A importância de Princípios para uma Cultura forte

A importância de Princípios para uma Cultura forte

É muito comum encontrar Visão, Missão e Valores como síntese da identidade de uma empresa, porém estes conteúdos não são suficientes para dar corpo e vitalidade à cultura. Isto ocorre porque Missão e Visão, se bem desenhadas, dizem respeito à essência da organização, o porquê de sua existência, e os valores se situam no âmbito de atitudes e crenças individuais. Nenhum destes conteúdos lida com os aspectos de gestão efetiva da empresa no seu dia a dia, o modo de conduzir as decisões, as orientações para lidar com processos, as práticas necessárias de inovação, etc. Este é o papel dos Princípios, são as práticas que viabilizam o futuro desejado.

Consideremos a empresa como um sistema complexo - caracterizado por interações interdependentes e não lineares entre múltiplos componentes (pessoas, processos, tecnologias e ambientes externos) - que tem um propósito comum. Neste caso podemos enxergar os princípios como forma de organização deste sistema. Princípios de gestão claros fornecem uma estrutura orientadora que ajuda a navegar e administrar essa complexidade, garantindo que todas as partes do sistema trabalhem de forma coesa e eficaz. É uma estrutura que cria as margens e limites de ação, inspira e induz, e permite a cada pessoa refletir sobre a melhor maneira de lidar com as situações que ocorrerão em seu trabalho.

Talvez o caso mais conhecido e bem-sucedido de adoção e prática de princípios seja o da Toyota, com seu famoso 'Toyota Way', composto originalmente por 14 princípios. O mais interessante, neste caso, é considerarmos o cuidado, o detalhe, a precisão com que foram escritos. Vejamos, por exemplo, o Princípio Genchi Genbutsu (Ir à origem): "vá à fonte, observe e verifique os fatos por si mesmo, no início do processo, assim terá a certeza que tem a informação certa que precisa para tomar uma boa decisão".

Outro exemplo vem de uma empresa que passava por uma transformação que demandava forte guinada para o uso de dados em seus processos, e um dos Princípios elaborados foi: “Direcionados por dados: Consistência e profundidade no uso de dados são critérios para todas as nossas decisões. Desenvolvemos continuamente a competência de inteligência de dados como diferencial para decidimos de forma descentralizada, resolvendo o problema certo, com eficiência, segurança e agilidade”.

Princípios não podem ser um catálogo de regras e normas que devem ser obedecidas sem entendimento. Ao contrário, os Princípios devem estimular a reflexão e a autonomia. Princípios não podem ser vagos ou genéricos, não devem se confundir com valores, e, acima de tudo, necessitam ser autênticos, próprios da empresa e suas pessoas. Para se chegar a este grau de excelência é necessário um processo estruturado de elaboração.

Os Princípios devem ser construídos por um grupo de pessoas que conheça e viva de perto a realidade da operação da empresa, que tenham visão crítica sobre os hábitos que necessitam ser mudados nas práticas de negócios do dia a dia, e que sejam engajados e inspirados pela visão de futuro da empresa. É este grupo que pode iniciar o processo, refletindo sobre o momento atual da empresa, o contexto competitivo, os desafios estratégicos críticos, e, a partir de sua identidade mais essencial, elaborar as primeiras versões dos Princípios.

Após uma ou duas rodadas de reflexão coletiva com a alta liderança há convergência para a versão final que será disseminada. Ao longo de um processo cuidadoso, usualmente com características orgânicas, os Princípios começam a ser compreendidos na prática, e adotados como hábitos organizacionais angulares.

Uma outra característica importante dos Princípios é que eles devem ser vivos, isto é, experimentados, testados na realidade das decisões e operações da empresa, e ajustados conforme os aprendizados são registrados e reconhecidos como válidos. Neste sentido, os Princípios podem ser os catalisadores da competência de aprendizagem e conhecimento da empresa.

Nesta era de intensas e imprevisíveis mudanças de alto impacto, não basta ter uma estratégia definida, nem mesmo conteúdos de identidade inspiradores, ainda que legítimos. A capacidade de adaptação e a prontidão para evoluir e aprender é que terão papel preponderante para a competitividade da organização. Esta natureza de Cultura Organizacional será melhor desenvolvida por meio de um conjunto autêntico e coerente de Princípios.


Marcos Thiele

Maio 2024


Você ilustra seu post com uma imagem de uma oliveira. Pelo aspecto, tem no mínimo 500 anos. É a perpetuidade que qualquer negócio busca. Nenhuma outra árvore na história da humanidade proporcionou, ao mesmo tempo, luz, remédio e alimento. E você pode corta-la e queima-la, que ela logo dá novos brotos e se renova. Deve ser uma questão de princípios -- mesmo passando por situação adversas, ela continua produzindo seu fruto depois de algum tempo.

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