A GRIPE ESPANHOLA E A CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NA ESTEIRA DA REAFIRMAÇÃO DO DISCURSO HIGIENISTA
A gravidade da pandemia global foi escondida em seu início, sendo a Espanha o primeiro país a citar a gravidade da doença e os primeiros óbitos; vem daí a alcunha de “gripe espanhola” ao surto epidêmico global (GOULART, 2003). No Brasil, os primeiros casos foram registrados em agosto e setembro de 1918. As autoridades brasileiras, de forma similar aos dirigentes de outros países, minimizaram os impactos iniciais da gripe espanhola, com a documentação oficial pouco mencionando a moléstia e dando a impressão de que se tratava de uma doença comum. Essa iniciativa foi reforçada pelas autoridades sanitárias da época, que tentavam sustentar o discurso do caráter benigno da gripe.
Havia na sociedade brasileira, devido à desinformação que predominava, um sentimento de imunidade diante da doença e até mesmo um tom de pseudocientificidade e de pilhéria (GOULART, 2003). Um artigo de A Careta, número 538, demonstra, pelo tom anedótico, a desinformação da sociedade sobre a gripe espanhola.
A influenza espanhola e os perigos do contágio – esta moléstia é uma criação dos alemães que a espalham pelo mundo inteiro, por intermédio de seus submarinos, (...) nossos oficiais, marinheiros e médicos de nossa esquadra, que partiram há um mês, passam pelos hospitais do front, apanhando no meio do caminho e sendo vitimados pela traiçoeira criação bacteriológica dos alemães, porque em nossa opinião a misteriosa moléstia foi fabricada na Alemanha, carregada de virulência pelos sabichões teutônicos, engarrafada e depois distribuída pelos submarinos que se encarregam de espalhar as garrafas perto das costas dos países aliados, de maneira que, levadas pelas ondas para as praias, as garrafas apanhadas por gente inocente espalherm o terrível morbus por todo o universo, desta maneira obrigando os neutros a permanecerem neutros (CARETA, 1918, p. 28).
Essa falta de informação, como foi mostrado acima, pode ter dificultado o controle do surto epidêmico em seu início, inclusive com a oposição de jornais da época que entendiam que o combate ao surto pelas autoridades não era mais do que um pretexto para a intervenção do governo na vida das pessoas.
Tal resistência de setores da sociedade carioca à adoção de medidas sanitárias de caráter coercitivo por parte das autoridades tinha sido evidenciada durante a Revolta da Vacina, no governo de Rodrigues Alves (1902-1906), e ainda permanecia forte em 1918, como veremos no artigo abaixo:
a ameaça da medicina oficial, da ditadura científica”, “pois a Diretoria Geral de Saúde Pública, tomando providências ditatoriais, ameaçava banir os direitos dos cidadãos com uma série de medidas coercitivas, (...) preparando todas as armas da tirania cientifica contra as liberdades dos povos civis (CARETA, 1918, p. 28).
Entretanto, o rápido avanço da epidemia e o seu grau de letalidade levaram as autoridades a tomarem medidas de profilaxia para tentar evitar o agravamento da situação. Nesse contexto, a imprensa, inclusive a revista Fon-Fon, passa a atuar intensamente em uma mobilização contra a epidemia reinante, o que representou uma mudança da postura adotada anteriormente.
O alastramento da doença em nosso país levou a revista Fon-Fon a abordar os casos vindos em navios da Europa durante a 1ª Guerra Mundial, com reportagens estabelecendo críticas à ação dos governantes no tratamento dos doentes e sobre a falta de providências para evitar a proliferação da doença.
A expansão da doença foi facilitada devido à inexistência de uma boa estrutura sanitária, em especial dos hospitais, o que deixava a população em um completo estado de abandono (GOULART, 2005). Essa situação foi agravada pela ausência de uma estratégia previamente montada para socorrer a população, como podemos verificar no depoimento dado pelo Sr. Nelson Antônio Freire, observador contemporâneo do fato, a Adriana do Costa Goulart em 11 de setembro de 1990.
