A fantástica fábrica móvel de tubos de aço brasileira
Tubos helicoidais são estruturas que permitem a passagem de líquidos, gases, vapor, óleos e outros fluídos

A fantástica fábrica móvel de tubos de aço brasileira

O processo de uma invenção é repleto de tentativas, erros, acertos, gastos e reflexões, mas quem é inventor de verdade não se deixa abalar. Na verdade, usa o desafio como motivação para criar algo único. As filhas chamam o administrador Ene Pires de inventor nato. Ele criou a primeira Fábrica Móvel de Tubos Helicoidais (FAMTHE), inovação que rendeu à empresa da família, a Memps, um convite bastante especial: atuar na reconstrução da Ucrânia.

Mas o que esse equipamento faz e por que despertou tanto interesse? Tubos helicoidais, também conhecidos como camisas metálicas, são estruturas que permitem a passagem de líquidos, gases, vapor, óleos e outros fluídos. São partes fundamentais de grandes obras, como pontes, plataformas, adutoras e paredes estruturais. A questão é: dependendo do tamanho dos tubos, transportá-los prontos até onde serão instalados pode ser caro e trabalhoso.

O diferencial da criação de Ene é que ela pode ser transportada para qualquer lugar, seja por uma carreta ou adaptada em balsa como um contêiner até o local da obra. Lá, uma vez montada, a máquina produz as camisas metálicas em qualquer tamanho e diâmetro. Essa versatilidade acaba com a necessidade de emendar tubos, diminui significativamente os gastos com o transporte e o desperdício de aço.

A Memps atua na indústria de construção civil e também no setor de serviços, por instalar os equipamentos e ter como clientes outras empresas do ramo. O potencial de crescimento é enorme. Segundo o Perfil Setorial da Indústria, 655 mil pessoas trabalham em mais de 65 mil empresas de construção civil.

Do Maranhão para a Ucrânia, para a Alemanha, para o mundo!

A proposta de atuar na Ucrânia veio de um escritório brasileiro que está recrutando empresas daqui para atuar no país europeu, atualmente em guerra com a Rússia. A Memps, fundada por Ene na Vila Esperança, distrito de São Luís (MA), estuda a viabilidade técnica de participar do projeto no futuro.

A projeção só tem crescido. Pouco tempo depois desse convite, a empresa participou da Missão Prospectiva Hannover 2023 da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em abril, convidada pela Federação das Indústrias do Maranhão (FIEMA), ocasião em que teve contato com empresas de todo o mundo, novas tecnologias do mercado e conhecimento para continuar inovando.

“Percebemos que, realmente, somos inovadores no ambiente da construção. As pessoas com quem conversei durante a feira ficaram bastante interessadas e recebemos ofertas de diversas empresas para serem representantes do nosso serviço no exterior. Deu para notar uma carência no mercado”, conta Kellen Kalli, filha de Ene e diretora geral da Memps.

“Voltei com muitas ideias e vamos acelerar estratégias que já estavam nos nossos planos para acompanhar o ritmo do mercado exterior”, completa Kellen.

E é isso mesmo que as viagens de negócios promovidas pela CNI fazem. “As missões abrem os horizontes dos empresários. Muito mais do que fechar negócio, as ações capacitam e dão experiência para que a empresa se internacionalize de forma consistente. Exportar não é uma aventura, muito menos sorte. É um trabalho contínuo, que exige planejamento. A Rede CIN tem os serviços e a expertise para acompanhar a indústria nesse processo”, explica a gerente de Internacionalização da CNI, Sarah Saldanha.

Retrato de um visionário

No comando da empresa desde 2020, Kellen lembra como o pai foi pioneiro, visionário e incansável na busca por inovação.  

Tudo começou na década de 2000. “Na época, ele partiu do zero. Fez projetos, pegou partes de outras máquinas, equipamentos e começou a juntá-los, na esperança de que fizessem sentido”, explica, orgulhosa.  

Fez sentido e rendeu uma patente, concedida no Brasil. Por ser portátil e fácil de transportar, as nove máquinas já participaram de obras no Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do país. Uma das obras mais emblemáticas foi a da Ponte Rio Negro, de Manaus, em que os tubos helicoidais tinham 80 metros de comprimento e 2,75 metros de diâmetro.

“Eram tubos gigantes. A gente produzia em uma balsa e, para transportar, a gente vedava os dois lados porque assim eles boiavam no rio. Quando iam instalar, bastava puxar com uma lancha e levar até o lugar”, explica a diretora da Memps.

Segundo Kellen, a máquina dela chega a economizar 38% em armazenamento, içamento e emenda de tubos. “E isso foi em um cliente que tinha uma demanda de tubos pequenos. Quanto maiores os tubos, maior a economia”, destaca a administradora.

Patente no exterior e planos de expansão

Como as melhorias são contínuas, a Memps segue protegendo a invenção. “Conforme criamos, aprimoramos peças, métodos, tecnologia e isso faz com que a gente busque manter a patente atualizada. Também entramos com o pedido de patente internacional”, explicou Kellen.

Esse é um passo fundamental para a estratégia de atuação internacional da empresa, que começa a ganhar mais corpo. Recentemente, Kellen abriu uma filial em Portugal, onde fez mestrado, e a meta é conquistar espaços no mercado europeu. 

A possibilidade mais próxima de atuar internacionalmente está aqui no Cone Sul. “Estamos concorrendo para atuar em uma obra no Uruguai e temos nossos contatos em Portugal. Vemos bastante potencial da fábrica de tubos e nosso objetivo é consolidar a FAMTHE nas Américas e automatizá-la para levar para a Europa”, conta ela. 

Enquanto muita gente dúvida da capacidade de disputar mercados e do potencial da inovação brasileira, Kellen vai desbravando esses caminhos com a cabeça erguida.

“Temos que parar de nos achar inferiores. Não somos. Lá fora, percebi que nosso país tem potencial e o exterior tem interesse. Tem que dar um passo de cada vez, mas sem ficar apenas olhando para dentro. É possível crescer aqui no Brasil sem se fechar para possibilidades internacionais”.


Por: Giovanna Chmurzynski

Fotos: arquivo pessoal da Agência de Notícias da Indústria


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