IA não é Moda, é Life Changer.

IA não é Moda, é Life Changer.

Por Inês Vaz Pereira

 A jornada da Inteligência Artificial (IA) iniciou-se a diferentes velocidades. Seja com ceticismo, seja com positivismo, não há como evitar o papel transformador que está assumindo. E, de semana para semana, novas realidades em construção permitem tornar visíveis os impactos que, intrinsecamente, afetam o cotidiano de todas as pessoas. O tempo que está sendo dado ao avanço da experimentação reflete realidades disruptivas e, consequentemente, novas formas de trabalhar. Mas, apesar dessa velocidade e proporção, as “nossas pessoas” não têm conseguido processar o entendimento de todos os fatos.

Mais do que desafio tecnológico, coloca-se o desafio da evolução das competências das pessoas. Num processo de “adivinhação” das competências do futuro, as empresas lutam por antecipar e se preparar, mas será que já estaremos num estágio suficientemente maduro na gestão de IA para conseguirmos capacitar as nossas pessoas para o novo mundo do trabalho?

Nesta fase, apela-se à reflexão. A capacidade das pessoas poderá ter de ir além de uma simples lista de competências, seguida da habitual lista dos melhores instrumentos de formação e de desenvolvimento. A capacitação poderá ter de ir mais longe, mediante modelos proporcionalmente inovadores à rapidez da IA, para se evitar o fracasso da transformação, se deve apostar num modelo de desenvolvimento de competências “colaborativo-complementar”, ao invés de um modelo relativo e que se limite a seguir as tendências de mercado.

Inúmeros casos de estudo são coincidentes nas principais competências humanas que permitem construir um mundo melhor de trabalho em IA. Mas por onde começar?

Dado que as máquinas não conseguem replicar atualmente a capacidade de os humanos se conectarem com outros humanos, a inteligência emocional deverá ser uma das competências mais desenvolvidas para a adaptação e interiorização das novas formas de trabalhar trazidas pela IA.

Relacionada com este fato, a competência de comunicação clara e consistente destaca-se como essencial ao sucesso de transformação. É importante assumir que nem todas as pessoas numa empresa estão ao mesmo nível técnico de IA. Isso implica que as competências de comunicação sejam, portanto, críticas para garantir que as partes interessadas do projeto sejam conscientes do progresso e do seu impacto na totalidade na sua organização.

Muitas são as teorias que afirmam que IA vem “roubar” a nossa capacidade de pensamento crítico. No entanto, deverá ser o oposto. Os pensamentos crítico e analítico são competências muito valorizadas quando se trabalha com sistemas de IA, especialmente à medida que se progride na gestão da mudança.  Ter fortes competências de pensamento crítico permite produzir soluções inovadoras para problemas complexos e ajuda a resolver problemas com lógica e raciocínio, em vez de emoção.

A curiosidade destaca-se, historicamente, como uma competência essencial ao progresso. A genuína curiosidade é um estado intelectual que busca consistentemente mais conhecimento por um determinado assunto, tornando-nos especialistas. Apresenta-se como a competência mais colaborativa para a evolução da IA, dado que permitirá trabalhar fora da zona de conforto, pensar “fora da caixa” e poupar soluções que ultrapassem os limites das melhores práticas de gestão no seu negócio e setor.

Ainda se vive na era dos dados: nunca se produziram tantos dados e a uma velocidade impossível de processar humanamente. Os computadores em muitos cenários, são agora capazes de processar informações melhor do que o cérebro humano. No entanto, cabe aos humanos tomar decisões de negócios nas organizações, considerando as implicações da decisão e das pessoas na organização. A competência de tomada de decisão é, portanto, importante para as carreiras de IA.

Em suma: não é só em competências do futuro ou em redução do déficit das mesmas que a IA pode “tocar nas pessoas”. Um estudo recentemente publicado pela Beatriz Sanz Sáiz, EY Global Consuling Data and AI Leader (2024), conclui que o desenvolvimento de competências em IA (técnicas e não técnicas) contribui para igualdade de oportunidades, em contraste com os avanços tecnológicos das últimas décadas. O avanço desta tecnologia poderá promover uma maior inclusão e diversidade, o que poderá fomentar um crescimento econômico mais responsável socialmente.

Dificilmente estas duas letras, “IA”, passarão despercebidas na nossa sociedade. A curiosidade em aplicar na vida real os seus melhores conceitos inovadores e benefícios já pede por si uma nova forma de trabalhar – que movimento a roda do conhecimento e a experimentação, todos os dias. Não é uma moda, é uma mudança que continuará a acompanhar o nosso desenvolvimento humano.

 

Por Inês Vaz Pereira. É partner de People Consulting da EY, com responsabilidades nas áreas de consultoria e tecnologia em recursos humanos em Portugal, Angola e Moçambique.

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