A Importância da Cultura nas Estratégias Corporativas

A Importância da Cultura nas Estratégias Corporativas

A cultura organizacional é frequentemente vista como um ativo intangível, difícil de mensurar. Entretanto, quando se trata de processos estratégicos como turnaround, spin-off, due diligence, e startups, a cultura se torna um fator determinante para o sucesso ou o fracasso. Neste artigo, abordo como a cultura organizacional pode ser um motor para a execução eficaz dessas estratégias e o papel crucial dos conselheiros nas decisões que impactam diretamente os resultados.

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Turnaround: Reestruturando a Identidade Cultural

Nos processos de turnaround, em que uma empresa em dificuldades financeiras ou operacionais busca uma transformação radical, a cultura é um elemento essencial. A organização precisa de um “reset” não apenas em suas operações, mas em sua mentalidade. Em um dos casos que vivenciei, a primeira medida foi entender os valores que a equipe preservava, enquanto incorporávamos novas práticas focadas em eficiência e agilidade. A comunicação foi fator-chave para quebrar qualquer resistência interna, pois alinhar as lideranças e suas respectivas equipes, para criar um ambiente de transparência e coesão, facilitaria o entendimento e comprometimento para as ações necessárias.

Outro processo de extrema relevância neste período foi o plano de remuneração e incentivos para toda a organização. Assegurar que as recompensas financeiras e não financeiras refletissem e incentivassem comportamentos alinhados à cultura foi desafiador. Foi importante desenvolver e definir indicadores de desempenho não apenas financeiros, mas também comportamentais, que reforçassem as estratégias e a cultura da empresa, cujo comportamento colaborativo tinha grande valor. Era muito claro que, se a empresa alcançasse as metas corporativas (100%), haveria chances para todos, desde que a equipe de área atingisse um limite mínimo de suas metas (70%) e, finalmente, o indivíduo chegasse a um patamar mínimo de seus objetivos, definido em 3, considerando um intervalo entre 0 e 5. No entanto, se o resultado de uma equipe de área somasse 70%, significava que outra ou outras áreas deveriam compensar a diferença para que a empresa realizasse 100% das metas totais corporativas.

A clareza dos objetivos e o direcionamento do Conselho para os executivos, neste processo, foi decisivo, uma vez que demonstraram estar atentos não apenas às métricas financeiras, mas também ao impacto das mudanças propostas sobre a cultura da empresa. O Conselho apoiou a evolução cultural da organização, impulsionando a transformação de maneira mais eficiente. A tomada de decisão foi embasada tanto no diagnóstico financeiro quanto na capacidade da empresa de abraçar uma nova mentalidade.

Spin-off: Construindo uma Nova Identidade

Em um spin-off, a criação de uma nova empresa a partir de uma já existente, requer mais do que a separação de operações e ativos. Trata-se de construir uma nova identidade cultural. Vivenciei essa situação ao fazer parte de uma equipe que ajudou uma organização na criação de uma unidade independente. O maior desafio foi transferir o que havia de mais valioso na cultura original, como a inovação e o espírito colaborativo, ao mesmo tempo que deixamos para trás práticas obsoletas que não seriam compatíveis com o novo cenário.

Neste caso, o conselho de administração entendeu que a cultura da nova organização deveria estar alinhada com os objetivos estratégicos da nova empresa, apoiando os movimentos recomendados pelo grupo executivo. O alinhamento e mobilização das lideranças e, mais uma vez, a comunicação, foram os pontos altos para o sucesso deste processo.

Não há dúvidas de que conselheiros experientes ajudam a moldar uma visão clara para uma nova empresa, avaliando o que deve ser mantido e o que deve ser transformado. Suas decisões, frequentemente baseadas em uma visão de longo prazo, têm um impacto profundo na forma como a nova organização será percebida pelo mercado e pelos seus colaboradores.

Due Diligence: Avaliando Mais do que Números

Em processos de due diligence, o foco costuma estar nas finanças, contratos e conformidade. No entanto, ignorar a cultura organizacional durante a avaliação pode ser um erro caro. Em uma das diligências em que participei, uma análise profunda da cultura corporativa revelou que o potencial de integração de uma aquisição seria significativamente comprometido por uma cultura de aversão ao risco, totalmente incompatível com a estratégia da empresa adquirente. Ajustes culturais pré-aquisição ajudaram a suavizar essa transição e evitaram uma falha estratégica.

O conselho, nesse episódio, foi fundamental para suportar o grupo executivo, garantindo que a due diligence fosse além dos aspectos legais e financeiros.

