Há vida além do esporte: busca por propósito
Tóquio-2020/Divulgação

Há vida além do esporte: busca por propósito

Na terça-feira passada (27) a vitoriosa ginasta norte-americana Simone Biles, chocou o mundo do esporte ao desistir de competir na final olímpica por equipes após cometer um erro. Sua principal argumentação pela desistência teve relação com saúde mental.

Alguns meses atrás outra estrela vitoriosa também tomou atitude semelhante. Naomi Osaka citou depressão e abandonou Roland-Garros, um dos principais torneios do mundo. Ainda no mundo do tênis Dominic Thiem, após vencer seu principal título da carreira, o US Open, revelou desmotivação e também citou saúde mental em entrevista. Para fechar essa lista e não deixa-la muito extensa, temos também Michael Phelps, que já parou de competir, mas outro caso de atleta muito vitorioso que lida com depressão.

Acredito que esses casos e outro inúmeros de atletas, que chegam até entrar no mundo das drogas, têm relação com o propósito de cada um deles.

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Você pode conquistar uma vitória, um título, quebrar o recorde olímpico de medalhas em uma mesma olimpíada, ter muito dinheiro, o emprego dos sonhos, nada vai preencher esse vazio, se essas metas não forem naturalmente suas. Talvez outro grande exemplo disso é o caso do jogador de futebol Adriano Imperador, que largou uma vida de fama e fortuna jogando futebol na Europa porque não era feliz e foi muito questionado por isso.

Para o psicólogo esportivo Paulo Penha existe uma explicação bastante simples nessa falta de motivação: “No início da carreira esportiva, grande parte dos jovens atletas se sentem motivados pelo técnico e/ou a equipe técnica, mas com o decorrer do tempo, em muitos casos, há um decréscimo da motivação, pois apesar de uma maior alegria em relação a técnica aprimorada, realizações e vitórias, aspectos como relacionamentos sociais, estudos e lazer são deixados de lado, fazendo com que os atletas fiquem um tanto desorientados sobre que rumo devem tomar e ao que dar prioridade. Fazendo com que muitos atletas tenham dificuldades em planejar e visualizar seus futuros.” O documentário da Netflix sobre a Naomi Osaka mostra isso em determinado momento, vale a pena assistir.

Trazendo para a minha experiência pessoal, passei 28 anos procurando agradar outras pessoas, fazendo escolhas que não eram minhas. Em dado momento tinha 2 empregos, trabalhava muito, tinha condição financeira de fazer muitas coisas, mas não tinha tempo e não me sentia feliz. Sentia que não estava usando minhas capacidades e que podia mais na vida. Meu problema não era tanto profissional, sempre trabalhei com Educação Física e esporte, mas mesmo gostando não estava onde queria. E também não sabia para onde ir. Quando você passa anos seguindo decisões dos outros, você não sabe o que você quer, e daí para chegar na sensação de vazio, é um pulo. Me pergunto quantos desses atletas seguem sonhos deles e quantos seguem sonhos dos pais ou dos outros.

Novamente nesse ponto, Paulo Penha traz algumas informações cientificas sobre o tema:

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Nos exemplos já citados nesse texto existe o agravante do profissionalismo: “Por consequência da profissionalização dos atletas, a pressão é maior, gerando dessa forma certo desconforto, diminuindo a alegria em estar treinando, e gerando maior apreensão em relação à técnica, por medo de frustração. Nesse ritmo frenético não se percebe o como este processo é maçante e árduo, e muitas vezes se esquece que estamos lidando com pessoas (com suas particularidades e sentimentos), e não com máquinas. Quando os resultados não são satisfatórios, muitas vezes não se sabe o porquê está ocorrendo isso e na maioria dos casos, atletas acabam por serem descartados como peças sobressalentes. Qualquer atleta está sujeito ao estresse, e do amador ao profissional, é de extrema relevância que o estresse esteja sob o controle do atleta que busca o máximo rendimento esportivo”, comenta Paulo.

