Governança e a visão de curto prazo: Estamos colocando em risco à longevidade dos negócios?
Conselho de Administração estilo Van Gogh por Copilot

Governança e a visão de curto prazo: Estamos colocando em risco à longevidade dos negócios?


A pressão por resultados imediatos é uma realidade em muitas empresas e não poderia ser diferente pois vivemos em um ambiente muito competitivo e volátil, então garantir um caixa positivo e a sustentabilidade financeira é a base de todo negócio saudável. No entanto, essa busca desenfreada por lucros no curto prazo também pode colocar em risco a sustentabilidade e o futuro do negócio. É nesse contexto que a governança corporativa deveria ser a base para garantir o equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazo.

E como deveria ser o papel do Conselho:

Sei que a minha opinião sobre o assunto não nada diferente da maioria, mas muitas vezes precisamos repetir o básico: o Conselho, em sua essência, deveria ser o guardião da longevidade da empresa. Seu papel principal é zelar pelo cumprimento dos planos de longo prazo e dos propósitos da organização, assegurando que as ações dos executivos estejam alinhadas com a estratégia traçada.

No entanto, vejo com preocupação que muitos ex-executivos acreditam o ser conselheiro é uma extensão das duas atividades e ao assumirem assentos no Conselho, trazem a mesma mentalidade focada em resultados imediatos. Essa visão de curto prazo pode levar a decisões precipitadas e à busca por atalhos que podem comprometer a ética e a sustentabilidade do negócio.

Então tomo a liberdade de lembrar alguns dos perigos pela busca desenfreada por resultados:

  • Contabilidade criativa: A pressão para apresentar números positivos pode levar à manipulação de dados e à omissão de informações relevantes, como vimos em escândalos recentes, comprometendo a transparência e a confiabilidade das demonstrações financeiras.
  • Decisões de investimento imprudentes: A busca por retornos rápidos pode impulsionar decisões de investimento precipitadas e mal planejadas, que podem gerar perdas significativas para a empresa no longo prazo. Aquisições malfeitas, aumentando base de clientes e ativos, junto com a base de faturamento, mas destruindo o valor dos negócios são muito comuns.
  • Falta de foco em inovação e crescimento sustentável: A pressão por resultados imediatos pode levar ao corte de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, comprometendo a capacidade da empresa de se adaptar às mudanças do mercado e se manter competitiva no longo prazo.
  • Comportamento antiético: A busca por atalhos para alcançar resultados rápidos pode levar à adoção de práticas antiéticas, como subornos, fraudes e sonegação de impostos, que podem manchar a reputação da empresa e gerar graves consequências legais.

Outros pontos que cabem destaque são os modelos de remuneração:

Os modelos de remuneração agressivos, com bônus atrelados ao cumprimento de metas de curto prazo, podem incentivar ainda mais a busca por resultados imediatos, mesmo que isso signifique comprometer a ética e a sustentabilidade do negócio.

Da mesma forma, a concessão de equity para conselheiros pode gerar um conflito de interesses, levando-os a priorizar o aumento do valor das ações no curto prazo em detrimento dos interesses de longo prazo da empresa e dos seus stakeholders.

E temos solução?

Mais uma vez, volto ao básico, para mitigar os riscos da visão de curto prazo e garantir a governança corporativa eficaz faço algumas sugestões:

  • Selecionar conselheiros com a visão e experiência adequadas: Qualquer conselho deveria ser composto por profissionais experientes, com visão estratégica e comprometidos com a sustentabilidade do negócio, com conhecimento financeiro e histórico comprovado em relação a projetos e idoneidade.
  • Implementar modelos de remuneração que incentivem o comportamento de longo prazo: Os modelos de remuneração devem ser estruturados de forma a recompensar os executivos também pelo cumprimento de metas de longo prazo, como o crescimento sustentável da empresa e a geração de valor para os stakeholders.
  • Promover uma cultura de ética e compliance: A empresa deve investir na promoção de uma cultura ética e de compliance, conscientizando seus colaboradores sobre a importância de agir com integridade e de acordo com os princípios da empresa, abrindo canais de denúncia e garantindo transparência das informações.
  • Fortalecer os mecanismos de controle interno: A empresa deve implementar mecanismos de controle interno robustos para prevenir e detectar fraudes e outras práticas antiéticas, principalmente os relacionados a estrutura financeira.

Investir em governança corporativa não é apenas uma obrigação legal para as empresas listadas, mas uma grande oportunidade para empresas e grupos financeiros de capital fechado, sendo uma decisão estratégica fundamental para garantir a sustentabilidade e o sucesso do negócio no longo prazo. Ao fortalecer a governança, as empresas podem proteger seus stakeholders, construir uma reputação sólida e garantir um futuro promissor.

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Aline Reginato

Consultora | Palestrante | Professora | Sócia FIRA | Sócia da Lotus Gestão | Especialista em Compliance, Gestão de Riscos e Governança | (PLDFT) Prevenção a lavagem de Dinheiro

6 m

Excelente reflexão Leandro Herculano ! Não só os Conselheiros de Administração, mas também a Alta Administração tem um papel de importância capital nas estruturas de governança corporativa das empresas que diz respeito não só a prática efetiva, mas a criação da cultura da governança corporativa que deve se estender a toda Organização. Topo um bate papo a respeito!

Bartosz Korczynski

Consultor | Gestor | Negociador | CFO | Assessor

6 m

Ótimo texto. Pressão sem metodologia no curto prazo (geralmente pressionada por sócios e mercado) é o que faz os negócios começarem a tombar. E concordo que os conselheiros são peça chave e devem ter um olhar de cobrança para guiar (melhor) os negócios.

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