Heterogeneidade: é aliada, ou não, do trabalho docente?
A heterogeneidade, no mundo contemporâneo, tem sido uma das coisas que mais assusta professores e professoras. Esse temor pode, ainda, ser bem maior para os docentes que se dedicam às series iniciais do ensino básico. Pensemos em um professor do ensino fundamental I, com alunos numa faixa etária entre 6 e 7 anos. Com duas turmas completamente mistas, com crianças em ritmos diferentes, oportunidades e vivências bem distintas, ele vê-se diante da singularidade e dos desafios do exercício docente. Por que a heterogeneidade é vista como estando não aliada ao trabalho docente?
Digam-nos: como atender a necessidades distintas com uma única fala? Como alcançar todas elas “ao mesmo tempo”? Nosso planejamento é “abarrotado” de conteúdo! E quanto as outras aprendizagens? Sim, sabemos que muitas delas são interdisciplinares e se fazem no dia a dia, mas por que a impossibilidade de viver momentos em que apenas elas se dão e são admiradas, valorizadas?
Quando o professor se vê diante de tantas singularidades se não se sente seguro e inteiro para lidar com todas elas, pode pensar: o “problema” está em mim, nas crianças, na escola ou na formação docente? Ou é algo comum aos quatro? Rui Canário, teórico português, fala em perceber esses problemas como algo simétrico, tanto para professores e alunos. Não se confrontam nem se mostram mais importantes do que outros. Não se dão por conta de um ou de outro, são nossos. Nossos problemas e precisam ser discutidos.
Além de Canário, temos apreço por Dermeval Saviani. Seus escritos e formulações nos ajudam a compreender questões postas pelas contradições humanas, quando se referem à Educação. Com base no Materialismo Histórico Dialético, clarifica que, vários dilemas enfrentados pelo professorado encontram suas razões na formação inicial de professores. Isto por que, segundo ele, somos formados numa perspectiva escolanovista, mas ao chegarmos à escola, nosso principal local de trabalho, temos de nos habituar a trabalhar em uma perspectiva tradicional. Exemplificaremos cada uma dessas tendências pedagógicas a seguir.
O modelo tradicional de educação já é por nós mais “familiar”. Possivelmente fomos formados, em nossa trajetória escolar, dentro desse modelo educacional. Para a Pedagogia Tradicional, o ensino escolar compromete-se com a transmissão dos conteúdos, sem, no entanto, importar-se com os problemas sociais e com as experiências dos alunos. Cabe a esses sujeitos se esforçarem para alcançar o que desejarem. Tem por método de ensino a exposição dos conteúdos. O professor se relaciona com o aluno de modo autoritário, este sendo apenas receptor do conhecimento. A avaliação ocorre, principalmente, nas formas de provas e testes. Foi a concepção predominante do período jesuítico à Primeira República. Resumindo-o em duas características, seriam elas: transmissão de conteúdos e homogeneidade.
No período da década de 1930 temos a predominância da tendência Renovada Progressivista. Neste novo cenário que se coloca, a escola tem por finalidade aproximar-se ao máximo possível da vida. É aqui que aparece a ideia de “aprender a aprender” ou “aprender fazendo”. De acordo com José Carlos Libâneo, para a pedagogia da Escola Nova, é bem mais importante a forma como se aprende, do que o que se aprende. Nesse contexto, o papel do professor recebe outro significado: de transmissor do conhecimento, ele passa para “auxiliador do aluno” e é necessário que professor e aluno vivam em harmonia. A avaliação ocorre durante todo o processo educativo, não sendo compreendida como meio de punição.
Diante desses modos opostos de se conceber a educação, a escola, a sociedade, o ensino, a aprendizagem entre outros elementos, o professor, mais uma vez, depara-se com a necessidade de se situar e refletir sobre que sociedade almeja ajudar a construir. Sua visão e suas ações pedagógicas caminham no rumo da homogeneização dos educandos ou os compreende como seres históricos e criadores da história em movimento? Os alunos são protagonistas ou assistem passivamente o que ocorre a sua volta?
Diante dessas reflexões e cientes de que abrem caminho para a instauração de novos mundos, como bem já falara Rubem Alves, acreditamos em uma educação democrática e cidadã possível dentro dos muros da escola! Momentos de plenitude nos fazem acreditar nisso. Sorrisos e olhares sedentos nos dão essa esperança. Fazemos parte do grupo que deseja participar de uma escola que não direciona sua preocupação a exames e provas, números e porcentagens, mas que compreende os sujeitos como seres singulares e heterogêneos, e não apenas cita isso em um projeto político pedagógico. Somos desejosos, também, de uma formação acadêmica mais humana e sincera. Que não nos traiam mais os professores da academia. Que não mais pintem belos quadros sobre a educação escolar quando na verdade, muitos dos que contribuem com nossa formação, não se sentem encorajados a fazer parte dela. E, quem sabe, tratando-nos como seres heterogêneos, acabem por nos tornar mais familiarizados com esse princípio.
Esse texto, escrevi com um colega de percurso acadêmico, Mirtiel Castro, Professor, Mestre e Doutor em Educação. Na ocasião, publicamos em um jornal de circulação de um município cearense.
Mecânico Industrial na M. Dias Branco
5 aBoa noite Talita. Me chamo Hugo Sanches e estou precisando muito falar com você me chama no WhatsApp 988072833 que eu te explico do que se trata. Obrigado