A importância das soft skills para o bom exercício da função de conselheiro consultivo.
Programa de Formação "CES - Conselho Empresarial da Saúde" da Board Academy - Aula 5, ministrada por Rafaela França.

A importância das soft skills para o bom exercício da função de conselheiro consultivo.

Há diferenças fundamentais entre os conselhos de administração e consultivo de uma organização. Enquanto o primeiro possui caráter deliberativo, tendo os conselheiros dever fiduciário no que toca ao direcionamento estratégico, à tomada de decisões e à supervisão e monitoramento da organização, o conselho consultivo não possui poder deliberativo, mas atua como órgão de apoio no direcionamento estratégico da organização, o que retira dos conselheiros dever fiduciário.

Entretanto, desses conceitos não se deve apressadamente concluir da irrelevância da implementação de um conselho consultivo. Conselheiros consultivos bem escolhidos, pela sua integridade, competência e poder de se envolver de forma construtiva na organização, criam ambiente propício a um melhor direcionamento estratégico e inovador, exatamente por sua independência, visão e conduta proativa.

Nesse ponto deve-se atentar para a qualificação que deve ser considerada para a boa escolha de um conselheiro consultivo.

Por primeiro, extremamente importante a análise do currículo do candidato a conselheiro consultivo, as suas chamadas hard skills, ou seja, seus saberes formais e informais, obtidos em graduação, pós-graduação, cursos e treinamentos, sua experiência profissional, seu conhecimento do mercado em que a organização atua, o que será fundamental para identificação das questões de risco a serem analisadas pelo conselho.

Entretanto, essas habilidades concretas não são suficientes para a escolha de um bom candidato, eis que possível haver preenchimento de qualificações formais e informais sem que o candidato tenha habilidade para o bom exercício da função, por não possuir as chamadas soft skills necessárias para um desempenho positivo, crítico, empático.

E quais seriam essas soft skills?

Não pretendemos aqui apresentar uma lista exaustiva, mas simplesmente suscitar discussão sobre a questão.

Uma das mais importantes competências de um conselheiro é a capacidade de praticar escuta ativa. Toda comunicação envolve um emissor, um receptor e uma mensagem. O que é entendido pelo receptor, por seu turno, normalmente depende de seus filtros pessoais. Usualmente em toda comunicação há um arco de distorção, pelo fato do receptor conferir mais peso a um dos aspectos da mensagem segundo suas próprias convicções. Um conselheiro deve ter a habilidade de se despir de suas próprias razões para ouvir de forma ativa a opinião do outro, em especial quando essa é divergente. Somente com escuta ativa abre o conselheiro oportunidade para um compartilhamento positivo de ideias, para que da diversidade possa eventualmente surgir solução inovadora, que dificilmente seria alcançada por apenas um indivíduo.

Por outro lado, um conselheiro deve possuir raciocínio rápido sob pressão e incerteza; ética e integridade para que suas ideias sejam consideradas pelos demais; autocontrole, em especial sendo capaz de expor suas ideias com convencimento (uso de argumentos racionais) e persuasão (uso de argumentos emocionais); além de flexibilidade.

Essas habilidades podem parecer óbvias, mas há barreiras para uma comunicação eficaz que muitas vezes são negligenciadas. Um conselheiro deve evitar a todo custo assumir que não haja necessidade de conversar; ou praticar comunicação em um só sentido, com a mera informação ao outro da mensagem; ou ainda enviar mensagens desconexas. 

A comunicação mal realizada, ao invés de propiciar o encontro de soluções, acaba por criar obstáculos ao alcance da própria função do conselho consultivo, que é de, com independência, proporcionar apoio e sugestões inovadoras e eficientes aos órgãos executivos da organização.

Cabe, pois, a um bom conselheiro desenvolver com maestria a habilidade de se comunicar de forma empática, aberta, clara e com flexibilidade para aceitação de pontos de vista nem sempre concordantes.

Outro ponto importantíssimo é o entendimento de que a comunicação nem sempre é feita apenas por palavras, exercendo aqui a linguagem corporal um papel crucial no entendimento da situação. A linguagem corporal pode envolver desde aspectos visuais (como respirar elevando o tórax), auditivos (falar com voz uniforme e agradável, manter a respiração regular) até sinestésicos (uso de gestos para falar, tocar as suas roupas ou o corpo). Um conselheiro deve ter habilidade de usar esses aspectos bem como compreender as reações dos interlocutores durante a conversa. Portanto, deve evitar provocar emoções desagradáveis, aprender a usar palavras que gerem sensações positivas, evitar qualquer tipo de ameaça, discordar de forma gentil, atuar como facilitador para a tomada de decisão pelo outro.

Essas habilidades, ademais, não devem ser utilizadas como meras táticas, pois esse proceder somente gerará resultados imediatos. Devem, ao contrário, ser encaradas como estratégias com foco no encontro de soluções a longo prazo.

Soft skills são, sem dúvida, um diferencial para o bom exercício da função em um conselho consultivo. O conselheiro capaz de se distanciar da situação, exercer escuta ativa, avaliar e analisar todos os argumentos, propor possibilidades para que se atinja um resultado fundado em consenso, para, com isso, criar relacionamentos, contribuirá de forma efetiva para a organização, criará pontes e exercerá sua função em prol de todos os stakeholders, dentro dos três pilares, econômico, social e ambiental, a serem observados para que a organização atinja seus objetivos a longo prazo.

Daniel Souza

Negócios | Liderança | Mentoria de Carreira | Gestão | Medical Devices | Pharma

10 m

Christine Santini, FCiarb nunca foi tão urgente e fundamental olhar para o comportamento, olhar para as atitudes, para o walk the talk. Não podemos mais olhar de forma contemplativa para tantos Talks sem Walk. E, neste terreno, as sofskills são questão de sobrevivencia. Diferencial impar de qualquer conselheiro. Parabens pelas provocações!

Excelente texto..... poucas leituras que já realizei que trazem esta conceituação no que tange a estas diferenças.

Farias Souza, BOARD

LinkedIn Top Voice | Conselheiro de Conselheiros | CEO - Presidente | Lifelong Learner | Investidor e Empreendedor Serial | Crescimento e Inovação | Mentor de Negócios | Apaixonado por Pessoas e Negócios

11 m

Perfeito Christine Santini, FCiarb 🤩💙

Thiago Marinho Nunes, FCIArb

Independent arbitrator & Law Professor, Fellow of the Chartered Institute of Arbitrators (FCIArb)

11 m

Ótimo texto caríssima Christine Santini, FCiarb !

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Christine Santini, FCiarb

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos