História da Literatura Ocidental – volume II
Livro: História da Literatura Ocidental – volume II
Autor: Otto Maria Carpeaux
Nasceu na Áustria em 1900, falecendo em 1978, emigrou para o Brasil, refugiando-se do nazismo, em 1939. Estudou matemática, física e química na Universidade de Viena, onde se doutorou em letras e filosofia. A maior parte de suas obras foram publicadas no Brasil: A Cinza do Purgatório (1942), Origens e fins (1943), Presenças (1958), História da Literatura Ocidental (1958-66), Uma Nova História da Música (1958), Livros na Mesa (1960), A Literatura Alemã (1964), O Brasil no Espelho do Mundo (1965), a Batalha da América Latina (1966), 25 Anos de Literatura (1968), dentre outros inúmeros livros, prefácios, introduções...
Carpeaux tem um conhecimento fora do comum, explicando detalhadamente o surgimento de vários estilos, gêneros e sub-gêneros literários de toda a História Ocidental. A quantidade de autores citados é absurda, mesmo nos dias de hoje, a elaboração de uma obra como a do livro História da Literatura Ocidental, com toda a tecnologia moderna existente para pesquisa (como a internet), seria insustentável.
Neste volume, o autor esmiúça os seguintes gêneros literários com seus diversos estilos: Barroco, Classicismo, Barroco Protestante, Anti-Barroco, Rococó e Pré-Romantismo, Classicismo racionalista e o Último Classicismo, mostrando seus principais autores, as principais obras, suas principais influências e a relação com a História no mundo do período. Irá envolver o século mais rico da literatura universal e também o século das revoluções.
Parte V – BARROCO E CLASSICISMO
O problema da literatura barroca
O século XVII surge como o mais rico de todos na história da literatura universal, e abrange o período entre 1580 a 1680, tendo como comprovação dessa afirmação os nomes de: Tasso, Cervantes, Góngora, Lope de Vega, Shakespeare, Tirso de Molina, Jonson, Donne, John Webster, Quevedo, Ruiz de Alarcón, Vondel, Commenius, Calderón, Gracián, Corneille, Milton, La Fontaine, Marvell, Molière, Pascal, Mme de Sévigné, Bossuet, Bunyan, Pepys, Mme de La Fayette, Boileau, Racine, La Bruyère.
O Barroco surge como um movimento literário, sendo vencido e eliminado na França rapidamente, pois era admitido como uma época de “mau gosto” (apenas no que se refere à Literatura). A crítica francesa prefere tratar o século XVII como o século do classicismo, a maior época de literatura francesa.
O termo “Barroco” era o termo para desacreditar os critérios ideais que eram utilizados na antiguidade clássica e alta Renascença, usado pelos críticos das artes plásticas do século XVIII, mantendo esse tom pejorativo até o século XIX, quando, no próprio setor das artes plásticas começaram a ser reconhecidas as riquezas fabulosas da época na arquitetura, esculturas e pinturas. Começou a entender-se o barroco como uma ideia ligada a opostos, ao contraste, como “arquiteturas majestosas e martírios com pormenores sádicos, grande teatro aristocrático e ladrões em tavernas sujas, paisagens de academismo arcádico e orgias frenéticas, ostentação vazia e visões místicas.”
Os elementos intelectuais e racionais entram com força muito maior nas obras de literatura, algo que não ocorre na arquitetura ou pintura. Os fatores sociais, religiosos, políticos e filosóficos manifestam-se com evidência maior numa peça dramática ou num romance do que num edifício ou quadro, pois o material da literatura é o mesmo das expressões políticas, religiosas e científicas.
Poesia e teatro da Contra-Reforma
O Barroco espanhol conquistou a Europa inteira, o imperialismo espanhol e a propaganda jesuítica divulgaram a literatura e arte barrocas em todas as regiões que a Contra-Reforma conquistou, mas não podemos afirmar o Barroco como próprio estilo da Contra-Reforma, pois houvera também um barroco protestante. Um dos países com este barroco protestante era a Inglaterra de Milton, considerado por alguns críticos como poeta barroco, como um estilo estranhamente parecido com o classicismo francês.
O isolamento da literatura classicista francesa entre as literaturas barrocas do século XVII é um grande problema, que terá de ser resolvido com uma solução violenta: a afirmação da própria natureza barroca no classicismo francês.
Para chegar a um resultado, é necessário classificar os dramaturgos franceses do século XVII segundo os anos de nascimento e verificar os seus empréstimos ao teatro espanhol. Constatar-se-á que houveram grandes influências espanholas, e consequentemente barrocas, nas peças francesas. Embora a literatura clássica lutasse contra esse inimigo, o gosto do público francês daquele século era barroco.
Vale ressaltar a importância do teatro na época de Shakespeare, Calderón e Racine, o centro da civilização barroca recebia todos os desejos de ostentação suntuosa, de transfiguração da realidade em ilusão, da construção de um mundo de arte, fora do mundo material. A arte teatral passa por uma revolução marcante.
O teatro inglês, com Shakespeare e Ben Jonson, parece ateísta, pois não considera a religião e Deus como fatores determinantes, enquanto no teatro espanhol, as tendências moralistas e pedagógicas da Contra-Reforma são aplicadas pelo teatro nacional, não havendo necessidade do teatro jesuítico, que será de grande importância nos demais países europeus.
Pastorais, epopeias, epopeia herói-cômica e romance picaresco
Quando falamos de poesia, há de se considerar a grande semelhança das expressões poéticas da Europa no século XVII, resultado do “espírito da época”, mas isso não impediu a relativa independência das “classes literárias”, como o marinismo italiano, o gongorismo espanhol, o preciosismo francês e a “metaphysical poetry”. Temos em Tasso o tipo intelectual da época, o poeta da Gerusalemme liberata.
Podemos dizer que o período de maior humilhação das letras italianas sob o domínio espanhol, como fase de decadência estética e moral é chamado de “seicentismo”.
François Maynard é o poeta barroco mais completo da literatura francesa, poesia que também procede da Renascença, neste caso francês, da Pléiade. Não podemos deixar de notar forças que perpetuaram o espírito barroco, os jesuítas franceses Descartes, Corneille, Molière, Bossuet, dentre outros da Itália, Espanha, Bélgica, Áustria e Alemanha Meridional.
A literatura jesuítica, junto com sua pedagogia e sua força teatral, tiveram uma grande importância história e estética junto ao Barroco. O teatro jesuítico pretende induzir a classe dirigente, a aristocracia barroca, a aliar-se à Igreja: é o teatro político. A palavra começa a ser suprimida nas representações, dando lugar a fogos de artifício e músicas, pois o texto era latino e compreendido por cada vez menos espectadores, sendo suplantado aos poucos por árias e coros. Assim, no começo do século XVIII, a indiferença religiosa vence a propaganda da fé, surge a ópera.
O teatro espanhol parecia o menos convencional de todos, utilizava-se de assuntos e histórias variadas para suas representações: Bíblia, vidas de santos, mitologia, história greco-romana, medieval e contemporânea, espanhola e estrangeira, novelas eróticas, histórias de fantasmas, contos árabes, tudo servia, sem consideração de tempo e espaço, os limites dentro das três paredes de madeira eram infindáveis. Nesse ambiente temos o autor mais fértil da literatura universal, criador do teatro espanhol nacional, Lope de Vega, com seus apelidos “Fénix de la España” e “Monstruo de la naturaleza”, autor de vários volumes de poesias, algumas epopeias e romances, acredita-se que tenha produzido entre 1200 e 1500 peças. Já, em Calderón, o teatro espanhol revelou seu sentido, ele foi discípulo dos padres da Companhia, a sua apreciação só se deu quando Lope foi desprezado, e vice-versa, foi também um grande autor espanhol. Como vemos, no centro da civilização barroca está o teatro, que se aproveitará também das formas dramáticas.
A epopeia herói-cômica, invoca o bom senso burguês, zombando das pretensões aristocráticas, pseudo-heróicas, ela ataca o abuso que fizeram do ideal heroico, é racionalismo barroco; o romance picaresco, precursor do romance moderno, revela a miséria popular na base da sociedade aristocrática. “Drama pastoril, epopeia heróica, epopeia herói-cômica e romance picaresco são tentativas independentes, mas paralelas, de resolver conflitos barrocos com meios de expressão barrocos.”
O drama pastoril é uma das forças que tornou internacional a literatura do século XVII, mesmo com sua forma de Barroco contra-reformista, chegou a integrar-se no Barroco protestante, ocorreu por conta da uniformidade do espírito aristocrático em todas as sociedades barrocas, já privada de poder político. Torquato Tasso, criador do gênero junto com a epopeia barroca, é dos poetas mais famosos da literatura universal, considerado como o “último grande clássico”, foi, em séculos passados, comparado a Homero, Virgílio e Dante.
Os romances heroico-galantes, contém histórias de aventuras e imitação dos romances gregos, causam estranheza por conta de seus tamanhos, 5 ou 10 volumes cada um são frequentes, hoje são produtos completamente ilegíveis. Só na Alemanha ocorrem tentativas de aproximar a realidade histórica com esses romances, mas a literatura alemã da época está mais longe da realidade que qualquer outra.
Temos em o Guzmán de Alfarache, de Mateo Alemán, o primeiro romance picaresco barroco, o mais importante de todos, que só teve sua fama prejudicada pela sua vizinhança cronológica do Dom Quixote e por causa de seu tamanho, ela é uma das maiores obras da literatura espanhola e universal, nos mostra que o romance picaresco é a exposição clara das ideias aristocráticas do Barroco, ou seja, uma imposição mentirosa, a obra é um comentário permanente da vida humana.
