Greve de Quem?
A pseudo-greve de hoje nos faz parar para refletir o momento que estamos vivendo. Nosso país está passando por um nível de prevaricação, degradação e desonra histórico, que certamente deixará marcas profundas para gerações futuras. A Lava jato abriu uma ferida que explicita uma consagrada crise moral que se entrelaça em nossa história e cultura desde os tempos de colônia. Crise essa que deflagra e acentua outras como na segurança, na saúde, e na própria concepção de cidadania em si. Trata-se de um processo autofágico que precisa ser interrompido e que vai além da clássica dicotomia de direita/esquerda avultada na época atual.
Dito isso, não se pode galgar de forma digna novos horizontes, almejar mudanças positivas e duradouras, arquitetadas com intransigência, e muito menos com desinformação, manipulação e manobras. Não se trata de ser contra qualquer tipo de manifestação, muito pelo contrário. São ações desse tipo, que nos legitimam como nação livre, que nos amadurecem como estado e doutrina democrática. Mas polêmicas devem ser pautadas no discernimento, na compreensão e na clareza dos episódios que nos cercam. Conversando com dois grevistas em ambientes diferentes, situações e momentos distintos, percebi que a revolta está alicerçada no desejo de assegurar algo que acreditam que perderão, mesmo sem ter a completa assimilação do que de fato irá ocorrer caso as reformas não sejam aprovadas. Nas palavras de um, “não quero saber do futuro, todo mundo ganhou até agora, roubaram tudo da gente e logo na minha vez não vão tirar meus direitos”. Tentei ponderar que não seria possível distribuir algo que não mais persistirá com as atuais características demográficas do Brasil, mas a frase de ordem foi “a previdência é nossa!”, mesmo que isso represente a antítese da lógica matemática.
O segundo entrevistado, além do mesmo discurso contra as reformas, fez alusão as mudanças nas leis trabalhistas de forma pejorativa, desdenhosa, como se ainda vivêssemos na era Vargas, com os grilhões da CLT e na carta del lavoro de Mussolini. É perfeitamente aceitável que a realidade possa ser interpretada de várias maneiras e que o prisma da análise que colocamos dependa de uma série de variáveis subjetivas. Mas não podemos fechar os olhos ao fenômeno inexorável e implacável das mudanças organizacionais e institucionais que experimentamos nos últimos 70 anos. Não podemos mais ficar estáticos em um mundo em que a aceleração, produto da tecnologia e da globalização, nos força a convergir para uma mutação contínua, sob a qual todos podemos escolher progredir ou sucumbir sobre a égide da proteção paternalista de um estado que (1) não deveria ter essa missão e (2) tem se provado um deplorável genitor.
É possível argumentar que esse pequeno texto, seria por si só, também discriminatório e intolerante. Mas não é desrespeitoso, não visa provocar os ânimos, mas fundamentalmente, a reflexão. Representa tão somente a minha particular opinião, não-representativa de partido algum, apolítica, mas que entende que qualquer manifestação lícita e que aspire respeito, não pode se impor pela força, pelo bloqueio do caminho daqueles que, também por vontade própria, decidem trabalhar. Interromper o transporte dos que mais precisam e inviabilizar um dia a mais de educação em um país torpe em qualquer ranking mundial, me parece uma iniciativa mais que despropositada. Soa como patifaria a tentativa de parar uma nação que necessita justamente do inverso, que carece de trabalho e de maior produtividade. Não seria o caso de garantir um movimento de forma pacífica em um feriado como do dia do trabalho, que viria logo a seguir? Enquanto a ignorância continuar incentivada, o interesse individual sobressair sobre o coletivo, e a ideia da tirar vantagem continuar soando como símbolo de esperteza, não podemos esperar avançar e florescer. Desde que nasci escuto que somos o país do futuro. Temo sinceramente que para nossos filhos e netos, essa epígrafe não só persevere, mas vire uma lápide.
André Barcaui
Gerente de Projetos / Gestor Administrativo / Analista de TI (Suporte ao Usuário / Infraestrutura)
7 aBrilhante, Professor. Análise lúcida e reflexão muito pertinente.
Piloto Comandante de Helicópteros - MEDEVAC Aeromédico
7 aEstamos orfaos.. Nao temos governo.. Nao temos lider.. Nao temos comando.. Temos quadrilhas brigando pelo poder e jogando a conta p a sociedade.. As favas com o politicamente correto.. Marginais so fazem o que fazem porque tem espaco p tal.. Macaco so desce da arvore o baguncar o terreiro, quando nao tem onça.. ou quando as onças estao amansadas $$$ pelos mimos funcionais dos sapatinhos cromo alemao.. Autoridades corruptas, Prevaricantes.. Vendidas.. Nao valem o que comem!!! As favas com o politicamente correto.. basta de ALIENAÇÃO!!!!
Assessor Especial da Presidência da FGV; Membro da ABCA; Diretor da CASO Consultores; Ex-Presidente do INEP.
7 aParabéns. Excelente artigo.