PERÍCIA x POTÊNCIA: QUEM SABE USAR UM SUPERESPORTIVO DE RUA?
Neste último final de semana na segunda corrida da rodada dupla da Fórmula Indy em Detroit, vimos uma cena inusitada: o pace car bateu.
Aos olhos de quem está de fora, foi uma bela demonstração de como fazer uma barbeiragem das grandes, pois supostamente quem senta-se ao volante de um carro como aquele, numa situação daquelas, é um especialista em direção. Mas será realmente que é isso?
Há uma realidade que vai muito além neste episódio, além até mesmo ao fato de todo e qualquer ser humano ser passível de erros: estamos falando de um carro com um bloco de motor 6.2 litros V8 que despeja 660 cavalos nas rodas traseiras, que ao observar o vídeo do acidente, é possível ver que após a segunda curva, o carro sai de traseira e bate a 90 graus com o muro, numa clara demonstração de aceleração excessiva naquele ponto.
Quem estava ao volante do Corvette ZR1 era Mark Reuss, “piloto” convidado pela GM, empresa que patrocinava a prova. Reuss é o Vice-Presidente Executivo de Desenvolvimento Global de Produtos e Suprimentos na General Motors e sendo assim, se muito, é um “piloto de passeio”, como a grande maioria das pessoas que dirigem um Corvette e não são pilotos de profissão.
E aí que chego ao ponto crucial desta matéria: será que “pessoas comuns” estão realmente habilitadas a dirigir um carro como este? Será que quem está habituado a dirigir um modelo de “passeio comum” (carros com potência média entre 80 e 150 cavalos), consegue controlar uma máquina desta potência e que exige uma certa perícia não muito comum aos motoristas de um modo geral?
Eu imagino que não e provavelmente foi o que aconteceu a Mark Reuss, que pelo seu cargo, deve contar com motorista particular, usando o carro estando ao volante meramente aos finais de semana, juntamente com a família e em trajetos curtos, além de supostamente não ter (por opção) um carro como o que dirigiu no domingo.
Desta forma, fica para mim no ar uma dúvida: a legislação de transito se apega muito na velocidade máxima das vias e em fazer diversos tipos de simulação de situações do dia a dia ao volante; será que ela não deveria exigir um curso preparatório para quem pretender possuir um veículo à partir de uma certa potência? Será que ao invés de ter noções mecânica, o motorista não deveria ter noções de pilotagem?
Texto: Márcio de Luca