Há 90 anos morria Landell de Moura, herói que o Brasil ainda ignora
Neste sábado, 30 de junho, completam-se 90 anos da morte do padre-cientista Roberto Landell de Moura, nascido em 21 de janeiro de 1861 em Porto Alegre.
Foi um gênio de seu tempo, tendo realizado a primeira transmissão mundial de voz humana e sons musicais por ondas de rádio, em julho de 1899, na capital paulista, com farta documentação noticiosa. Ou seja, inventou o rádio, mas não levou a fama nem recebeu apoio em seu próprio País, que ainda hoje ensina nas escolas de base que o inventor do rádio foi o italiano Guglielmo Marconi. Não foi. Marconi inventou o telégrafo sem fio, que transmitia apenas sinais (traço e ponto), vindo a desenvolver tecnologia de transmissão da voz anos mais tarde. Landell, por seu lado, não só foi ignorado, como perseguido, tendo mais de uma vez seus equipamentos danificados por fieis que acreditavam que ele tinha parte com o demônio. Um horror, como bem explica nas várias obras que já escreveu sobre o tema o jornalista Hamilton Almeida, biógrafo de Landell.
A propósito, em entrevista que concedeu ao programa Roda Viva (TV Cultura), no último 18 de junho, o ex-ministro Ozires Silva – que também, entre suas múltiplas façanhas, foi fundador e presidente da Embraer e da Petrobras –, fez o seguinte relato, após a pergunta de um dos integrantes da bancada:
“Anos atrás, em Estocolmo, sentei casualmente com três integrantes da Comissão do Prêmio Nobel, ou seja, homens que participavam das indicações e definições das personalidades que seriam agraciadas com a cobiçada honraria. No meio da conversa ocorreu-me perguntar a eles por que razão nenhum brasileiro havia até então sido digno de conquistar o Nobel. Eles se entreolharam, mas desconversaram. Passado um tempo, com a vodka fazendo efeito, um deles resolveu voltar ao tema: ‘Você quer mesmo saber por que nenhum brasileiro ganhou o Nobel até hoje?’. ‘Sim’, disse eu. E ele: ‘Pois então vou lhe contar: os brasileiros são destruidores de seus heróis. Quando algum nome desponta e começa a ganhar notoriedade, é apedrejado em sua própria pátria, ao contrário do que acontece com a maioria esmagadora dos outros povos’.“
Bem, não estou reproduzindo aqui ipsis literis as palavras do ex-ministro, mas o seu sentido principal. E o faço para dizer que foi exatamente isso o que aconteceu com Landell de Moura e com muitos outros heróis brasileiros, que, apesar dos expressivos feitos, nunca foram reconhecidos, mas, ao contrário, muitas vezes “apedrejados” em sua própria terra natal.
Hamilton Almeida lembra que "Padre Landell patenteou a sua invenção aqui e nada mudou. Desiludido, foi para os Estados Unidos, onde registrou três patentes. Ficou ainda mais desiludido quando a realidade mostrou-lhe que era impossível levantar recursos para o desenvolvimento comercial da novidade no Brasil. E esse não foi o seu único sonho dourado que se desvaneceu. Projetou a televisão em Nova York, em 1904, dando-lhe o nome de The Telephotorama. Oficialmente concebida em 1926, a TV consagraria Chacrinha, difundiria a arte de Pina, os ensinamentos de Chico Xavier no Pinga Fogo... De mãos amarradas na ciência, restou-lhe cumprir com diligência as obrigações de sacerdote. Até que, em um 30 de junho, a tuberculose venceu a vida. Ano: 1928".
No próximo sábado completam-se 90 anos do desenlace e o Brasil ainda não o reconhece como um pioneiro da comunicação wireless, o Pai do rádio. Até quando vai persistir a indiferença?
Quero encerrar dando um viva a Landell de Moura e a todos os heróis brasileiros que um dia o Brasil ainda vai reconhecer.