Era lamentável o estado em que se encontravam, já há bastante tempo, os hospitais e repartições de saúde do Rio de Janeiro. Muitos hospitais funcionavam em situações para lá de precárias, como durante muito tempo foi o caso do São Francisco Xavier. Quando os hospitais estavam funcionando, faltava gente preparada e material para trabalhar (FREIRE, 1990, p. 76-77).
A revista Fon-Fon denunciava essa situação e, como demonstramos nos gráficos acima, dedicou-se à divulgação de remédios recomendados na época para a moléstia, como fazia também a propaganda de outros medicamentos para os mais variados problemas, como renais, vermes, anemia, abrir apetite, cistites, tosse, coqueluche, entre outras coisas. Tais anúncios, que dominaram as páginas da Fon-Fon e outros semanários brasileiros no final de 1918, geraram grandes lucros para a indústria farmacêutica que se estabelecia no Brasil.
Nesse contexto, com base na leitura da revista Fon-Fon e de outras fontes, verificamos que para a economia de mercado, em geral, e para a indústria farmacêutica, em particular , a gripe espanhola, por mais que tenha sido um mal terrível que em poucos meses ceifou a vida de milhares de pessoas, representou uma oportunidade de ouro para lucros exorbitantes a essa indústria . Esses empresários se aproveitaram da desorientação e do desespero das pessoas para vender seus produtos, sendo eles apropriados e eficientes, ou não. Anunciar era preciso, vender era o grande objetivo, assim como hoje em dia, não importa o que se precisasse prometer – em uma linha de cunho marcadamente comercial que predominava nas páginas da Fon-Fon e em outras revistas e jornais da época. Entretanto, em alguns jornais, foram publicadas críticas à exploração promovida pela indústria farmacêutica, como vemos nos exemplos a seguir:
Houve então uma grande desorientação e uma ignobil exploração por parte de algumas pharmacias. Os preços variavam de pharmacia para pharmacia e de bairro para bairro. O tubo de bromo-quinino passou a custar de 1.500 a 8.000 e 9.000 réis. Uma limonada purgativa 4, 6 e 8.000 réis. Uma capsula com 25 ctgrs. de Sulphato de Quinino custava 400 réis, no maximo, custa 2 e até 3.000 réis!
É o furto, parecendo que nem se quer estamos numa cidade policiada! Mas a necessidade era grande e os doentes nos milhares, o que fez com que apezar do descabido escandaloso dos preços, os medicamentos se esgotassem. Várias pharmacias, especialmente nos suburbios, allegam tambem a doença do seu pessoal. Que será da população sem ter sequer medicamentos?
Ha mais ainda no capitulo pharmacia. Em algumas dessas casas a exploração na venda dos "preventivos e preservativos" attingiu as raias do inacreditavel. Tudo era preventivo. Até a vulgar naphtalina! e como tal tudo era cobrado em dobro e em triplo (A RUA, 1918, não paginado).
Voltando ao viés comercial que predominava nas páginas da Fon-Fon, verificamos que os anúncios veiculados pela indústria farmacêutica tinham como público alvo as mulheres, inclusive durante o surto da gripe espanhola, devido ao papel incutido a estas como provedoras da higienização da família e também de representarem o maior número de leitores da revista. Os anúncios de produtos farmacêuticos como o do vermífugo (Lombricoides Indiano, da edição n. 44, de novembro de 1918) está inserido no contexto maior dos projetos de saneamento urbano e no forjamento de um padrão de comportamento na sociedade na qual a preocupação com a higiene se tornou uma preocupação hegemônica, sendo esta vinculada ao bem estar da família.
Analisando os anúncios ou reclames de medicamentos verificamos que eles comportavam um conjunto de representações, escritas e imagéticas sobre o que se denominou o homem e a mulher higiênicos. Roger Chartier diz que “As representações são sempre determinadas pelos interesses de grupos que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza.” (CHARTIER apud MACHADO, 2007, sem paginação).
