Há 3 meses não coloco uma meia

Jamais imaginei isso. Acho que ninguém imaginaria (talvez um profeta do apocalipse). NOVENTA dias em casa, trabalhando de camiseta e bermuda, pés descalços num mundo sem chão, logado na realidade através do Wi-Fi.

A cada 24h, ficamos mais próximos de um retorno, mesmo sem ter ideia de quando ou mesmo de como será. E esse anseio de “volta para casa” (com o trocadilho da expressão) vem anexo a um pensamento quase filosófico: com que roupa eu vou reestrear para a vida?

Carros nas garagens, dinheiro (para quem o tem) nas contas, calças, camisas, meias, tênis, sapatos, cintos, mochilas, bolsas e perfumes nos armários sem uso. O consumismo na sua maior derrocada. O não poder ter sendo substituído pelo “tenho para quê?”.

Temos uma capacidade incrível de adaptação e imaginação (o que nos tornou os controladores temporários desse planeta), e por isso estamos há tanto tempo evoluindo nessa direção, seja lá qual for. E essa mesma capacidade criou a necessidade do ter acima do ser, do status. Por mais que eu quisesse, deverá ser esse mesmo status a prevalecer num mundo readaptado a novas maneiras de se viver. Sem dúvidas, por mais que demore, tudo será devidamente colocado em seu lugar, e a experiência arquivada nos livros de história.

Enquanto isso, sigo sem meias, palavras ou 3/4.

_

Olá, eu sou o Gabriel! Trabalho com planejamento financeiro, controladoria e processos numa empresa de tecnologia aqui no Rio de Janeiro. No outro extremo, lancei 3 livros (+1 no forno), 3 álbuns como músico (+1 no forno), tenho dois instagrams (@odinheironaoaceitadesaforo e @podemechamardebio), dou palestras de vez em quando e curto a ideia de escrever para o Linkedin.

Se quiser bater um papo ou sugerir um tema, só mandar para rudow.gabriel@gmail.com