Importação de aço cresce, ameaça emprego e siderurgia reduz produção no Brasil

Importação de aço cresce, ameaça emprego e siderurgia reduz produção no Brasil

A indústria do aço no Brasil está sob forte impacto do aumento das importações do produto e, por isso, já começa a diminuir a produção e a não gerar empregos. Segundo o Instituto Aço Brasil (Iabr), a previsão final para 2023 é de queda de 8% na produção, para 31,4 milhões de toneladas, e recuo de 5,6% nas vendas internas, para 19,2 milhões de toneladas. Por outro lado, houve um salto de 48,6% das importações, para 4,98 milhões de toneladas de aço estrangeiro. “A indústria brasileira do aço enfrenta uma guerra assimétrica, provocada pela avalanche de aço estrangeiro. Não se trata de questão de falta de competitividade da indústria brasileira, mas da submissão do setor a uma concorrência desleal diante um produto colocado no mercado a preço artificialmente baixo, o que torna urgente o reforço das nossas defesas comerciais, sob risco de repetirmos o triste desempenho deste ano em 2024”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil.

Procurada, uma das maiores siderúrgicas do Brasil, a Usiminas, confirma os efeitos da importação em seus negócios, que levou a empresa a deixar de abrir cerca de 600 vagas de emprego. A siderúrgica afirma, ainda, que estuda desligar o alto-forno 1, como forma de adequar a produção a esse cenário.

“O setor do aço vem investindo R$ 12 bilhões por ano, em modernização e desenvolvimento tecnológico, patamar que deveria se manter nos próximos anos. A atual crise provocada pelas importações, porém, se não revertida, ameaça não apenas os investimentos como a própria sustentabilidade da indústria brasileira do aço, um setor que gera empregos de qualidade e desenvolvimento econômico e social nas regiões onde atua, com grande contribuição para o crescimento sustentado do país”, disse Jefferson De Paula, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, em evento na quarta-feira (24) da Iabr.

Com base no desempenho das unidades siderúrgicas e projeções de demanda, o Instituto Aço Brasil vinha alertando desde o início do ano para o fato de não haver no horizonte, até então, sinais que sustentassem otimismo no setor. Por essa razão, promoveu, em abril e julho, duas revisões para baixo no desempenho esperado das empresas, comparado às projeções apresentadas ao fim de 2022. "A enxurrada de aço estrangeiro deteriorou o cenário de forma ainda mais dramática, levando a indústria a reagir ao impacto na demanda, o que se reflete nas atuais projeções", disse a entidade por meio de nota. Em agosto, quando a disparada das importações seguiu sem sinais de inversão da tendência, o setor passou a defender, junto ao governo brasileiro, a necessidade de elevação temporária e emergencial da alíquota de importação de aço para 25%, a mesma alíquota praticada em países como Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e México. Atualmente a alíquota em vigor no país é 9,6% para a maioria dos produtos.

Ainda segundo a entidade, a China é a origem da maior parte do aço importado que ingressa no Brasil, "vendido abaixo do preço de custo por determinação do governo chinês, controlador da maioria das siderúrgicas locais, em esforço anticíclico para manter a economia aquecida. Atualmente o país responde por 56,7% das importações no Brasil. O empenho de colocação do excedente de produção chinês, somado à assimetria das defesas brasileiras em comparação com outras em vigor em mercados relevantes, tornou o Brasil alvo inevitável do aço estrangeiro", informou o Iabr.

Cálculos realizados pela entidade indicam que o volume de 4,98 milhões de toneladas de aço importado em 2023 representa, para o país, uma perda de arrecadação de R$ 2,8 bilhões e de 248.225 mil empregos, que estão sendo deslocados para os países produtores desse aço. A perda de faturamento nas usinas de aço chega a R$ 30,6 bilhões, pelos cálculos da entidade.

A Gerdau foi procurada para se manifestar sobre os números apresentados pelo Iabr, mas informou que a Iabr fala por ela. No entanto, em entrevista dada a O TEMPO no fim de setembro deste ano, o CEO da siderúrgica, Gustavo Werneck, disse que medida protetiva para o mercado nacional de aço é fundamental para o setor, a exemplo do que vem acontecendo no resto do mundo. Na ocasião, ele disse que duas unidades produtivas do grupo, uma em Caucaia (CE) e outra em Mogi das Cruzes (SP), estavam paradas para ajustar produção e demanda, que foram afetadas pela importação de aço da China. Cerca de 600 dos 20 mil trabalhadores da Gerdau estavam, na ocasião, com contrato suspenso. Por diversas ocasiões, o executivo informou que planos de investimentos da empresa e contratações estão ameaçados pela "importação predatória".

O Instituto Aço Brasil prevê, para 2024, queda de 3% na produção de aço, para 30,4 milhões de toneladas, e de 6% nas vendas internas, para 18 milhões de toneladas. As importações deverão disparar 20%, acima da escalada ocorrida em 2023, para 6 milhões de toneladas, ou 79% acima do que foi realizado apenas dois anos antes, em 2022. Exportações devem crescer 1,3% e consumo aparente, 1%, uma alta decorrente exclusivamente do aumento das importações. “Esse volume de aço estrangeiro representa uma perda de arrecadação de R$ 3,4 bilhões e de milhares de empregos. A perda potencial de faturamento do setor chega a R$ 36,7 bilhões”, informou o Iabr. 


Por Karlon Aredes

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