Nesse sentido, já no começo do século XX, a utilização de pessoas famosas para a propaganda de medicamentos era importante, pois isso conferia ao produto um ar de legitimidade. Tal prática é utilizada com grande eficácia nos dias atuais, o que demonstra a perenidade de um determinado discurso no âmbito da sociedade. Abaixo, a divulgação do reclame ou anúncio do xarope Bromil na revista Fon-Fon em 1910, ao qual Olavo Bilac empresta o seu nome:
Figura 9 – Propaganda do xarope Bromil.
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“Tenho a maior satisfação de declarar que, sofrendo de uma bronquite pertinaz, fiquei radicalmente curado com o uso do Bromil. Podem fazer desta carta o uso que lhes convier. Rio, 5 de abril de 1910”
Fonte: Fon-Fon (1910). Retirada do site da revista Ciência Hoje, por Yano (2012)
Portanto, as representações que eram divulgadas na imprensa acabavam por produzir “estratégias e práticas que tendiam a impor uma autoridade à custa de outros. Com isto vemos a produção de um discurso dotado de regras e que nem todos os indivíduos possuíam acesso” (FOUCAULT, 1970, p. 36-37).
Conclui-se que os meios discursivos apresentados na construção do discurso da prática da higiene mostram a circulação de normas e verdades que agenciam o poder nas suas malhas de atuação, convencendo e naturalizando os comportamentos ditos como civilizados, orquestrados pelas normas e códigos de posturas vividas naquela época, determinando os papeis dos indivíduos na sociedade e também seus hábitos de consumo.
Dessa forma, com o avanço da indústria farmacêutica, alguns costumes e práticas que permaneciam até então na sociedade carioca - como o uso de medicamentos caseiros e a busca por parte da população dos serviços de indivíduos que agiam como curandeiros para a cura de doenças - foram progressivamente sendo desqualificados.
Com isso, a atuação dos curandeiros passou a ser considerada charlatanismo, sendo proibida por lei em uma iniciativa que ganhou impulso desde o fim do século XIX, como vemos no artigo 158 do Código Criminal de 1890, que vamos reproduzir abaixo:
Artigo 158. Ministrar, ou simplesmente prescrever, como meio curativo para uso interno ou externo e sob qualquer forma preparada, substância de qualquer dos reinos da natureza, fazendo ou exercendo assim, ofício do denominado curandeiro (BRASIL, 1890).
Amparados pelo código jurídico, como vemos acima, e por um forte discurso científico respaldado por diversos anúncios – ou reclames, conforme se costumava chamá-los na época – as empresas farmacêuticas eliminavam a concorrência dos elixires caseiros.
Seus produtos eram veementemente mostrados na mídia jornalística, especialmente em revistas como a Fon-Fon, como os melhores, os mais seguros e, portanto, os únicos que deveriam ser consumidos pela população. Isso representa, segundo Foucault (1970), a produção de um discurso que precisava ser legitimado, em que “fidedignas testemunhas”, presentes em diversos desses reclames, atestavam a garantia de boa qualidade desses produtos, enquanto muitas vezes atletas eram contratados para viajar e fazer campanhas de determinados produtos, como os fortificantes, por exemplo (MACHADO, 2007).
Os fabricantes anunciavam produtos específicos para a cura de uma doença, a qual nem sequer se sabia direito o que era ou qual seu agente causador, mas ainda assim produtos ditos preventivos ou curativos eram anunciados como verdadeiras panaceias.
Figura 10 – Anúncio da edição n.44 de dois de novembro de 1918, página 47 da revista Fon-Fon.