Voltando a falar da literatura alemã barroca, embora fosse bastante rica, não era original, era literatura de segunda mão, sem raízes no espírito nacional, de uma elite italianizada e afrancesada. A guerra de 30 anos acabou com o Espírito nacional, e todo o seu terrível resultado está compilado no Simplicissimus, de Grimmelshausen.
O barroco protestante
Na Inglaterra, onde podemos dizer que o Barroco protestante ocorrera, a Renascença chegou atrasada, só na segunda metade do século XVI, que aparece seu maior poeta, Edmund Spencer, e, em seguida, os primeiros grandes dramaturgos, Marlowe e Shakespeare, embora no conceito convencional da história literária inglesa, Shakespeare seja o maior poeta da Renascença.
“Shakespeare pertence à fase renascentista pelas primeiras comédias, pelos dramas da história inglesa, e ainda pelo Romeo and Juliet, por Midsummer-night’s Dream, Twelfht Night, As You Like It, Much Ado About Nothing. Quanto a Julius Caesar e Hamlet, já pode haver dúvidas...Evidentemente, a arte de Shakespeare percorreu duas fases de evolução: uma primeira: alegre, amorosa e patriótica; e uma segunda, sombria, amarga, pessimista. Dowden baseou nessa distinção a biografia espiritual de Shakespeare, como de um homem pouco a pouco amargurado pelas experiências, evolvendo da alegria de Love’s Labour Lost e da paixão erótica de Romeo and Juliet para o pessimismo de King Lear, Macbeth e Timon...e só no fim da vida, em Cymbeline e Tempest, Shakespeare teria recuperado a paz da alma.”
O estilo barroco de Shakespeare seria o de sua segunda fase, a sombria.
Willian Shakespeare é o maior poeta de todos os tempos, o maior poeta moderno, o maior dramaturgo e poeta da língua inglesa, e, enquanto a sua criação de mundo poético completo for mantida como supremo critério, ele é ainda superior a Cervantes, Goethe e Dostoiévski e só Dante participa dessa sua altura. Infelizmente, sabemos muito pouco sobre a vida de Shakespeare, as hipóteses mais comuns que nos restam são coisas bem pobres: um ator hábil, que escreveu peças de muito sucesso, ganhou muito dinheiro e se retirou cedo dos negócios, morrendo pouco depois. Carpeaux ressalta que o consenso unânime diz que, Macbeth, a tragédia do niilismo e mais barroca das peças de Shakespeare é sua maior obra. Muitas de suas peças são mais lidas do que representadas, e as pessoas as leem como romances modernos: biografias imaginárias, deixando de lado o teatro e a poesia, portanto, é de extrema importância saber ler suas obras.
A imortalidade de Shakespeare está em sua poesia, ou para ser mais exato, no seu verso, ele é o maior artista do verso inglês, que deve ser interpretado, em primeira linha, de forma poética, ao lado da análise dos valores humanos. “No fundo devemos nos conformar com o fato de que a arte de Shakespeare sobreviverá a todas as nossas interpretações.”
Joost Van den Vondel, o maior poeta da língua holandesa, dramaturgo, com uma obra principalmente lírica, chegou a um classicismo que o aproxima de Milton. Era um artista completo, grande representante do Barroco protestante. Barroco protestante que falhara, na verdade desempenha funções de Renascença e serviu para desenvolver língua nacionais e preparar suas literaturas.
Como na Inglaterra não havia o moralismo contra-reformista, o seu teatro utilizaria muito os conceitos maquiavélicos, o inverso do que os demais teatros jesuíticos de outros países aplicavam, mas se aproveitaria também de assuntos históricos, usados como se fossem “invenções”, solução encontrada por Ludovico Castelvetto para falar sobre a História, algo que o Barroco abolia. A Inglaterra também terá a influência latina do teatro de Sêneca, recebida através da França.
Na Alemanha, por conta do malogro parcial da Reforma luterana (onde metade da Alemanha voltou-se ao catolicismo e o restante se tornou sectária), a nova língua, criada por Lutero, não conseguiu conquistar a nação inteira, começou seu desmembramento em dialetos regionais, tornando-se outra vez grosseira. Mas isso não impediu que o Barroco protestante alemão não fosse um dos mais típicos, com angústias místicas e erotismos obscenos, tragédias senequianas e naturalismo popular, essas antíteses dialéticas tornaram-se bem conhecidas.
A crítica moderna elogia o que a antiga censurava, considera Góngora e Donne como os maiores poetas barrocos, sendo o último um homem de transição entre duas épocas, imbuído da escolástica e erudição medieval e também fortemente influenciado pelos conceitos da nova geografia, astronomia e filosofia. Isso corresponde a ambiguidade religiosa entre o catolicismo e o protestantismo, é poeta inglês mais original.
