As infinitas histórias que nos contamos para sermos felizes

Hoje estava pensando no tanto de histórias que criamos.

Histórias sobre nossos problemas, desejos e ambições profissionais. Sobre os altos e baixos de nossas relações amorosas, sobre os lugares no mundo que ainda não conhecemos e queremos visitar, sobre os hobbies que temos e os que queremos desenvolver, nossos corpos e pertences que temos ou que desejamos comprar.

São tantas histórias que nossa mente não para nem por um segundo. Criamos e vivemos nossas histórias do momento em que acordamos até quando deitamos a cabeça no travesseiro e pegamos no sono para, pasme, vivermos outras histórias.

"O que seríamos de nós sem elas?" é o que você poderia me perguntar, tentando miseravelmente defendê-las. Pois bem, sabe o que seríamos?

Livres.

Assim mesmo, sem tirar nem por. Livres para viver seja lá o que estiver acontecendo agora, onde seu corpo te colocou, com a companhia que for e onde estiver. Aquela ideia tão velha, porém tão ignorada, que parece apenas piegas: viver o presente.

Viver assim parece catastroficamente tedioso, mas é só porque somos viciados em histórias. Elas sim são nossas verdadeiras drogas. Há sempre mais alguma para ser inventada e vivida, seja com ou sem sucesso.

Dizem que viver bem é isso: colecionar histórias e momentos.

Confesso que nunca me senti mais ou menos preenchida pelo tanto de histórias que já vivi, e olha que já foram muitas, das mais normais às mais malucas. Meus momentos mais bem vividos foram também os mais aparentemente sem graça: o prazer imenso e intenso que reside em não fazer nada e se conectar a tudo.

Sei que não parece que a vida pode ser assim. Como pagar as contas, cuidar do corpo, ter amigos e uma família?

A verdade é que não precisamos de tanto assim. Não há necessidade de criarmos a melhor empresa do mundo em tal setor, nem de dizermos com orgulho que já conhecemos todos os continentes do mundo. Não precisamos de apartamentos gigantescos, nem de carros luxuosos ou um milhão de roupas e pertences.

É preciso pouco para sermos realmente felizes, mas como boas cadelinhas da cultura de consumo, não nos damos conta disso, fazemos vista grossa e ainda a defendemos.

Não conseguimos ficar parados. Precisamos da próxima história, mesmo que no fundo ela seja sempre igual à anterior: é sempre boa ou ruim, sempre impermanente e sempre baseada num desejo que nunca cessa.

E mesmo assim, elas são tudo para nós.

Talvez se formos capazes de aliviar a pressão e colocar menos peso nas histórias possamos ser menos caóticos, frenéticos, estressados e insatisfeitos.

E talvez se formos capazes de notar como nossos dias são repetições do mesmo ciclo infeliz e incessante de histórias e mais histórias, sejamos capazes de ser mais calmos, mais livres e, finalmente, mais felizes.

Concorda?