A importância da liderança pedagógica do gestor escolar na gestão da aprendizagem e na prática do monitoramento pedagógico
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A importância da liderança pedagógica do gestor escolar na gestão da aprendizagem e na prática do monitoramento pedagógico

Segundo Marcelo Tadeu Baumann Burgos (2022), [Professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio. Tem experiência de pesquisa e textos publicados na área de sociologia da educação] Acho que refletir sobre a questão da liderança no âmbito das escolas e do sistema educacional requer que a gente, primeiro, fale um pouco sobre o próprio significado da ideia de liderança e de como é que isso chega ao Brasil com muita força, a partir dos anos 1990 e anos 2000. Na verdade, essa é uma categoria muito presente na bibliografia – aliás, no cinema, na literatura anglosaxônica. A ideia de que, seja num bairro, numa instituição ou numa escola mais especificamente, você tem pessoas com qualidades, digamos, peculiares que fazem dela um líder quase natural. Um líder que vai enfrentar determinados problemas, um líder que vai conseguir promover a melhoria de um determinado lugar, um líder que vai ajudar uma escola a produzir melhores resultados, a ser mais equitativa, e por aí vai... Eis que este personagem que surge de certo modo, naturalmente, passa a ser, em alguma medida, objeto de atenção de políticas públicas voltadas para a promoção da liderança; entendendo que a liderança favorece muito o trabalho de responsabilização dos indivíduos pela qualidade dos trabalhos – nos mais diversos segmentos – que eles desempenham. LIDERANÇA NO CONTEXTO EDUCACIONAL No caso da educação, isso vai, durante um certo momento – principalmente no início dos anos 1990 –, fazer com que a figura do líder seja muito associada à figura do diretor ou da diretora escolar. Em alguma medida, esperava-se que essa diretora ou esse diretor tivesse atributos pessoais de carisma, por exemplo, e que a gente sabe que isso não se fabrica. Posteriormente, a bibliografia foi aprofundando um pouco a apropriação da noção de liderança para o sistema educacional e muito especialmente para a escola. E um entendimento que vai se tornando, eu diria, mais interessante, é o de que a ideia de liderança para um país como o Brasil é muito importante porque ela favorece a responsabilidade e a responsabilização individual de profissionais da educação pelo trabalho escolar, pela qualidade do trabalho escolar, pela melhoria dos resultados. Vídeo E, gradualmente, entende-se que o diretor deve ser alguém capaz de animar a produção de um sistema de lideranças no interior de uma escola. A gente sabe que o grande desafio de qualquer política educacional é o de fazer com que a escola seja pensada, concebida como um coletivo. Então, você pode imaginar que a escola tem um coordenador pedagógico que exerce uma liderança, você pode imaginar que uma escola tem professores de determinadas disciplinas que exercem liderança naquelas disciplinas; e o diretor assume um papel de coordenador dessas diferentes lideranças. É claro que isso é algo que vem sendo muito valorizado, nos diferentes cursos oferecidos com essa direção; no próprio processo de recrutamento dos diretores, isso é cada vez mais valorizado. Cada vez mais, o diretor ou a diretora é selecionado, em grande medida, para atuar como um coordenador de diferentes instâncias da vida escolar. Nesse sentido, é importante que o diretor ou a diretora consiga organizar uma equipe, identificando, inclusive, vocações dentro do staff de professores que ele tem, que possam desempenhar esse papel de liderança. Eu acho que é importante, para a gente avançar na conversa, entender que a noção de liderança está muito associada à ideia de responsabilidade. É evidente que não se trata de responsabilizar individualmente ninguém pelo resultado. Mas é de conseguir fazer com que algumas pessoas encarnem esse papel de serem “fiadores” dessa dinâmica coletiva. Isso faz com que você, diretor, diretora, também passe a ter um papel muito importante na interlocução com a rede. LIDERANÇA E GESTÃO ESCOLAR A gente pode pensar, para facilitar o entendimento, em dois tipos que são quase que polares: uma situação em que o diretor se coloca como um porta-voz da comunidade escolar perante a rede; num extremo oposto, um diretor que funciona quase que como um preposto da rede, da secretaria perante a escola. Acho que nenhuma das duas situações é desejável. Na verdade, a ideia é que o diretor possa se colocar como um mediador. Ele é um mediador de conflitos, de questões, de demandas, de expectativas, de necessidades que só a escola... que só quem está na escola conhece e vivencia. Por outro lado, ele é também alguém que leva para a escola comandos que vêm das políticas e dos programas das secretarias, que, de algum modo, precisa fazer com que isso chegue à escola, seja traduzido e aplicado na escola. Então, esse é um papel absolutamente insubstituível do diretor e da diretora. Então, eu acho que esse é um momento em que a gente pode identificar que aquela concepção anterior de liderança vai sendo, de certo modo, ressignificada.