Sendo o século XVII o maior da história literária inglesa, as obras e autores concorrem entre si, Paradise Lost é a maior obra da literatura inglesa daquele século, depois de Shakespeare e essa afirmação define a posição de John Milton, o maior poeta inglês depois de Shakespeare. Paradise Lost é um monumento, uma das poucas epopeias que ainda se leem com admiração sincera. A obra possui algo que a distingue das outras epopeias: a força dramática da caracterização dos personagens e seus tamanhos sobre-humanos, principalmente o Satã de Milton, um dos maiores personagens dramáticos da literatura universal. “Milton é o Dante do protestantismo.”
Misticismo, moralismo e classicismo
A literatura espanhola do século XVII é invadida pela mística, possui meditações, contemplações e êxtases místicos, que produziram uma bibliografia imensa, com leituras popularíssimas. Lope de Vega, Calderón, Alemán e Quevedo, todos se utilizam do misticismo, só ficando livre Cervantes. Mística ibérica que influenciou o classicismo francês, que ocorria no mesmo século XVII. Essa literatura espanhola é um dos problemas mais difíceis e delicados da história literária, pois os místicos não escreviam para produzir literatura, tinham origens em experiências religiosas.
Já na França, ocorre o nascimento de sua literatura moderna, onde no século XVII houveram profundas transformações religiosas, a influência mística espanhola foi decisiva, mas não a primeira, essa veio da Itália, pode-se dizer que foi uma Renascença religiosa e ocorreu nas fronteiras com a Itália, na Provença. Temos em Bossuet a figura mais completa do que se chama “classicismo francês”, sua atividade literária foi imensa, não era apenas orador sacro, em seus trabalhos se incluem: eloquência e historiografia, epistolografia e política, meditações místicas e polêmicas exegéticas. Em algumas de suas obras ele chega ao compromisso entre o mundo clássico e o mundo cristão, que pode ser dito como o compromisso entre a Renascença e o Barroco. Esta seria a definição aproximativa do classicismo francês.
É interessante notar nesta parte do livro a controvérsia entre o jansenismo e os jesuítas. Os jansenistas acreditavam na doutrina da predestinação enquanto os jesuítas creem na graça adquirida por meio das atividades caritativas e religiosas. “A querela jansenista é o maior acontecimento da história espiritual da França no século XVII.” Os literatos e os meios sociais se dividiram em dois partidos, apoiando ou não os jansenistas, luta que emocionou o país inteiro. Entre os jansenistas temos: Pascal, criador da prosa moderna; Boileau, legislador crítico da literatura clássica; Racine, maior dramaturgo, sendo portanto o convento Port-Royal o berço da literatura clássica francesa, literatura esta que também recebeu influência de um pensador anterior ao jansenismo: René Descartes.
Blaise Pascal é o primeiro grande prosador francês, mas não o maior, é um gênio universal à maneira da Renascença, grande matemático, físico, da hidráulica, criador da geodésia barométrica e do cálculo das probabilidades. Ele é um poeta em prosa, pretende demonstrar a verdade cristã como se demonstra uma verdade geométrica.
O classicismo francês se distingue da literatura barroca por ser sóbrio, temperado, equilibrado e claro, enquanto o Barroco é retórico, exuberante, excessivo, angustiado, é a representação do contraste “clair-obscur”.
No caso do romance psicológico, entenderemos como o surgimento ocorreu, tendo sua origem na epistolografia, onde os homens escrevem suas memórias e as damas abrem-se ao confessor ou amante. Importante observar que esse gênero não se limita à França, é antes uma das formas do espírito barroco em geral.
Temos em Jean Racine o poeta mais perfeito da língua francesa, mas ela não é facilmente demostrada, pois engloba banalidades, coisas triviais em versos perfeitos que se perdem nas traduções, quando o sotaque estrangeiro estraga a música da língua.
No que se refere ao Barroco e ao Classicismo, Carpeaux nos diz que:
“O classicismo continua classicismo...a literatura de Pascal e Bossuet, Corneille e Racine, constitui um dos valores mais permanentes dentro do panorama da literatura universal. O conformismo característico do classicismo francês contribui até para eliminar-lhe as contingências históricas, tornando-o digno de ser objeto permanente de uma crítica literária que é, por sua vez, um permanente comentário das condições gerais da vida humana...O classicismo francês é lugar-comum geralmente humano na língua de Pascal e Racine. É barroco, a-barroco e antibarroco ao mesmo tempo. Chegar-se-ia a afirmar que o elemento clássico, o “a-barroco”, é resultado do equilíbrio entre as forças barrocas e as forças antibarrocas que agem e reagem dentro do classicismo francês. De fato, não lhe falta um elemento antibarroco, o estilo de pensar de La Fontaine e Molière; mas este Antibarroco sucede cronologicamente, e não apenas cronologicamente, ao Antibarroco espanhol, de Cervantes a Fracián, que é, por sua vez, como expressão espanhola, uma expressão do Barroco.”
