Híbridos saindo da Europa?
Brad Keselowski, piloto de ponta da NASCAR, recentemente publicou sua vontade de tornar os carros da NASCAR híbridos com sistemas de regeneração de energia similares aos da F1.
A NASCAR é uma das categorias mais brutais de todas. Apesar da receita antiquada, com V8 barulhentos e beberrões, chassis tubular, sem elementos aerodinâmicos além do splitter e spoiler, a categoria investe pesado para tornar os carros extremamente refinados tecnologicamente dentro desse regulamento.
Do outro lado do espectro automobilístico, temos a Fórmula 1. "A" categoria, desde sempre. Com regulamento igualmente restritivo, a intenção é de destruir os tempos recordes de todas as pistas no mundo todo, mas muita gente passou a reclamar da categoria principalmente após da adoção da filosofia que "eficiência energética pode ser legal". Em poucas palavras, ninguém liga se o carro consegue ser potente, econômico, se o motor elétrico deixa mais rápido, se é bom de curva... o povão quer barulho! Coisa que a F1 não tem. E sei lá se vai ter de novo.
O pensamento de Keselowski em si é ótimo (na minha opinião), e defende que as montadoras que participam da NASCAR deveriam seguir o exemplo das que investem na Fórmula E ("E" de Elétrica), pois todas querem estar associadas a veículos elétricos e acredita-se que esse é o caminho para o futuro. Caso a Ford, Chevrolet e Toyota (montadoras na NASCAR) não sigam esse caminho, elas poderão perder muito, e a NASCAR depende das montadoras.
Mesmo que eu considere o pensamento de Keselowski bom, há alguns problemas que podem surgir com isso (adotar sistemas parecidos com os da F1).
1. Um dos sistemas de regeneração está associado a recuperação de energia CINÉTICA do carro (MGU-K): o carro viaja a uma dada velocidade e precisa reduzir ela para contornar uma curva. Para reduzir, usa-se os freios, transformando energia cinética em calor (os freios ficam extremamente quentes). Um gerador então é usado para auxiliar a frenagem do carro, transformando energia cinética em calor (freios convencionais) e energia elétrica (gerador). A carga armazenada em cada frenagem efetuada é descarregada no motor elétrico para acelerar o carro durante a reaceleração. O problema é que a grande maioria das pistas da NASCAR são ovais, e muitas delas não se usa os freios (exceto paradas para serviços e situações de emergência). Nesses casos, não teria ganhos significativos de performance ou consumo. Além disso, houve alguns problemas de confiabilidade na implementação dessa tecnologia na F1, o que poderia prejudicar alguma(s) das montadoras.
2. O outro sistema de regeneração envolve a adição de turbocompressor (MGU-H) ao motor símbolo norte-americano: O produto da combustão do motor alimenta uma turbina, fazendo o compressor (conectado a turbina) mandar mais ar para o motor enquanto movimenta um gerador para carregar as baterias do carro ou o MGU-K. Apesar dos ganhos expressivos de desempenho do motor, também pode apresentar problemas de confiabilidade uma vez que o motor opera em regimes mais pesados. Outro ponto que afetou muito a popularidade da F1 foi a alteração do barulho dos motores. Agora imagine a reação de uma nação tradicionalista perdendo o som monstruoso do motor V8 que eles se orgulham tanto de ter feito.
Caso adotem a ideia de Keselowski, tenho certeza de que eles pensarão nisso que falei e muito mais coisas, mas eu fico aqui pensando "quando que o Brasil vai ter algum movimento parecido com isso?". Não temos nem montadoras envolvidas com o automobilismo além de um adesivo colado no carro para ter sua fração de "participação"...