Gosto tanto de regras, como gosto de exceções!

Percebo e defendo que têm que existir regras assim como procedimentos. É normal, vivemos em sociedade, e trabalhamos em empresas, pelo que não pode reinar o caos. As regras não só são importantes como extraordinariamente necessárias.

De qualquer forma também defendo que tem de haver abertura para as exceções.

Até em casa com a nossa família, existem exceções, mal seria se não as houvesse!…e é tão bom quando elas acontecem. Dou-vos um exemplo: nos dias de semana, assim que chegamos a casa, depois dos vários desportos, todos tomam duche e depois jantamos.

É a regra. Mas, nunca ninguém vai esquecer o dia em que a mãe decidiu quebrar a regra quando pegou numa toalha e foi com todos fazer um piquenique à praia, ver o pôr do sol, e, nessa noite …não houve duche. Foi tão boa esta exceção.

Considero que nas empresas também pode e deve haver esta abertura. Infelizmente não vos vou falar de um caso tão feliz como o nosso piquenique na praia. Há uns anos, numa empresa onde trabalhei, um colaborador veio ter comigo em lágrimas a dizer que a mãe tinha um cancro em fase terminal e que tinha que voltar ao país de origem para estar com ela nos seus últimos dias de vida. Não fazia ideia de quanto tempo a mãe teria, se uns dias, se um mês. Os médicos teriam dito que no máximo seria um mês... Este colaborador já não tinha férias para gozar nesse ano e por isso seria o caso em que se adiantavam férias do ano seguinte. Sabemos todos que, numa altura normal, isto estaria “fora” das regras.

Este colaborador estava na empresa há mais de 10 anos e era absolutamente "da casa". Acresce a esta questão o facto de, na empresa em causa, não serem permitidos mais de 15 dias de férias seguidos naquela altura do ano.

Ora, sem qualquer tipo de dúvida, levei à administração este caso, defendendo que devíamos aceder obviamente (defendi eu) ao pedido do colaborador. Em reunião de Direção surgiu a questão desta “cedência” poder ser mal vista por parte de outros colaboradores, uma vez que as exceções às regras, muitas vezes o eram. Qual seria então a solução?

Pois bem, neste caso a solução foi simples: criou-se então uma regra “extra” e comunicou-se a todos como tal. E a regra era qualquer coisa parecida com isto:

Sempre que qualquer colaborador, com mais de 10 anos de casa, tiver que dar assistência à sua mãe diagnosticada com uma doença terminal num país estrangeiro, pode adiantar a totalidade das férias referentes ao ano seguinte.

Resolvida a questão!

Claro que este exemplo é extremo, mas serve um propósito.

Houve críticas por parte de algum colega? Nenhuma. O que existiu em vez disso? Esta comunicação acabou por ser um alerta sobre a "empatia" e compaixão por parte da empresa. Sobre a humanidade e a certeza da empresa cuidar e de se preocupar com os seus. No dia seguinte, todos, sem exceção, sentiram conforto ao invés de um sentimento de injustiça, ao terem a certeza de que se porventura acontecesse com eles uma situação semelhante, a empresa iria estar ao seu lado, a apoiar.

Houve sobretudo transparência e humanismo na comunicação.

Como pensam que ficou o colaborador em questão? Sobretudo seguro, nesta fase difícil da vida dele e … eternamente grato por este gesto.

Humanismo dirão alguns, Employer branding, dirão outros.

Mas que excecionalmente resultou, digo-vos eu.