Antibarroco
A expressão barroca é poderosa, seja como expressão política e social, ou como expressão estilística, mas isso não impede que lhe falte oposição. Mas distinguir o verdadeiro antibarroco de uma expressão interna intrabarroca é um grande problema, o próprio estilo barroco “clair-obscur” pode atrapalhar a compreensão e análise dos estilos.
Neste capítulo temos o nome de Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote, tão intrinsecamente ligado à obra que os dois quase se confundem. Pois ele viveu e se utilizou de suas experiências, tendo levado uma vida desgraçada de soldado, cativo dos mouros e literato pobre, para compor, julgar e transfigurar aquela grande obra. Dom Quixote é o “romance dos romances”, pois possui a substância do gênero, que é o contraste entre aparência e realidade. Dele se deriva o romance realista, onde a ambiguidade se faz presente, com a dureza da realidade e a subjetividade do pensamento humano, e as duas figuras centrais do maior de todos os romances escondem o sentido universal da humanidade inteira, Dom Quixote e Sancho Pansa. Cervantes era imensamente livre e antibarroco.
Já em Quevedo, temos o poeta lírico mais completo da literatura espanhola, que teve grande popularidade em suas sátiras, não se realizando com suas obras de ficção.
Logo, a Europa inteira se levantará contra a dominação da grande potência do Barroco, se rebelaram contra o espanholismo, e entre os primeiros temos os portugueses, resultado de vários sintomas políticos de uma revolta ideológica geral, tendo também como grandes ideólogos antiespanhóis os italianos, herdeiros imediatos da Renascença.
“Como força internacional, política e estilística, o Barroco espanhol caiu, quando, no terreno ideológico, se atacou o aristotelismo, e no terreno político se adotou o maquiavelismo. A reunião impossível de aristotelismo teórico e maquiavelismo prático foi o problema que os espanhóis não souberam resolver. O maquiavelismo antiaristotélico tornou-se a doutrina pela qual o absolutismo francês preparou a ascensão de uma nova elite, a burguesia. Um precursor, dos maiores, desse movimento, é Tommaso Campanella, o italiano antiespanhol que se passou para a França.”
Carpeaux ressalta a grandeza de Galileu Galilei, um pensador platônico, que conseguiu exprimir em palavras claríssimas o conteúdo de reflexões e fórmulas matemáticas, enfrentando a força dos conceitos vigentes da física aristotélica, força que nos revela a clareza de seu estilo, como no Dialogo dei massimi sistemi del mondo, uma da obras-primas da prosa italiana, que consegue defender o sistema de Copérnico contras os partidários obstinados do geocentrismo.
As correntes antibarrocas desembocam na França, o país da “pseudomorfose burguesa”, onde a oposição é representada por literatos e alta sociedade que são contrários à fé e moral reinantes, são os “libertins”. No século XVII a palavra tinha o sentido de uma atitude ideológica, mescla de heresia, ceticismo, deísmo e ateísmo, baseada às vezes em convicções materialistas. Tem em “La Fontaine” um grande representante, com suas qualidades didáticas que foram aproveitadas mais tarde, através de suas fábulas.
Os franceses reconhecem Molière como gênio nacional, concordante também em outras nações. É quase como Homero, objeto de admiração unânime. É o grande mestre do divertimento ligeiro, para o povo e para os burgueses. Esse outro “libertin” elabora peças de extrema simplicidade, que possuem uma lógica na sucessão das situações e que resultam em comicidade. É o maior dos comediógrafos. Naturalista num sentido muito exato, defendendo a natureza contra a moral cristã e os dogmas, é um autêntico antibarroco, precursor da ideologia da Revolução.
Parte VI – ILUSTRAÇÃO E REVOLUÇÃO
O Rococó
O Barroco encerra-se e surge um período de preparação para a Ilustração, o racionalismo do século XVIII. A estrutura dogmática do modo de pensar, comuns na Idade Média, na Renascença e no Barroco tem de dar lugar às novas realidades do mundo, mundo que teve um encontro com as civilizações indiana e chinesa e que começava a duvidar da infalibilidade dos historiadores antigos.
“A arma mais poderosa contra a fé nos milagres era o cartesianismo, ressuscitado em momento oportuno. A autonomia do mundo físico, independente, segundo Descartes, das intervenções do mundo espiritual, significa separação nítida entre acontecimentos astronômico-geográficos e acontecimentos históricos.”
