A governança e a vida como ela é

Existe uma frase que diz: Quando foi que você viu uma coisa antiga pela primeira vez?

É importante entender a dimensão deste questionamento num mundo de releituras. Por exemplo: Calça boca de sino e calça flare, moqueca de palmito para veganos e a moqueca de peixe, cortes de vestido em viés delineando o corpo como era utilizado por Marilyn Monroe, enfim podemos passear por várias dimensões.

O ponto é entender que muito do que estamos resignificando hoje, já foi trabalhado e realizado em épocas passadas, e a governança talvez seja um dos temas mais antigos resignificado em várias épocas de formas diferentes.

Qual o objetivo da governança? Vou me permitir trazer uma fala simplificada.

A governança cria ferramentas e ações afim de gerar uma cultura de coexistência de pessoas com pensamentos e ações divergentes em um ambiente aberto a debates respeitosos, transparentes e organizados, para tomada de decisão.

As propostas individuais ou coletivas que nascem deste processo de governança causam transformações saudáveis no contexto onde a governança é pensada e implementada.

Portanto a governança é uma jornada para melhorar a convivência do coletivo em detrimento do individuo, com impactos dentro e fora do ambiente onde o processo começa.

Se a definição acima faz sentido para você, você entenderá porque considero o 1o modelo de governança implantado no mundo, e seguido por muitos, a tábua dos 10 mandamentos.

E ainda com este raciocínio expandir este pensamento e entender que as famílias tem seu modelo de governança próprio, os bairros tem seu modelo de governança próprio, as comunidades, as cidades, os estados, os países, e todo e qualquer grupo que se proponha a conviver, seja num mundo físico ou no WhatsApp, estabelece um modelo de governança.

Isto quer dizer que o tema não é novo para ninguém, apenas pensamos a governança de modo fragmentado por espaços ou usando palavras mais corporativas para inseri-la em um ambiente empresarial.

Contudo quando sua mãe dizia que só ia comprar um brinquedo para você no dia das crianças porque seus pais precisavam se preocupar com as contas para pagar, ela estava te ensinando a ter planejamento orçamentário e definir quando gastar e para que gastar.

Quando você ainda pequenino tomava bronca ou era orientado a não mexer na tomada, estava aprendendo sobre risco, entender que se pusesse o dedinho na tomada poderia tomar um choque e desencadear vários problemas de uma pequena queimadura a um impacto maior.

Quando seus pais te falavam para não brigar com coleguinhas, respeitar os mais velhos e ouvir com atenção o que a professora ensinava em sala de aula, você estava aprendendo sobre comunicação não violenta, respeito e escuta ativa.

Quando você cresceu e começou a vender doces na escola, fazer rifas ou criar outros mecanismos para fazer a festa de final de ano ou fazer uma viagem de conclusão de curso, aprendeu que os projetos precisam ter objetivos claros, custo definido para que possam receber patrocínio. E dar transparência do que se arrecadou e onde foi gasto é o que gerava credibilidade e novas oportunidades de financiamento ou patrocínio dos pais , da escola e amigos.

Você se lembra dos seus lideres de sala de aula ou diretório acadêmico da faculdade que negociavam com a turma , com a diretoria, e traziam propostas debatidas anteriormente, analisando prós e contras com todos, para se tomar uma decisão? Ou olhando para alguns modelos escolares atuais, onde as crianças pequeninas são responsáveis desde o banheiro da escola até a sala de aula? Você entende que o lider precisa dar exemplo e engajar seus liderados a se sentirem responsáveis por tudo que fazem e dizem, e para isto, é fundamental que participem desde os debates até as decisões finais para , de fato, fazerem parte tanto da fala quanto da execução?

Você tem notado escolas ou condomínios que tanto internamente quanto externamente plantam, cuidam das praças, criam eventos de convivência para integração de moradores ou alunos da porta para dentro e da porta para fora? Você percebe como este movimento ajuda a integrar todos os envolvidos em debater e melhorar o local onde estão, e promove parcerias para trazer oportunidades de forma organizada e discutida colaborativamente entre todos os participantes?

Eu poderia continuar listando a nossa vida em suas diversas fases para entendermos que a governança nos permeia desde o nascimento. Isto porque sua base reside na convivência saudável entre pessoas diferentes, permitindo que todas se desenvolvam conforme amadurecem e criem condições para que o contexto onde atuam também se desenvolva através de parcerias responsáveis, comunicação transparente, possibilidades de experimentação conjunta e aprendizado individual e coletivo.

Assim sendo, precisamos desmistificar a governança como algo que só se aplica a grandes empresas e que precisam de uma cartilha gigantesca do como fazer.

Precisamos parar de arrumar desculpas para não olharmos para dentro de nossas empresas e resgatarmos porque existimos enquanto empresa e qual o impacto trazemos para sociedade?

Se tivermos dificuldade de fazer isto sozinhos, pedir ajuda para fazer, é fundamental para não nos perdermos em nossas justificativas e estacionarmos como empresas e profissionais.

As vezes pedir ajuda para mediar os diversos interesses de uma empresa é fundamental para se reencontrar com a razão daquela empresa existir e a partir daí, com a participação de todos que ali estão, definir mecanismos para crescer, experimentar e conviver, da porta para dentro e da porta para fora.

Portanto a jornada de governança está ao alcance de todos, inclusive porque já vivemos muitas jornadas diferentes nos diversos grupos que frequentamos.

Pense nisto e avalie se você não está procrastinando a jornada da sua empresa por algo que não havia entendido como parte de quem você é. Havia fragmentado este organismo vivo chamado empresa em diversas caixinhas departamentais que já sabemos não fazer mais sentido.

Releia sua história empresarial, signifique-a e continue crescendo. Sucesso!