esquecendo de olhar para nós mesmos e para os lados. Uma visão 360º só é possível no nosso mundo, se for para ganhar dinheiro a cada piscada. O erro se encontra aqui. Nas escolas, pelo menos no meu tempo, ainda havia Estudos Sociais. Esta era uma matéria que nos ensinava direitos e deveres, e as consequências de atitudes tomadas perante a sociedade. Depois de um tempo, nunca mais vi essa matéria em grade curricular alguma. Tudo virou comercializável, prostituído, digamos assim.
As escolas precisam adotar algumas posturas mais humanísticas e voltadas para o bem-estar social. Tudo começa pela base. Na educação infantil. Podemos até operar em outros momentos, com adolescentes, adultos, idosos, em qualquer fase da vida, mas o processo é mais completo quando começa lá debaixo. Ensinar aos pequenos que resultados são importantes, quando eles impactam positivamente. Mais exercícios, mais repetições, e mais testes, podem auxiliar em um boletim excepcional, mas não desenvolvem competências que lidam com os desafios atuais.
É preciso desenvolver as habilidades socioemocionais. E isso é possível dentro de um processo holístico, que envolve a educação e a participação ativa dos jovens em questões realmente importantes para a sociedade, o que desenvolve neles a responsabilidade de suas ações desde cedo. Controlar as emoções, demonstrar empatia, alcançar objetivos através do coletivo, manter relações sociais positivas, tomar decisões de maneira responsável, são meios de trabalhar essas habilidades.
Todo esse processo só é possível com trabalhos pedagógicos mais justos e que atendam as necessidades desses jovens. Trata-se de uma percepção de mundo melhor, de mudanças de paradigmas, abertura de conexões reais, e de colaborativismo. Isso tudo demanda tempo e trata-se de um processo incessante.
"Estudos estimam que até 65% das crianças que estão começando a escola hoje, depois de se formarem no ensino médio ou na faculdade, terão um emprego que ainda não existe."
O tema "Futuro do Trabalho" amplamente debatido no Fórum Econômico Mundial (2019), na Suíça, apontou que as crianças no futuro próximo, ingressarão em um emprego que ainda não existe. Acrescenta-se também que algumas terão mais de quatro carreiras profissionais ao longo da vida, tendo em vista a mudança efêmera dos cenários mercadológicos e das necessidades mundias.
Percebe-se, portanto, a importância de discutir o papel fundamental das habilidades socioemocionais. A Gestão de Pessoas começa da base, porém isso não quer dizer que não podemos começar a operacionalizar esse tipo de desenvolvimento de habilidades em faculdades, MBA's, empresas, etc. Pelo contrário, é necessário que medidas sejam tomadas e que as soft skills sejam trabalhadas em todos os âmbitos, esferas e idades.
O envelhecimento populacional é tendência. Os jovens são a nossa engrenagem principal no momento, mas é preciso criar situações de intrageracionalidade para que as gerações se conectem e desenvolvam em coautoria as habilidades socioemocionais.
"Em 2039 o número de idosos com mais de 65 anos superará o de crianças de até 14 anos, o que acelerará a trajetória de envelhecimento da população. Atualmente, a população com até 14 anos representa 21,3% dos brasileiros e cairá para 14,7% até 2060, segundo o IBGE."
Dados como esse causam sustos em primeira leitura, porém nos dá uma ideia de como o cenário brasileiro se encontrará em um futuro próximo. Os jovens tem a grande oportunidade de aplicar o que aprenderam nas escolas de maneira mais inclusiva e solidária, podendo realizar transformações sociais inimagináveis.
O que precisa ser feito está ao nosso alcance. Não podemos fechar os olhos para o "problema". A abertura para novas experiências, a extroversão, a amabilidade, a consciência e a tão sonhada estabilidade emocional, fazem parte do Big Five, onde aspectos da personalidade humana são observados e analisados. E isso tudo pode ser trabalhado, seja aproximando o ambiente escolar do desenvolvimento das habilidades socioemocionais, seja em casa, criando bons relacionamentos com os parentes e gerando respeito mútuo, seja nas escolas técnicas, faculdades, seja no mercado de trabalho, etc.
O papel não é só do professor, do orientador, do pai ou da mãe. O papel é seu, é nosso. Empatia não é sentimento de modinha, é na realidade um sentimento escasso e utilizado de seu significado deturpado para gerar marketing pessoal e profissional. Essa deveria ser a primeira habilidade a ser trabalhada em qualquer esfera. o que nós precisamos é olhar para dentro de nós mesmos e buscar o bem, para que consigamos doar ao outro aquilo que primeiramente deveríamos encontrar em nosso interior.