HOSPITALIZAR OU DESOSPITALIZAR?
A quem interessa uma internação hospitalar afinal?
Os diferentes níveis de complexidade da assistência a saúde no Brasil são uma forma muito clara e objetiva para os profissionais envolvidos na rede de atenção. Entretanto para o paciente, nem sempre essa visão está clara. O que resulta na má utilização dos recursos disponíveis quer seja na saúde pública ou suplementar.
Na virada dos modelos de gestão na saúde e na busca pela sustentabilidade e lucro muitos fatores são de relevância e a eficiência tornou-se um conceito muito mais amplo, que tange não só o atendimento, qualidade dos serviços de hotelaria, ou complexo tecnológico investido no diagnóstico. Abrange a eficácia de uma internação e liga-se intimamente a eficiência medida pelas complicações / eventos adversos oriundos de uma internação, ou reinternações e uma série de outros indicadores.
Em publicação do IESS em 2013, vimos que ...
... Diversos estudos reportam que os gastos desnecessários representam entre 20% e 30% do dispêndio total com saúde nos Estados Unidos. Com base no PIB americano de 2011, isso significaria um desperdício entre US$ 543 bilhões e 815 US$ bilhões. o Esse fenômeno está relacionado a uma série de distorções observadas no mercado de bens e serviços de saúde, estas são: a) falhas assistenciais, de coordenação e de precificação, uso desnecessário, complexidade administrativa e práticas fraudulentas e abusivas.
A longa permanência é um dos fatores complicadores deste resultado para as instituições. se de um lado oferece uma conta "alta" para a operadora quando e fala apenas de custos, observamos que o hospital deixa de ganhar por causa do baixo "giro de leito". E mais, o paciente, o principal interessado, perde e muito. Não apenas financeiramente mas em saúde. Além deste, toda uma cadeia, a população, por exemplo, que se serviria daquele leito, que está mal utilizado, sofre com sua indisponibilidade.
De acordo com o Institute of Medicine (IOM, 2000), os eventos adversos preveníveis (EAP’s) decorrentes das falhas assistenciais, como infecções hospitalares e reações adversas a medicamentos, determinaram um custo direto entre US$ 17 bilhões e US$ 28 bilhões ao setor de saúde americano (1,3% a 2,1% no gasto total com saúde) em 1999. Adicionalmente, segundo dados da Amostra Nacional de Hospitalizações (Nationwide Inpatient Sample — NIS), no ano 2000, as infecções evitáveis estenderam o tempo médio de permanência hospitalar em 10 dias, elevaram a taxa de mortalidade para 4% e elevaram o gasto médio da internação em US$ 39 mil (Zhan e Miller, 2003).
Auditoria e Desospitalização
Diante desta situação vemos a auditoria concorrente atuando no acompanhamento destes casos, em busca de identificar fatores relacionados a longa permanência dos pacientes internados nas instituições hospitalares.
Do total de casos de Longa Permanência abordados neste estudo foram evidenciados 65,4% como fator principal da LP os fatores prévios inerentes aos pacientes, como por exemplo as doenças crônicas, e discorreram sem que fosse evidenciado demais fatores que pudessem determinar a permanência do beneficiário hospitalizado. Entre os 34,6% restantes foram evidenciados fatores relacionados às ações e fluxos que poderiam impactar na permanência do beneficiário em questão, sendo este impacto contabilizado em dias de permanência que transcorreu a mais durante o período de hospitalização.
Observamos nu cenário geral que até 40% das causas estão ligadas a processos administrativos, entretanto cerca de 60% das causas estão relacionadas às condições crônicas do paciente, muitas vezes mal gerenciadas.
Estima-se que, no total, o uso desnecessário de serviços e insumos resulte em um desperdício de recursos entre US$ 158 bilhões e US$ 226 bilhões para o sistema de saúde americano (Berwick e Hackbarth, 2012).
Nessa conta, inclui o uso excessivo de antibióticos, a realização de cirurgias em pacientes para os quais um período de observação seria mais aconselhável e os cuidados intensivos em pacientes terminais, que poderiam receber cuidados paliativos e domiciliares.
Fato é que uma internação hospitalar, estendida expõe a pessoa a vários riscos, que potencializam e agravam o quadro geral da saúde de uma pessoa. E alguns casos se bem avaliados pelo médico pode ser seguramente tratados no conforto de suas casa, com equipe especializada e seguindo recomendações específicas.
Um método seguro de avaliação, um plano de cuidados elaborado criteriosamente e o apoio dos familiares\cuidadores e paciente na adesão são fundamentais para o sucesso desta modalidade de tratamento.
Gerenciamento de Crônicos
Finalizar um tratamento de internação hospitalar ou domiciliar e não atentar para as condições que podem gerar reinternação é um erro muito comum. Pacientes portadores de doenças crônicas, frequentemente descompensam e voltam a instituição hospitalar, com complicações, situações que poderiam ser evitadas ou então, que poderiam ser tratadas em casa quando inicialmente detectadas .
Um bom acompanhamento destes pacientes pós internação, ou o acompanhamento do cuidado domiciliar, que deve contar com equipe multiprofissional e serviço social em atuação conjunta com paciente e família/cuidador, principalmente nos casos de crônicos com dependência funcional pode mitigar as reinternações, agregar qualidade de vida e saúde ao indivíduo.
Uma continuidade de serviço “mesclado” entre gerenciamento de caso, promoção de saúde e desinstitucionalização. Uma excelente oportunidade de estar próximo ao paciente e auxiliar na condução de fluxos corretos dentro da rede e os níveis de atenção. Trazer paciente e família para protagonizar seu processo de promoção, recuperação, reabilitação e prevenção da saúde.
É possível por meio da equipe de referência, como primeiro contato na avaliação e detecção de sinais de infecção, por exemplo, evitar reinternações frequentes disparando Intervenções específicas, como ATB IV domiciliar, por exemplo, quando houver oportunidade.
Ter canal de comunicação imediata e realizar monitoramento telefônico sistemático, dispor de profissional que avalie e disparar visita profissional para definição de intervenções específicas em domicílio ou outros são formas de proceder o gerenciamento de crônico com eficiência.