Humilhação não é ( e nunca deveria ser ) o caminho para o sucesso

_ Sua burra!!! Você está demorando demais para trazer a peça que lhe pedi!

_ Desculpa chefe, mas eu cortei a mão enquanto a pegava no estoque e está sangrando e doendo muito.

_ Eu perguntei alguma coisa da sua mão? Eu quero a peça agora, pois o cliente está esperando a 20 minutos na recepção!

_ Mas chefe....(slap)

_ Ia falar alguma coisa? Quer saber? Vai limpar o chão que é a única coisa que sabe fazer. Seus cursos técnicos e de graduação são lixos. Você não consegue nem vender e entregar uma simples peça para o cliente.

_ Sim, chefe ( snif )

Figuras de linguagem são muito utilizadas em textos, peças publicitárias, músicas e no nosso cotidiano. São recursos não convencionais da língua, que utilizamos para tornar a frase mais expressiva, com intenção de fazer com que a pessoa que for ler, entenda a mensagem com mais efetividade.

Como exemplos de figuras de linguagem, temos a Metáfora,  que são palavras utilizadas nos textos com sentidos modificados, porém com certa analogia.

"A nascente de um sentimento 
não esconde lugar nem momento 
para surgir e suas águas claras fluir 
Como um rio que nasce no fundo de mim ".

Outas figuras de linguagem conhecidas são a Ironia, quando queremos criar um humor sutil, o Eufemismo, para suavizar a mensagem transmitida, o Pleonasmo, que reproduz redundância e a Hipérbole, que consiste em exagerar uma ideia de forma intencional na expressão transmitida.

"Eu  nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até  morrer de fome
Se você não me amar"

O diálogo retratado no início do texto poderia ter sido uma Hipérbole criada para chamar a atenção dos leitores. Poderia, mas não é!!! O diálogo acima, por mais incrível que se possa imaginar em pleno século XXI, é uma adaptação para o meu dia-a-dia do discurso da vitória da Dayse Paparoto, ganhadora do MasterChef profissionais exibido hoje (14/12/2016) de madrugada pela rede Bandeirantes.

A vencedora disse ter trabalhado com "grandes chefs" no passado, e que além da humilhação sofrida por ela ( oi? grandes chefes humilham?), já até havia levado tapa deles ( é isso mesmo produção? agressão física a um funcionário? ) e que sua vitória tinha mostrado que tudo havia valido a pena ( ganhar o MasterChef é mais importante do que a integridade física? ). E mais, outros participantes relataram que esse tipo de situação é normal e que suportar esse tipo de situação define o grande cozinheiro do futuro.

Esse texto não fala sobre resiliência, que pode até ser tema de um outro artigo, pois para suportar e ainda persistir sem desistir e prosperar na carreira, só com muita resiliência. O fato intrigante nessa história é a reverência a grandes "chefes" com esse tipo de atitude considerado por muitos como algo normal e necessário para o sucesso de alguém em sua carreira. Mas será que se eu fizesse isso com um funcionário ou sofresse esse tipo de agressão, não seria considerado assédio moral? Por que então essa indiferença com esse tipo de profissão?

O que mais me preocupa é como esse tipo de mensagem pode ser espalhada por uma rede aberta e não ter nenhum tipo de repercussão negativa. Isso mostra aos jovens que se trata de algo corrente, que deve aceitar se quiser ter sucesso na cozinha e que pode replicar o mesmo tipo de comportamento quando for alguém importante. Não, isso não é verdade e não deve ser o caminho de nenhum grande profissional, independente do ramo que seja. Como disse Içami Tiba em seu livro, Quem Ama Educa, escrito para pais que querem aprender a educar seus filhos mas que serve muito bem para o contexto: "Quem grita perde a razão e quem perde a cabeça (razão) fica um animal". E quem bate e humilha que categoria se enquadraria?

Segundo a Dayse, em uma situação em que atrasou um prato por ter tido a mão queimada a poucos segundos e por estar sofrendo de dores fortes, o líder virou apenas lhe perguntou onde estava o risoto que o cliente estava esperando. Respeitar o cliente é algo louvável e raro hoje em dia, mas existe algum sentido quando esse é obtido com total desrespeito ao próprio funcionário? Como que se pode esperar o melhor dos mesmos, quando esses não são tratados como seres que possuem sentimentos?

Esse tipo de comportamento de chefes que se consideram superiores e que tratam mal aos outros me corrói por dentro (Metáfora). Mesmo que tenha sido apenas frescura de mulher (Ironia) e que a queimadura não fosse fazer com que a Dayse passasse dessa para uma melhor (Eufemismo), a liderança do líder (Pleonasmo) deveria priorizar um milhão de vezes (Hipérbole) a integridade e os sentimentos do colaborador sobre qualquer outra prioridade, mesmo que isso significasse perdas momentâneas.

Nos próximos artigos, discutirei mais profundamente cada um dos comportamentos e características que os líderes deveriam possuir no mundo onde o respeito entre as pessoas deveriam se sobressair a qualquer outra prioridade.


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