Indústria Automobilística: Dá para fazer do limão uma limonada!

No artigo publicado em 25 de março, intitulado Vírus sufoca o crescimento, cura será lenta e dolorosa, o jornalista e editor da Automotive Business, Pedro Kutney faz uma avaliação bem realista do quadro crítico em que se encontra o setor automotivo.

As primeiras projeções, já considerando os impactos da pandemia do Covid-19, apontam que a produção só de veículos leves vai cair 4% em 2020, voltando ao nível inferior a 2017.

É comum ouvirmos que em tempos de crise surgem as oportunidades de melhorias. Pois bem, além das medidas de contenção da pandemia e proteção da economia, que estão sendo tomadas pelos governantes, empresas e sociedade, temos que buscar ações estruturantes para o setor automotivo no Brasil.

O Covid-19 nos alertou que somos dependentes de uma cadeia global de valor super conectada, onde questões tecnológicas, ambientais, sociais, saúde, geopolíticas, catástrofes etc., impactam de forma aguda e imediata a todos.

Para quem já tem uma boa experiência na indústria automotiva, sabe que fomos um dos primeiros setores da indústria a buscar a globalização do parque de fornecedores, como forma de buscar competitividade, através do ganho de escala proporcionado pelas plataformas globais que as montadoras determinaram em seus portfólios.

É fato que tivemos muitos benefícios neste ciclo de globalização, atraindo várias empresas para o nosso país, contribuindo para um novo patamar de tecnologia qualidade e competitividade.

Contudo, ao longo dos últimos 7 anos, temos tido uma produção oscilando entre quedas e crescimentos modestos, o chamado efeito voo de galinha, onde desde de 2013 não atingimos a marca dos 2.9 milhões de veículos produzidos.

Cabe lembrar que tanto as montadoras como as autopeças, acreditando principalmente no mercado interno, projetavam uma produção de 5.0 milhões de veículos.

A consequência disto é uma indústria automobilística ociosa e fragilizada, com várias autopeças em recuperação judicial ou falência decretada, onde um potencial cenário de recessão econômica vai nos levar a uma séria desindustrialização do país.

Como executivo de supply chain, atuando em uma empresa multinacional, meu maior desafio era o gerenciamento de risco de fornecimento em uma cadeia de fornecimento global. A indústria automobilística requer pesados investimentos de capital em ferramentais e meios de produção, que inviabilizam o desenvolvimento de uma segunda fonte local, dependendo da escala.

Ao longo dos últimos 7 anos, as autopeças passaram por uma seleção natural e posso testemunhar que as sobreviventes buscaram, neste período, a chamada competitividade do muro para dentro.

Neste ponto do artigo você deve estar se perguntando: Até agora só chupamos o limão. Onde está limonada?

Pois bem, acho que é o momento de criarmos um projeto de nacionalização de peças de forma orquestrada entre montadoras, autopeças e governo visando atingir os seguintes objetivos:

Mitigação de riscos no gerenciamento da cadeia de fornecimento para as montadoras;

Com o dólar valorizado há uma janela de oportunidades de redução de custos para as montadoras;

Oportunidades de novos negócios para as autopeças, através da consolidação da base e ganho de escala.

Evitar uma desindustrialização no país;

Manter ou até gerar mais empregos em toda cadeia e sairmos da crise mais fortes.

Em tempos difíceis e com dinheiro escasso, o governo estará mais sensível em suportar projetos de retorno social (geração de emprego) do que tecnológico. Acredito que o programa Rota 2030 será repensado diante do atual cenário de gestão de crise.

A nacionalização de peças pode ser um projeto de impacto em resposta a crise que se instala, contudo os atores principais, montadoras e autopeças, devem atuar de forma coesa e coordenada buscando soluções coletivas e estruturais em toda cadeia de valor.

Alberto Watanabe

Engenheiro de Produtos | Gerente de Projetos | DFSS Black Belt

4 a

Muito bom Nava! Estamos agora diante de uma oportunidade ímpar, apesar dos cenários de curto prazo pouco convidativos a novos investimentos ou exposição a riscos. Na engenharia sempre buscamos alternativas e projetos de excelência e temos aqui um parque de fornecedores, muitas vezes renegados pelas matrizes das montadoras, que são equivalentes ou até fazem frente aos grandes players globais, tanto em capacidade técnica como em qualidade.

Marcos Andre Cardoso Cardellini

Head of products - Product Planning / Road Map / Line Up / Market research / product configuration (Brazil / Argentina / Uruguay / Paraguay)

4 a

Excelente artigo !!! Reflexão visando fazer retomar a indústria local !!!

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