Fonte: Fon-Fon (1918d)
Entretanto, o avanço da gripe espanhola desmontou a ilusão da propaganda de medicamentos “milagrosos”. O que se pode observar no artigo de Nara Brito Azevedo (1997) é que a escassez de médicos e até de práticos de farmácia para aviar receitas tornou-se um grave problema. Nesse contexto, houve uma retomada da medicina caseira como alternativa para combater a epidemia. Exacerbou-se na imprensa a discussão sobre os meios de prevenir e as fórmulas para curar a gripe. Longas páginas foram dedicadas aos leitores — leigos ou médicos — que enviavam sugestões, em sua maioria de origem caseira e de duvidosa credibilidade, revelando, inclusive, a sobrevivência ou revigoração de preceitos pré-pasteurianos relativos à causa e transmissão das doenças. Bom exemplo disso é a desinfecção do ar com incenso ou alcatrão e alfazema aconselhada pelo Dr. Monteiro da Silva. À falta de orientação médica precisa, tudo valia: pitadas de tabaco ou banhos com vapor d'água misturada com sal de cozinha constituíam eficientes preventivos. O sal também poderia se tornar um remédio "ao alcance dos pobres" se adicionado ao chá de carqueja, conforme receita enviada de Minas Gerais por dona Engracia. Na série de receitas bizarras para prevenir a gripe, consta a que recomendava “pulverizar o corpo com flor de enxofre, defumar a roupa com enxofre bruto e queimá-lo dentro de casa” e “tomar 5mg de flor de enxofre antes das refeições", medidas que deveriam ser acompanhadas de "remédios homeopáticos e lavagem intestinal com cozimento de camomila, duas vezes ao dia". A certa altura, a própria DGSP (Diretoria Geral de Saúde Pública) rendeu-se aos métodos alternativos, distribuindo essência de canela à população. Por sua vez, o chefe do serviço sanitário de São Paulo, Artur Neiva, enfatizava a profilaxia individual e isso era amplamente divulgado pela imprensa, como vemos abaixo:
Figura 11 – Anúncio do Serviço Sanitário de São Paulo.
Fonte: Site Mais História
A imprensa divulgava, também, prescrições terapêuticas utilizadas no exterior, como a "injeção de sublimado", de Madri, e a inalação de suco de cebola, empregada na França e testada eficazmente na Inglaterra e nos Estados Unidos (CORREIO DA MANHÃ, 1918).
O recurso a métodos alternativos foi revivido durante a epidemia da gripe espanhola, devido a uma leitura peculiar feita pela população sobre o conhecimento médico (GOULART, 2005). Isso também colocou as pessoas à mercê de uma exploração comercial com a proliferação das receitas homeopáticas, cuja credibilidade era, no mínimo, duvidosa.
Tal proliferação de receitas milagrosas espelhava a insatisfação da população com a falta de atendimento, com a impossibilidade de se estabelecer um diagnóstico preciso, com a ausência de estratégias do governo e, essencialmente, com as limitações das instituições sanitárias em socorrê-la da epidemia da gripe espanhola. A impossibilidade de atender as demandas impostas pela epidemia e as expectativas da população acaba resultando em uma perda de credibilidade para vários segmentos da classe médica, o que contribuiu para o surgimento de uma ciranda terapêutica.
Com isso, podemos entender que práticas como a medicina caseira, que vinha sendo marginalizada através do discurso higienista, ganharam um novo vigor devido ao caos provocado pela epidemia, o que colocou em xeque a posição dos sanitaristas. Mesmo alguns elementos da classe médica alimentaram dúvidas sobre os pressupostos da bacteriologia (SILVEIRA, 2005). Entretanto, várias autoridades se empenharam na reafirmação do discurso em defesa da microbiologia, como podemos ver no depoimento de Moncorvo Filho.
(...) com o correr dos tempos e as grandes conquistas da ciência do microscópio, sofreram completo desprestígio as arcaicas doutrinas hipocráticas e galênicas das chamadas constituições médicas na dependência de agentes cósmicos, do ar, da temperatura, das estações, emprestando ás doenças certa forma e predominância (SILVEIRA, 2005, grifo do autor).
Entretanto, essa fase de dúvida sobre o discurso da microbiologia logo foi superada com a reafirmação da autoridade dos higienistas e dos homens de laboratório, em especial Carlos Chagas, devido a sua atuação durante o surto epidêmico e que é ressaltada no trecho final do editorial da revista Fon-Fon, a “Quinzena Trágica”, de dois de novembro de 1918, que vamos reproduzir de acordo com o texto original:
E, confortador, entretanto, registrar nestas notas, a abnegação com que alguns elementos influentes no governo e na sociedade teem procurado minorar o sofrimento da pobreza desvalida, como é o caso do Dr. Carlos Maximiliano e Sra. Wenscesláo Braz, cuja dedicação é um exemplo de bondade e altruísmo. Também ao Dr. Carlos Chagas, o sábio director do Instituto Oswaldo Cruz, cabe aqui uma referencia especial pela maneira enérgica e prompta com que organizou os postos médicos de socorro, que teem sido, sem a menor duvida, o melhor contigente, na lucta contra a peste (FON-FON, 1918d, não paginado).
