"A incompetência gera mais confiança que o conhecimento" Charles Darwin
A curiosidade genuína e visceral do meu ser leva a que tenha uma necessidade constante de procura pelo conhecimento. Contudo gosto de obter o conhecimento em bruto e ir lapidando um pedaço de cada vez. O conhecimento é para mim o meu diamante a lapidar. Não tenho paciência para o conhecimento vem em pedras falsas ou imitações baratas. No entanto hoje parece ser essa a premissa. Atalhos, conhecimento de facebook ou frases bonitas e pomposas de instagram.
Foi nesse sentido que o meu dia de hoje foi passado a analisar um artigo de 1999 intitulado
“UNSKILLED AND UNAWARE OF IT: HOW DIFFICULTIES IN RECOGNIZING ONE’S OWN INCOMPETENCE LEAD TO INFLATED SELF-ASSESSMENTS”.
Este é o artigo que esta na génese do tão famoso EFEITO DE DUNNING-KRUGER. Famoso pelas brilhantes observações de Kruger e Dunning, mas também famoso uma vez que ele é frequentemente utilizado como aquela chapada de luva branca intelectual e virtual que muitos experts de facebook usam em discussões, em troca de comentários ou em resposta a argumentos e ataques AD-HOMIMEM (como se isso elevasse o seu ser).
Ao observar que esse era um argumento recorrente, e independemente do lado da razão (se é que haveria razão nalguns casos) dei por mim a pensar inúmeras vezes se essa seria a melhor estratégia a utilizar, a opção mais educativa e a que no futuro poderia contribuir para uma reversão do efeito.
O efeito dunning-kruger (DK) define-se como uma superioridade ilusória, que vem da incapacidade da pessoa reconhecer os seus erros, tornando-o altamente confiante e simultaneamente não capaz de efetuar julgamentos e auto-avaliações corretas. Existe um viés cognitiva que advém sobretudo dois lugares comuns: o ego e a falta de conhecimento.
O artigo original define que nalguns domínios da vida como o sucesso e a satisfação, dependem de sabedoria, do conhecimento e da estratégia. Contudo o sucesso pode ocorrer através de estratégias variadas desde que as duas premissas anteriores estejam presentes. O que parece acontecer, simultaneamente, é que pessoas incompetentes para adotar estratégias de sucesso e satisfação sofrem de uma dupla condição:
1 – Tiram conclusões erradas o que a leva a fazer escolhas menos acertadas;
2 – Apresentam menor capacidade para perceber o que estão a fazer;
Ou seja, os skills necessários para dar competência num determinado domínio são os mesmos skills utilizados para avaliar a competência. A chave para tal ocorrer parece encontrar-se nos processos de metacognição e de auto-avaliação e é o motivo para o facto de pessoas menos competentes demonstrarem uma tendência a sobrestimar as suas competências e habilidades.
É fascinante como pessoas menos capazes podem ser super confiantes . Bertrand Russel dizia que “uma das coisas mais dolorosas do nosso tempo é que os que se enchem de certezas são estúpidos e os plenos de imaginação e conhecimento estão cheios de dúvida e indecisão”.
Algumas linhas de pensamento e alguns estudos apontam para que os principiantes tenham menos skill metacognitivos que os experts, logo são mais propensos a realizar erros de auto-avaliação e a sobrestimarem as suas capacidades. Há no meu entender uma confusão comum na definição de expert. Muitas vezes, e sobretudo porque a nossa memória assume que “a idade é um posto”, pensamos que a expertise é uma característica que surge com o tempo. E nesse sentido a distinção entre experts e principiantes é feita tendo por base um critério temporal quando na verdade esta diferença deverá ser efetuada com base no CONHECIMENTO. É a quantidade deste que dita o efeito dunning-kruger e não o fator tempo.
Até porque o fator tempo, deverá se ainda nos correr sangue pelas veias, de garantir que o ser humano tem acesso a uma série de vivências. Essa experiencia de vida aliada a situações de confronto inerente com pessoas com maior conhecimento deveria ser o catalisador que promove-se uma melhor auto-avaliação. Só que não....
O efeito DK é em tudo semelhante a anosognosia, o estado neurológico caracterizado pela incapacidade da pessoa reconhecer a própria doença e a sua limitação funcional. Isto porque a incompetência não causa apenas uma menor performance como causa a incapacidade de avaliar essa performance.
Este paradoxo apaixonante, deixa-nos apenas uma hipótese. O único meio da pessoa reconhecer a sua incompetência é torna-la competente. E o único meio para tal acontecer é através da aquisição de conhecimento, e nesse preciso momento ela caminhará no sentido da competência.
Neste sentido, o estudo de Ehrlinger em 2008, vem acrescentar que a única métrica possível para minimizar o efeito DK é através do conhecimento uma vez que este é o único capaz de fomentar a o self-insight. De nada serve o feedback negativo, o arremesso do gráfico e outros lugares comuns. A educação e a aprendizagem devem ser encorajadas, através de vários desafios e novas tarefas por forma a que se identifiquem os pontos fortes e os pontos a melhorar (e não fracos como vulgarmente vemos) da pessoa.
Por isso, da próxima vez que diagnosticares um efeito dunning-kruger lembra-te que a única vacina para reverter os sintomas é um aumento gradual da inteligência. Esquece o feedback negativo e as verdades que ele não vê e que tu vês. Tens aí a oportunidade de brilhar através do ensino e da educação. Força nisso.
RV