Importante dizer que é papel dos conselheiros questionar e avaliar como a cultura da empresa-alvo pode impactar a integração e os objetivos estratégicos de uma transação.

Startups: A Cultura como Alicerce para o Crescimento

A cultura em uma startup é o ponto de partida para todas as decisões estratégicas. Startups bem-sucedidas costumam adotar uma cultura que valoriza a inovação, a flexibilidade e a capacidade de adaptação rápida. Em uma experiência com startup, percebi que a velocidade de mudança no ambiente de negócios exigia uma cultura altamente responsiva, que permitisse falhas rápidas e aprendizado contínuo. Manter uma cultura assim enquanto a empresa cresce pode ser um desafio, mas é o que muitas vezes diferencia startups bem-sucedidas de outras que falham na escalação.

Conselheiros de startups frequentemente assumem o papel de mentores e devem, além de orientar a gestão, assegurar que a cultura inicial seja preservada ou ajustada conforme a empresa cresce. Suas decisões, como a escolha de executivos-chave ou a aprovação de rodadas de financiamento, impactam diretamente a cultura organizacional e, consequentemente, o futuro da empresa.

Conclusão: A Cultura como Pilar Estratégico

A cultura organizacional permeia todas as decisões estratégicas de uma empresa, seja em momentos de crise, como no turnaround, ou em processos de expansão, como em startups e spin-offs. Conselheiros têm um papel determinante, não apenas oferecendo uma visão estratégica, mas também garantindo que as decisões de longo prazo estejam alinhadas com uma cultura que suporte a execução eficiente das estratégias. Nesse contexto, os planos de remuneração, tanto para executivos quanto para o corpo funcional, precisam refletir e reforçar a cultura desejada, incentivando comportamentos que estejam em sintonia com os valores e objetivos da empresa. Programas de incentivos eficazes não só ajudam a alcançar metas financeiras, mas também estimulam comportamentos alinhados à transformação cultural.

Ignorar a cultura organizacional pode minar os esforços mais bem planejados, enquanto considerá-la como parte integral da estratégia corporativa e alinhar os sistemas de remuneração a essa cultura pode ser o fator decisivo para o sucesso.


Board Academy Br Carolina Marra Eduardo Gomes, MBA, CCA IBGC Alberto Ansaloni, (MSc) Alessandro Miranda Fernandes Alexandre Sedola André Luis SEIXAS Cristiano Psillakis Deivid Bitti Eduardo Manzano, CFP® Ernesto Sabóia Fabio Moraes Gerson Vargas Gustavo Ramirez Natália Petrucci Paulo Lessa Paulo Martins Thiago Junqueira Penteado Varnei Campos Vitor Antonio Picini Zeev Katz

Natália Petrucci

Conselheira Consultiva | Investidor Anjo | Executiva | Procurement | Suprimentos | Strategic Sourcing | Supplier Management | Category Manager | Supply Chain

2 m

Excelente artigo Bete! No fundo, tudo depende de pessoas. Um belo planejamento estratégico não sai do papel e alcança êxito, sem trabalhar a cultura e as pessoas que a compõem!

Lucas Coelho

Analista de Customer Success | Estratégia de Jornada de Experiência | Otimização de Processos | Relacionamento com Clientes | Startups | Ecossistemas de Inovação

3 m

Excelente artigo, Bete! Você trouxe uma abordagem muito relevante sobre o papel crucial da cultura organizacional nas estratégias corporativas. É interessante ver como a cultura pode ser um diferencial em processos tão distintos como turnaround, spin-off e due diligence. Seu destaque para o papel dos conselheiros e a importância de alinhar a cultura com os objetivos estratégicos é fundamental para garantir uma transformação bem-sucedida. Ótima leitura e muito aprendizado! 👏

Gerson Vargas

Diretor de Supply Chain | Conselheiro | Mentor | Operações | Compras | Gestão | Logística | Reversa | Indústria | Varejo | Telecomunicações | Investidor Anjo

3 m

Elisabete Murad, excelente análise sobre como a cultura organizacional impacta diretamente o sucesso das estratégias! Fica claro que não se trata apenas de finanças ou operações, mas de como as pessoas e os valores da empresa se conectam com as mudanças. Seus exemplos mostram como o papel dos conselheiros é crucial para garantir que essas transições sejam feitas com sensibilidade e foco. Parabéns pelo conteúdo! 

Cristiano Psillakis

Conselheiro I Board Member I Fundador e CEO da Startup - Periódika Nutrition Research I Nexialista I ESG I Agronegócios I Empresas Familiares I

3 m

Excelente artigo!

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