A Gestão do Conhecimento nas Universidades: Como as Bibliotecas Podem Facilitar a Colaboração Interdepartamental

A Gestão do Conhecimento nas Universidades: Como as Bibliotecas Podem Facilitar a Colaboração Interdepartamental

As universidades são, por natureza, espaços onde o conhecimento é produzido, compartilhado e aplicado. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados por essas instituições é a fragmentação do conhecimento. Departamentos frequentemente trabalham como ilhas isoladas, acumulando saberes que poderiam ser transformados em inovações coletivas se houvesse uma cultura de colaboração efetiva. Nesse cenário, a biblioteca universitária, tradicionalmente vista como guardiã de informações, tem o potencial de ser o principal catalisador para a gestão do conhecimento e a integração interdepartamental.

Mas por que isso ainda não acontece de forma ampla e sistemática? Este é o ponto onde a polêmica começa.


Bibliotecas: Custos ou Pontes de Conhecimento?

A percepção da biblioteca universitária como um centro de custos e não como um ativo estratégico é um dos principais entraves. Muitas administrações ainda enxergam a biblioteca apenas como um espaço físico que serve aos estudantes e professores para pesquisa ou estudos individuais. Essa visão limitada ignora o papel estratégico que as bibliotecas podem desempenhar na promoção da interdisciplinaridade e na gestão do conhecimento institucional.

O problema está enraizado em uma cultura de subvalorização do bibliotecário como agente de inovação. Em vez de serem incluídos em discussões estratégicas sobre o futuro da universidade, bibliotecários são frequentemente confinados a funções técnicas. Essa exclusão é um desperdício monumental de expertise que poderia transformar as bibliotecas em hubs de colaboração e inovação.


O Que a Biblioteca Pode Oferecer?

  1. Plataformas de Compartilhamento de Conhecimento Bibliotecas podem liderar a criação de repositórios institucionais que não sejam apenas depósitos de artigos acadêmicos, mas verdadeiros ecossistemas vivos de conhecimento. Esses sistemas poderiam incluir projetos interdepartamentais, resultados de pesquisas conjuntas e bases de dados acessíveis a todos os setores da universidade.
  2. Mediação da Colaboração Bibliotecários têm as habilidades necessárias para mapear fontes de conhecimento e identificar sinergias entre departamentos. A mediação do bibliotecário poderia facilitar a criação de redes de trabalho que transcendem as barreiras institucionais, conectando, por exemplo, a engenharia e a biologia em torno de um projeto de sustentabilidade.
  3. Competências em Literacia Informacional e Digital A biblioteca pode capacitar docentes, pesquisadores e estudantes em práticas avançadas de literacia informacional, garantindo que todos tenham as ferramentas para acessar, organizar e aplicar conhecimento de maneira eficaz. Esse treinamento também promove a integração, ao criar uma linguagem comum entre departamentos.
  4. Espaços Inovadores e Tecnológicos A transformação de bibliotecas físicas em learning commons, com espaços dedicados a co-criação, pode atrair diferentes públicos e fomentar a colaboração interdisciplinar de forma prática.


Por Que Isso Ainda Não É Realidade?

Falta de Visão Estratégica: Gestores universitários frequentemente não compreendem o potencial da biblioteca como um recurso estratégico para toda a instituição. Essa falta de visão é agravada pela ausência de bibliotecários nas mesas de tomada de decisão.

Resistência Interna: Muitos departamentos resistem à ideia de compartilhar conhecimento, temendo perda de protagonismo ou vantagem competitiva. Essa mentalidade territorialista bloqueia a colaboração.

Cultura Bibliotecária Conservadora: Em alguns casos, os próprios bibliotecários mantêm uma postura reativa, acomodando-se em papéis tradicionais e deixando de assumir o protagonismo que o momento exige.


O Futuro: Como Transformar a Realidade?

  1. Bibliotecas nos Conselhos Universitários É fundamental incluir bibliotecários nos principais fóruns de discussão e planejamento institucional. Suas vozes são cruciais para criar estratégias de gestão do conhecimento.
  2. Indicadores de Impacto Interdisciplinar As bibliotecas precisam demonstrar com dados como sua atuação facilita a colaboração e melhora os resultados institucionais. Indicadores como a quantidade de projetos interdepartamentais iniciados com apoio da biblioteca podem ser poderosos.
  3. Mudança Cultural e Comunicação Bibliotecas precisam se promover de forma mais eficaz dentro da universidade, demonstrando seu valor e construindo parcerias estratégicas com diferentes setores.
  4. Adoção de Tecnologias Inovadoras Plataformas como inteligência artificial para análise de dados interdepartamentais e bibliotecas digitais integradas podem catalisar mudanças profundas na colaboração universitária.


Conclusão: O Momento é Agora

A biblioteca universitária não pode mais se contentar em ser um espaço de apoio; precisa se posicionar como um pilar estratégico na gestão do conhecimento. Para isso, bibliotecários devem abandonar o conforto da invisibilidade e assumir um papel ativo na transformação da universidade.

A polêmica está posta: será que as universidades estão prontas para enxergar as bibliotecas como agentes centrais de colaboração e inovação? Ou continuaremos desperdiçando esse potencial em nome de uma visão ultrapassada? O futuro das instituições de ensino superior pode depender da resposta a essa pergunta.

Karinne Resende Martins

Graduada em Biblioteconomia , Especialista em Letramento Informacional

4 sem

Ótimo conselho

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