Newton descobre a lei da gravitação, fazendo com que as ideias de “leis da natureza” pudessem ter uma independência em relação às religiões. Proclamar-se-á cada vez mais o direito ao homem à felicidade terrestre, desaparecem leis e convenções absurdas de um mundo caduco para dar lugar à racionalização perfeita da vida, é o princípio do mundo moderno. Ao mesmo tempo ocorre um questionamento da infalibilidade literária, onde os antigos podem ser questionados através da “raison”.
Essa literatura do século XVIII será a combinação de ideologias progressistas e avançadas, com formas literárias obsoletas. Tem em Voltaire o seu traço característico. As ideias racionalistas aumentarão a fraqueza poética do século XVIII, o racionalismo exclui a poesia. O racionalismo da Ilustração condena a poesia à decadência.
A literatura francesa que esteve tão isolada nos últimos decênios do século XVIII será libertada pelo pré-romantismo e terá influência na revolução da literatura universal. O velho esquema Régence – Ilustração – Revolução tem ao seu lado o esquema Pré-Romantismo – Romantismo – Realismo. O Neobarroco é o precursor imediato do pré-romantismo, e resulta da dissolução do classicismo do século XVIII, que era uma espécie de “barroquização”.
Um dos poetas representativos do século XVIII e, dentro dos limites de seu gênero, um dos maiores poetas da literatura universal, foi Pietro Metastasio, com sua facilidade para improvisar e virtuosismo no verso harmonioso o tornariam um notável poeta lírico, mas ele preferiu o teatro.
Como criador da literatura moderna, encontraremos John Dryden, criador do teatro moderno, da prosa coloquial e da crítica literária, estabelecendo novas convenções teatrais usando a prosa. Considerado o primeiro inglês profissionalmente chamado de “homem de letras”.
“O Rococó estiliza a realidade, escolhendo os aspectos graciosos, empregando todo o espírito engenhoso de inteligência requintada para aludir, menos ou mais abertamente, à sexualidade. Afasta-se cada vez mais do mundo real, criando mundos fantásticos do amor livre.”
É a comédia da Restauração, enfeitada, mistura de todos os fatos cotidianos da vida. O Rococó é revolucionário, contém em sua essência, o século XVIII inteiro com suas consequências, assim como as possibilidades do pré-romantismo. Marivaux é o poeta dessa época. Na historiografia literária o Rococó é o sucessor do Barroco.
Com a eliminação do fator da “Providência Divina”, a história se transformou em mera sucessão de fatos isolados, o pessimismo histórico de Gibbon e Voltaire é consequência da falta de leis históricos, segundo Gibbon, 1500 anos de história afiguram-se como período de declínio permanente, a história perdeu o sentido.
“Pela atitude de sua classe dirigente, o século XVII é otimista e classicista. Pela atitude de sua classe intelectual, o século XVIII é melancólico e pré-romântico. O pré-romantismo é o reverso da Ilustração; e o reverso do pré-romantismo será a Revolução da burguesia. O pré-romantismo não é – como a nomenclatura infeliz sugere – a preparação do Romantismo, mas o companheiro antiético da Ilustração classicista. A síntese dessa contradição dialética é, no fim do século, o novo classicismo de Goethe, Alfieri, Chénier: espécie de classicismo pré-romântico ou pré-romantismo classicista. Na perspectiva da literatura universal, os classicistas Goethe e Alfieri já são românticos. Chénier só será descoberto um quarto de século depois de sua morte, em pleno romantismo.”
Classicismo racionalista
Um dos acontecimentos mais memoráveis da história da literatura universal foi o encontro da literatura com o jornalismo, isso ocorreu entre o final do século XVII e início do século XVIII. Tendo na burguesia o novo público que assinaria e leria os “semanários morais” que se popularizavam e defendiam o classicismo. Antes não havia opinião pública, havia sim várias opiniões públicas espalhadas. Essa vitória da burguesia decidiu-se entre a revolução inglesa de 1688 e a revolução francesa de 1789. Começa na Europa uma atividade febril de tradutores e interpretadores, pois as fronteiras caíram, o intercâmbio literário amplia-se, a burguesia precisa de regiões amplas para explorar, forma-se um novo público de origem anônima. Surge o profissional de letras, que encontra seu novo lar no “café literário”, nasce a Bohême. Na Inglaterra, o classicismo ganha força.
Daniel Defoe, comerciante de sucesso escasso encontra sua vocação, jornalista, um dos maiores de todos os tempos, representa sua época. O ideal da natureza não encontra uma realização mais eficiente do que em sua obra Robinson Crusoe, onde um homem perdido em uma natureza selvagem é obrigado a recriar, como autodidata, a civilização.
Teremos com Jonathan Swift, um dos maiores satíricos da literatura universal, com sua obra As viagens de Gulliver, um dos livros mais cruéis que existe. Swift é o representante mais radical do racionalismo da Ilustração.
