Importando Lixo, mas sem política para os Lixões

Importando Lixo, mas sem política para os Lixões

Recentemente li uma reportagem sobre o motivo pelo qual o Brasil importa lixo, num país onde se gera 80 milhões de toneladas de resíduos anualmente e onde se recicla apenas 4% ao ano, é um contrassenso ! Sim, com tanta geração de lixo reciclado ou não importar para suprir nossa demanda de consumo é algo inimaginável. Seria como mesmo sendo o maior produtor e exportador de soja, importássemos soja para suprir nosso mercado interno.

Entre janeiro e junho de 2024, nosso parque industrial precisou importar 104 mil toneladas de resíduos.

Países como Alemanha, Coreia do Sul e Áustria reutilizam mais de 55% do seu resíduo, e ainda exportam excedente para países em desenvolvimento. O Brasil além de adquirir desses países, é sem dúvida nenhuma um grande gerador, e década após década a geração de lixo no país tem crescido, só na última foi em torno de 11%, passamos de 71 milhões de toneladas a 79 milhões de toneladas, isso considerando somente o lixo reciclado. Deste montante, apenas 53% são destinados aos aterros, sendo o restante não coletado ou dispostos em lixões e aterros irregulares.


Coletamos mal, separamos mal, não temos políticas públicas reciclagem e nossa gestão de resíduos é mal elaborada. O que corrobora imensamente para que precisemos importar resíduos. Outro fato que deve-se salientar é a taxação zero para resíduos como vidro ou papelão, que contrariamente do plástico taxado em torno de 11%, são beneficiados em detrimento de nossa incapacidade de coletar e dar destino a essas matérias primas.

Mas mesmo em relação aos resíduos plásticos, reciclamos apenas 23,4% e somos o maior produtor. Isso que só falamos até o momento em reciclagem e lixo reciclável, mas ainda tem o resíduo orgânico, que igualmente é ignorado pelo Brasil e pelas suas políticas públicas.

Se há países que geram muitos resíduos, precisam importar por não investirem em adequadamente em reaproveitamento, há também exemplos a serem seguidos. E nesse caso basta olhar para a Noruega, que assim como o Brasil importa lixo, mas não por incompetência. Os noruegueses importam lixo pois falta no país nórdico lixo para reciclar !

Em Oslo, há usinas que transformam lixo em energia o que gera um déficit de resíduos e a necessidade de adquiri-lo de outros países. De acordo com o New York Times, países do norte da Europa, produzem em torno de 150 milhões de toneladas, mas há uma capacidade produtiva das industrias incineradoras de processar 700 milhões de toneladas ano.

Mesmo sendo autossuficiente em sua matriz energética, um aspecto que contribui para a produção de energia pelo lixo é relativo a redução da dependência de combustíveis fósseis. E o processo além de viável, é eficiente e não polui. A tecnologia auxilia no descarte e na coleta, e claro no senso de coletividade e educação na gestão de resíduos.

Assim, as famílias separam os resíduos orgânicos em um saco verde, os secos em um saco azul e os vidros em outro recipiente. As embalagens para o descarte são distribuídas gratuitamente em mercados e tudo é levado às usinas.


Exemplos de como a gestão de lixo pode agregar valor a economia, ao meio ambiente e a geração de valor são inúmeros, e muitas vezes a imagem que temos de lixões podem ser rompidas. Em Copenhague na Dinamarca há uma usina de reciclagem a CopenHill, que além de sua função principal, também é conhecida por ser um espaço público, bastante badalado. Nessa usina há uma pista de esqui de 450 metros de comprimento, trilhas de caminhada, instalações recreativas e outras atividade. Com capacidade de processamento de 440 mil toneladas ano, transforma lixo em eletricidade e a energia gerada atende 150 mil residências.


Projeção da usina e da pista de esqui.

Com tantas soluções, a incapacidade brasileira em gerir seus resíduos é até vergonhosa, pois demonstra o quanto despreparados e atrasados estamos em relação ao assunto. Enquanto se discute leis, projetos e o destino dos lixões, outros países dão exemplo de gestão. Poderíamos sim importar lixo, desde que houvesse déficit interno entre geração e consumo, industrial e energético. Mas não nossa importação é fruto de nossa própria incompetência no descarte, na coleta e na gestão. E a pergunta que fica é até quando ????


Por : Rosaldo Bonnet

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Cassio Taniguchi

Consultor Sênior em Gestão de Cidades na Consultor Independente

5 m

Rosaldo, com imaginação e criatividade mais a participação da comunidade - principalmente das crianças - é possível mudar esse triste cenário…

Rosaldo Bonnet

Data Science | Gestão de Projetos | Logística | Autor e Escritor dos livros "Prosperidade através das 07 Leis Universais" e "As Cruzadas, os Templários e a Maçonaria".

5 m

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