O estresse controlado e a questão do ritmo frenético mencionada na vida dos atletas podem ser aplicados também para não atletas, na vida pessoal e profissional. O ritmo acelerado que a sociedade atual impõe muitas vezes nos impede de perceber o que está nos incomodando até o momento que já é tarde. Você escuta seus áudios na velocidade 2x? Eu evito, procuro ditar meu ritmo na minha vida, senão o ritmo da vida te atropela. Mas para você ter essa consciência e disciplina acredito que ter um proposito, saber para onde você quer ir é essencial.

É por isso que também conversei com Letícia Gonzalez. Formada em secretariado executivo ela se beneficiou da pandemia para parar, refletir sobre alguns pontos e decidiu investir em uma nova carreira. Hoje ela cursa psicologia e falou sobre a busca do propósito no podcast “Papo de Banheiro” de forma muito prática no episódio “3 passos para encontrar seu propósito”.

“A pandemia me gerou ansiedade, principalmente na minha situação profissional. Todas as mudanças que aconteceram, especialmente no trabalho, me geraram muita ansiedade, o que me fez questionar se era aquilo mesmo que eu queria. Até aquele momento eu nunca tinha me questionando sobre isso, estava levando a vida, não tinha percebido que até minha faculdade tinham escolhido por mim. ” Contou Letícia sobre o que levou ela a refletir sobre a carreira.

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Então ela procurou algumas ferramentas de autoconhecimento, e foi quando ela encontrou o Canvas da Carreira, que é o que ela aborda no podcast mencionado acima. Gostaria de compartilhar aqui para contribuir para quem estiver precisando. Letícia conta que resumidamente são 3 pontos que você precisa observar em você para entender melhor para onde ir: “São três pontos importantes nessa ferramenta: valores, talentos e referências. Você precisa conhecer seus valores para procurar profissões ou empresas que tenham valores semelhantes. Você precisa saber seus talentos também para encontrar um trabalho que você possa utiliza-los. E você deve observar suas referências. Quem são as pessoas que são seus exemplos? Tem uma frase que eu gosto nesse assunto que diz para onde seus olhos olham é para onde você quer ir”.

E você que está lendo, para onde seus olhos estão olhando agora? Você escolheu seu caminho ou ele foi escolhido para você? Se não estabelecermos prioridades alguém fará isso por nós.

O psicólogo Paulo Penha acredita que o mundo esportivo precisa modificar a forma de lidar com suas principais peças, os atletas, e aumentar o investimento em cuidados aos mesmos. Somente assim se estará garantindo uma base fixa para a conquista de vitórias, para que possam se tornar constantes e sólidas por um longo período nos parâmetros esportivos. E isso pode ser aplicado nas empresas.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio já colocaram em pauta a saúde mental e talvez tenha algum impacto na questão dos cuidados com os atletas, afinal existe vida além do esporte, assim como existe vida além do trabalho. Autoconhecimento e propósito são talvez os principais pilares desse tema junto do autocuidado. Então compartilhe aqui o que você tem feito a respeito disso.

Monica Kneip

Psicóloga Clínica e Esportiva

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O esporte nao é o fim, é um meio para oportunidades na vida.

Marcelo B. Vargas

Carbon Removal | Environment | Biochar | Quality | Procurement | Mechanical Engineer

3 a

Assunto muito importante e que deve ficar mais relevante a cada dia. Ótima leitura. Parabéns!

PAULO PENHA DE SOUZA FILHO

DIRETOR DE SAÚDE ESPORTIVA DA PSICCOM - Presidente da Associação de Psicologia do Esporte do Paraná- APEP(2021-2023)

3 a

👏👏👏🧠💪👊

Letícia Gonzalez

Assistente Executiva | Psicologia

3 a

Adorei participar desse texto super especial! É de extrema importância refletirmos sobre o nosso propósito e colocarmos como prioridade a nossa saúde mental.

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