A ampla receptividade da sociedade à figura de Carlos Chagas, tido como a esperança no combate ao surto da gripe espanhola, como foi mostrada na reportagem da revista Fon-Fon, decorre essencialmente do fato de que este já possuía um capital científico anterior. Ele foi o responsável pela descoberta do Tripanossoma cruzy, patógeno causador da doença de Chagas e pelos serviços prestados durante o governo Wenceslau Braz, além de obter prêmios e títulos conferidos por instituições nacionais e estrangeiras. O capital científico de Chagas, antes do surto da gripe espanhola, fornecia-lhe condições para que a população o visse com o único com a capacidade de modificar a grave situação (GOULART, 2005). Outro elemento que lhe foi favorável é o fato de que ele assume a direção do comando de socorros públicos em um momento de declínio do surto epidêmico, o que facilitou a construção de sua imagem como um “salvador da nação” durante a gripe espanhola. O fato é que a projeção da figura de Carlos Chagas como o elemento capaz de conter a hecatombe da gripe espanhola colocou os sanitaristas como figuras indispensáveis durante situações de surto epidêmico, o que reforçou o poder deste grupo que vinha crescendo a partir do final do Império (GOULART, 2005). Os jornais e semanários da época contribuíram para a construção dessa imagem positiva, como podemos ver na foto abaixo:
Fotografia 3 - Carlos Chagas com pacientes em Manguinhos
Fonte: Portal São Francisco
Com isso, os sanitaristas lograram o poder de moldar comportamentos e atitudes, o que viabilizou os projetos de modernização que estavam em andamento por parte do Estado brasileiro.
Esse projeto é reforçado pelo Código Sanitário, que em 1923 cria a Inspetoria de Propaganda e Educação Sanitária, publicações e atua na imprensa escrita com a criação de preceitos e normas de higiene, visando inserir os indivíduos em um novo contexto de valores, de acordo com os projetos do Estado. Assim, vemos que, através das reportagens e reclames de medicamentos exibidos na revista Fon-Fon, a imprensa cumpriu um importante papel nesse processo.
CONCLUSÃO
Com esses dados, podemos compreender um pouco do clima de apreensão e incerteza reinantes na sociedade brasileira, afetada pela gripe espanhola, que não sabia, de forma concreta, um tratamento eficaz para a doença, estando tudo em fase experimental, pois a comunidade cientifica - que se gabava de grandes avanços na área da bacteriologia - foi colhida de surpresa com um mal com que não conseguiam lidar. O discurso higienista propagado pela classe médica foi posto em questionamento devido ao avanço da epidemia da gripe espanhola, mas, ao mesmo tempo, houve a legitimação da autoridade da figura do bacteriologista, ou seja, dos higienistas e dos homens dos laboratórios (GOULART, 2005). Podemos entender que, diante da epidemia, foi construído um discurso em que os homens de laboratório seriam detentores de um conhecimento específico e que poderiam receitar normas de higiene que ajudariam a salvar a sociedade, não somente durante a epidemia, mas também em outros surtos que viessem a ocorrer no futuro.
Portanto, a epidemia da gripe espanhola acabou por desencadear a revalorização do conhecimento sanitário. Assim, a colaboração dos cientistas, especialmente dos bacteriologistas, seria cada vez mais solicitada pelas elites dominantes, em seus projetos políticos, com a participação cada vez maior de médicos nos quadros do Estado.
Com isso, houve o fortalecimento da indústria farmacêutica que, vinculada às normas e preceitos de higiene ditados pela classe médica, consolidou-se no Brasil. Isso foi facilitado devido ao apoio da imprensa que colaborou, de acordo com os seus interesses de cunho comercial, com a divulgação dos seus produtos, como vemos nas páginas da revista Fon-Fon.
REFERÊNCIAS
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