“O desacordo equilibrado pela inteligência dá a síntese do classicismo da Ilustração.” Eis Voltaire.
Voltaire escreveu em todos os gêneros com muito sucesso, menos a grande epopeia e a comédia, mas iluminou outros assuntos, por conta de sua inteligência extraordinária, mesmo os mais rebeldes. Suas obras, mesmo sem coerência ideológica ou emoção íntima, são garantidas pela permanência do estilo, claro e irônico, seco, são artes de uma inteligência pura. “A obra de Voltaire é, por assim dizer, um cosmos de ideias obscuras.”
Na Alemanha, o Barroco não conseguira criar uma literatura nacional, esta recebeu uma influência francesa, afigurava-se no classicismo francês um ideal para uma autêntica cultura nacional, esse novo conteúdo, o racionalismo, significa uma grande esperança para a Alemanha atrasadíssima. Mas esse classicismo francês era incompatível com o espírito alemão.
Na França chega a Revolução, sem demora para revelar seu caráter estritamente burguês, capitalista.
O Pré-Romantismo
O Pré-Romantismo é um fenômeno de nova sensibilidade poética, sentimentalismo, inclinações religiosas e místicas, revolta contra as convenções estéticas do classicismo, em resumo, uma mentalidade que oscila entre a tristeza melancólica e a protesto revolucionário. Teve sua origem no nas influências rousseaunianas e no sentimentalismo inglês que transforma-se em emoção revolucionária, reside portanto nas relações literárias anglo-francesas.
Na nova sociedade utilitarista, a literatura está livre das estéticas classicistas, ao lado dos burgueses revolucionários otimistas e racionalistas pode surgir uma resposta melancólica e pessimista que só depende agora de um poder anônimo, o público. Os novos produtos literários devem agradar ao público e não mais aristocratas e burgueses. Como o público é anônimo, ele não possui critérios literários fixos, ao contrário, novos modelos deverão surgir, assim, a arte não se torna produto da razão mas sim movimentos inconscientes da imaginação, da inspiração.
Na Inglaterra, a revolução poética acompanha a revolução industrial com pontualidade matemática e o pré-romantismo é elemento integral de toda a literatura inglesa do século XVIII.
“Mas justamente através da fumaça reconhecem os poetas a beleza modesta da paisagem inglesa, as colinas e os prados verdes...descobre-se a majestade das catedrais medievais nas cidadezinhas sonolentas, e pela primeira vez os poetas do país protestante percebem as ruínas dos conventos abandonados desde a Reforma. A nova poesia será poesia rural, a princípio muito parecida com a poesia pastoril da Arcádia...a diferença reside no predomínio da melancolia, e também em um novo senso da natureza, que é considerada como um Universo vivo, cheio de criaturas alegres ou demoníacas.”
O graveyard school manifesta a relação entre a melancolia pré-romântica e uma religiosidade vagamente mística e é de grande importância para a história da literatura universal e da história espiritual da Europa, pois é um dos sintomas de um renascimento religioso durante o século XVIII. Sem deixar de ressaltar que esses movimentos místicos eram mais ou menos subterrâneos, ocultados pelo racionalismo predominante do século.
No final do século XVIII a poesia mística torna-se herética, a combinação de sentimentos coletivos e acentos revolucionários são característicos de Willian Blake, poeta lírico porta-voz de todos os anjos e demônios do Universo, com uma das obras mais vastas e difíceis jamais criadas por um poeta inglês. Autor de escritos inimagináveis.
Em Samuel Richardson teremos os romances que são versões dialogadas da literatura edificante do puritanismo, sucesso fabuloso da mistura entre moralismo e sentimentalismo.
Em Werther, vemos o intelectual pequeno-burguês que procura refúgio em sua natureza pessoal, individual, preferindo amaldiçoar o Universo e meditar sobre o suicídio em vez de fazer revolução. Este romance se desprende das literaturas velhas, sonolentas e outras. É o primeiro grande romance moderno da literatura alemã.
Tanto o romance quanto o drama sentimental são expressões de um profundo egoísmo, que essa pequena burguesia urbana luta para arrancar através das lágrimas, esquecendo-se das consequências da revolução. A alta literatura para uso do novo público foi um experimento que acabou em subliteratura, em plebeização, eram gêneros revolucionários, mas que não era capaz de fazer a Revolução, pois não a pretendia, era composta pelo romance sentimental, drama burguês, idílio rústico e romance “gótico”.
Essas consequências revolucionárias só irão surgir quando os intelectuais começarem a fazer literatura com formas genuinamente populares, temos em Goethe o maior representante dessa literatura populista, autor do mais poderoso romance sentimental.
