A importância de saber escolher (ou a narrativa é soberana)
Imagem retirada do Medium: @pedrokaram

A importância de saber escolher (ou a narrativa é soberana)

Quando troquei o jornalismo pelo marketing de conteúdo, a redação por uma agência, eu sabia que passaria por uma curva de aprendizado. Além de deixar o Rio por São Paulo e a carteira assinada por uma sociedade, fui apresentada ao seeding no Orkut e à influência dos blogueiros originais. Sim, porque o Facebook ainda estava para chegar ao Brasil. Um mergulho no digital que só se intensificou e "disruptou todas as minhas competências", como diz a Mônica Magalhães, do @shelovesfuture; e acabou fazendo de mim uma profissional mais preparada e relevante. 

O que eu não esperava é que essa jornada meio acidental fosse confirmar tão claramente a utilidade de uma das habilidades que eu mais treinei nos anos entre jornais e revistas: a edição. Seja na minha caminhada como produtora de conteúdo, planner, gestora de presenças digitais ou, mais recentemente, como executiva, a capacidade de editar está sempre lá, sendo exigida e aprimorada. 

O sentido de editar, pra mim, está resumido em três experiências de vida muito simples. Na primeira, ainda caloura na PUC, ouvi de um professor do qual infelizmente não lembro o nome uma frase que nunca esqueci, creditada ao grande Carlos Drummond de Andrade: "Escrever é cortar palavras". A segunda eu já contei algumas vezes, porque acho muito didática. No milênio passado, eu gostava de colecionar DVDs dos meus filmes favoritos, principalmente porque adorava ver, nos extras, as cenas cortadas comentadas pelos diretores. Uma delas me serve de bússola até hoje. O diretor, do qual infelizmente também não lembro o nome, explica que aqueles foram os últimos segundos retirados do filme, em busca da duração exigida pelo estúdio. Diz que é apaixonado pela cena - diálogos, atuação, iluminação, trilha - mas que ela não era fundamental à história dos protagonistas e, por isso, não tinha chegado à versão final da obra. Individualmente, o elemento era adorável. Mas a narrativa é soberana. 

A terceira é bem menos conhecida e pessoal. Era aniversário de 70 anos do meu pai e minhas irmãs resolveram montar um vídeo. Quando cheguei ao Rio, na véspera da festa, o tamanho do arquivo equivalia a um teste de resistência dos mais duros: sete horas no sofá. Eu sentei na frente do computador e deletei imagens até chegar à duração de um longa-metragem - não sem protestos, é claro. Sim, cortei imagens fofas, mas sem isso talvez nem tivéssemos chegado ao final da mensagem. Pelo menos não juntos, durante a festa. 

Por incontáveis vezes, já me vi nessa situação: a de ter que escolher. Você pesquisa, apura, entrevista, experimenta, discute, analisa e, com talento e sorte, junta uma quantidade considerável de informações e ideias. Mas nem tudo cabe - no documento, no tempo. Nem tudo é igualmente útil ao seu objetivo, ao ponto que você quer defender, à venda que você quer fazer. É preciso escolher, às vezes abrindo mão de pequenas paixões; e organizar, para enfim encontrar o melhor fluxo narrativo. Durante este processo, às vezes as coisas mudam. O que parecia bom perde a validade; e o que tinha ficado meio esquecido é o que acaba conectando as partes. Por isso, sempre achei que, para fazer um bom planejamento e também para contar uma boa história, é preciso ser capaz de sustentar uma certa angústia, permitir-se não saber, divergir antes de convergir. 

Por mais que a capacidade de editar me pareça algo valioso há tempos e esteja inserida no meu dia a dia de forma muito natural, recentemente, tenho sido levada a pensar ainda mais nela, em função da revolução que a inteligência artificial generativa vem causando nas nossas vidas. Mas isso é assunto para meu próximo artigo. 

Germana Costa Moura

Diretora na Approach Comunicação l Relações Públicas l Comunicação Corporativa l Assessoria de Imprensa l Mídias sociais l Comunicação Interna l Employer Branding l Sustentabilidade l Relatórios GRI

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Adorei! Seu texto é primoroso e muito bem editado!

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