Por outro lado, a gente também tem que lembrar que, seja o professor, seja o coordenador pedagógico e, sobretudo, seja o diretor ou diretora, ele não tem o poder de organização se ele não contar com instrumentos e ferramentas que ajudem nessa direção. Então, eu gostaria aqui de destacar a importância crescente dos mecanismos de avaliação e de monitoramento. Eu acho que fazer gestão escolar hoje sem essas ferramentas é como fazer um voo às cegas. Cada vez mais os profissionais da educação percebem que os mecanismos, as ferramentas de avaliação e monitoramento são indispensáveis para o seu trabalho. Cabe ao diretor fazer com que o sistema de avaliação aconteça da melhor forma, de algum modo, favorecer a avaliação formativa, valorizar os dados produzidos pela avaliação somativa e também produzir, ele próprio, na medida do possível, formas de monitoramento e de produção de evidências acerca do funcionamento da sua escola. Eu acho que isso tudo vai, de algum modo, fazendo com que esse diretor, identificado como liderança, seja percebido como alguém que coordena uma equipe com muitos líderes e, ao mesmo tempo, alguém que mobiliza ferramentas e tecnologias sociais que fazem com que a escola possa se pensar e possa atuar melhor sobre os seus problemas.

LIDERANÇA NA GESTÃO DE PROJETOS ESCOLARES, Uma outra forma de a gente pensar esse conjunto de responsabilidades, que de algum modo pesam sobre o diretor ou a diretora, é separando um pouco aquilo que é a rotina escolar – seja ela administrativa ou pedagógica – dos projetos especiais, dos projetos que, de algum modo, mobilizam professores de diferentes disciplinas, eventualmente mobilizam a escola toda. Esse é um momento, como sabemos, como você, melhor do que ninguém, sabe, diretora ou diretor, é um momento sempre muito especial para a escola. É um momento em que, de algum modo, você consegue fazer com que estudantes, às vezes, família, comunidade, além dos profissionais, participem ativamente da vida escolar. É um momento não só de maior integração, mas é um momento também de aprofundamento de alguns aspectos pedagógicos que se quer valorizar, que se quer explorar. Eu diria que é muito por essa porta que a Educação Financeira pode encontrar, digamos assim, um lugar confortável na vida escolar. Ela se presta muito bem a projetos transversais, ela permite colocar em diálogo Matemática, Língua Portuguesa, História, Geografia. Ela permite de algum modo trazer a vida das crianças, adolescentes e das famílias para alguma coisa que a escola trabalha pedagogicamente. Então eu acho que este é um dos momentos mais importantes, inclusive, da gestão escolar. A gente quando fala em gestão, a gente tem que ter em mente que a gestão necessariamente coloca luz naquilo que vai além da rotina. O que é rotineiro, todos os atores, de algum modo, fazem; de algum modo, você assegura que aquilo aconteça sem grande esforço. É no momento em que você define alguns projetos específicos que você quer, de algum modo, que aconteçam e que tenham impacto sobre diferentes dimensões, que o gestor propriamente se coloca. Eu diria que esse é um dos momentos altos da figura do diretor ou da diretora como uma liderança na vida da escola.

Fontes:

Transcrição video liderança escolar do gestor.pdf (escolavirtual.gov.br)

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