“O século XVIII ampliou imensamente a matéria de todas as ciências. O conhecimento ou novo conhecimento dos mundos árabes, indiano, chinês; a revelação da pré-história das nações germânicas e célticas; a exploração científica da América Ibérica pelas expedições de cientistas; a descoberta do Pacífico e de suas ilhas pelas viagens de Cock; a ampliação do Universo pelos astrônomos – tudo isso ampliou os limites do ser humano no tempo e no espaço. E para assimilar esses novos mundos, não se precisava de cultura aristocrática nem do conhecimento das línguas antigas. O pré-romantismo é o primeiro grande movimento literário na história europeia que não se inspira na Antiguidade greco-romana. É uma Renascença anti-renascentista.”
Neste mesmo capítulo, somos apresentados a Diderot, autor de obra imensa e incoerente, composta de tratados filosóficos, sensualismo e depois o materialismo, tratados estéticos defendendo o pré-romantismo, críticas às pinturas, escritor de romances e contos, dramas burgueses e enfim a direção da Enciclopédie, um instrumento essencial para a preparação da Revolução.
Continuando, Carpeaux nos traz detalhes de Jean-Jacques Rousseau, que, segundo ele, “é um dos raros homens que conseguiram modificar a face deste mundo.” Seus escritos são hoje pouco lidos, mas isso não importa, pois os seus conteúdos pertencem ao pensamento comum da humanidade, Rousseau tornara-se um símbolo, ele lutou contra o materialismo, o racionalismo e o progressismo de uma civilização inteira. Lutou contra as convenções impostas pelos poderes estabelecidos e tinha obras para combatê-las, Discours sur l’inégalité contra a ordem social, Nouvelle Héloise, contra a ordem moral, Contrat Social, contra a ordem política e seu instrumento para formação do futuro, na pedagogia sistemática Émile.
O Último Classicismo
O pré-romantismo, contra todas as expectativas, tornou-se um novo classicismo.
Na Alemanha, continuamos com a dificuldade de interpretação quando a comparamos com o restante da Europa, pois nela temos Goethe, que é considerado pelos alemães como o maior clássico europeu, parece ao restante dos europeus como um dos maiores românticos. Na verdade, os manuais costumam separar três fases na Alemanha: o Sturm und Drang, que é o pré-romantismo alemão, situa-se entre 1760 e 1780; o classicismo, entre 1780 e 1800 e o romantismo entre 1800 e 1830. Goethe viveu de 1749 a 1832, participou das três fases.
A Alemanha só conseguirá se reintroduzir na Europa, com o classicismo da Ilustração do qual Wieland é o principal representante alemão, com o sucesso que alcançara, em sua revista Teutscher Merkur, editada entre 1773 e 1789. Surge a primeira figura europeia da literatura alemã, Winckelmann, que criou um novo classicismo europeu, o de Goethe e Chénier. Com o estudo da Bíblia luterana e do Homero grego, Klopstock confirma o propósito de tornar-se o Milton de sua nação, ele criou uma nova linguagem poética, grave, solene e digna, a língua de Goethe, Schiller e Holderlin.
Como representante do Sturm und Drang, Goethe apresenta medievalismo e shakespereolatria, sentimentalismo revoltado e deseperado, poesia popular, ambições titânicas, fáusticas, problemas de relações entre os sexos, vagabundagem letrada, discussões sobre Hamlet, enfim, todos os motivos e preocupações do Sturm und Drang.
Esse último classicismo teve fortes influências gregas e foi o último capítulo do pré-romantismo, ele não se limitou à Alemanha, foi um movimento europeu, consequência da Revolução.
“Dentro do último classicismo é possível distinguir três fases estilísticas: na primeira ainda prevalecem os elementos romanos; na segunda, o fundo pré-romântico é mais sensível; na terceira estabelece-se o equilíbrio de um classicismo burguês. As três fases não se sucedem em ordem rigorosamente cronológica. Não se trata de uma evolução, e sim de três soluções diferentes de um mesmo problema: romper a aliança entre o Classicismo e a Ilustração, para chegar do classicismo aristocrático ao classicismo burguês.”
Também conheceremos outros grandes autores do último classicismo, entre eles Alfieri, Valdés, Chénier (já como um precursor do Romantismo), Foscolo, Jane Austen, Holderlin, Schiller e Goethe.
Johann Wolfgang von Goethe utilizava a realidade, que fornecia a ocasião e a matéria, para realizar sua poesia lírica, uma poesia de ocasião. Esses casos particulares tornarem universais, causando um efeito espantoso, criando uma ciência especializada, que vinha se ocupando de todos os pormenores da vida de Goethe. O grande mistério deste autor é o equilíbrio, sua obra compreende todo o espectro das emoções humanas. Ele percorreu dialeticamente as seguintes fases literárias: pré-romantismo, através do classicismo, até o romantismo, chegando a um realismo que era unicamente seu.
“Goethe resumiu todas as Renascenças passadas e antecipou o realismo do século por vir. Foi a última das Renascenças.”
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