Você sabia que o Buda foi um boy rico?

Você sabia que o Buda foi um boy rico?

Esses dias reli a história do budismo e pensei que seria legal compartilhá-la com vocês a partir de uma narrativa mais informal, que tire o imaginário místico que existe em torno do assunto e o torne realmente paupável.

Não sei se vocês sabem, mas o Buda foi um boy ricaço que cresceu em uma mansão enorme. Ele era tão protegido pelos pais e suas necessidades eram tão bem atendidas que ele só saiu de lá pela primeira vez aos 29 anos para fazer, digamos assim, algumas day trips pra conhecer o mundão.

Sidarta era tão protegido do mundo que foi nessas viagens que ele viu, pela primeira vez, um homem idoso, uma pessoa doente e um cadáver. Obviamente isso chocou o jovem: como assim as pessoas envelhecem, adoecem e morrem?!

Talvez você pense "nossa gente, mas que boy mimado, como ficou chocado com coisas tão óbvias?", mas me faz um favor: se coloca no lugar dele e me diz se você não ficaria sem reação também! Na verdade, nem precisa fantasiar a respeito. Basta lembrar por um momento que um dia você e todos que você já conheceu vão envelhecer, ficar doentes e morrer.

Cruel, né? Ele pensou o mesmo, e resolveu sair de casa pra pensar a respeito.

Uma das primeiras coisas que Sidarta notou durante essas reflexões foi que as coisas são impermanentes: tudo está mudando a todo momento. Isso significa a morte, mas também o começo de algo novo: a comida do almoço acaba e por isso uma nova precisa nascer para o jantar. O trabalho acaba e surge um tempo de lazer. Um silêncio acaba e dá lugar a um som.

O mesmo acontece com nossos corpos, emoções, dores e problemas: eles aparecem e, eventualmente, vão embora. As coisas duram o tempo que duram e é isso.

Sidarta então pensou que o fato de tudo mudar o tempo todo é porque as coisas são interdependentes: o corpo e a ação do tempo, um ovo e a ação da água quente para cozê-lo, um instrumento e a mão para tocá-lo. Sem relação as coisas até poderiam durar para sempre, mas existem tantas camadas macro e micro no universo que seria impossível algo ser completamente permanente.

Nós aprendemos a viver na ilusão da busca por constâncias que não existem, e por isso morremos de medo de mudanças: medo de morrer, de tentar algo novo, de sermos abandonados, medo da dor, da culpa e do próprio medo, mesmo que tudo isso seja impermanente.

Mesmo nosso apego às sensações mais terríveis é pautado na tentativa de fazer com que uma ideia de "eu" possa existir de forma constante, mesmo que a pessoa que somos ao acordar de manhã seja completamente diferente da que vai dormir à noite.

A descoberta do Buda foi só essa.

Ele apenas se deu conta de que as coisas são impermanentes e interdependentes, e levou isso extremamente a sério como uma receita para sair do sofrimento.

Eu acho importante essa história ser contada de modo informal assim porque a coisa mais foda que o Buda fez foi refletir. Sabe quando a gente lamenta e reclama da vida, mas não faz nada a respeito? Todo mundo tem dias assim. O Buda também teve dias assim quando viu o idoso, o doente e o cadáver, mas ele foi lá e simplesmente se jogou de cabeça pra pensar com profundidade a respeito.

Muitas vezes esse princípio básico do budismo é esquecido e transformado em apps de meditação pra evitar o burnout e em rituais, adorações e objetos de decoração.

A verdade é que a gente tem preguiça de pensar e prefere que o ChatGPT traga um resumo sucinto da vida e o implante na nossa cabeça.

Isso não vai acontecer.

Se a gente quer parar de sofrer, a gente precisa todo dia acordar e notar, refletir e atuar em cima do fato de que tudo é impermanente e interdependente. Não há caminho mais simples do que esse para um tema transformado em algo tão complexo.

Boa reflexão pra gente! ❤️



Se interessou pelo tema? Tá aí 3 livros que eu acho excelentes:

  • What Makes You Not a Buddhist (Dzongsar Jamyang Khyentse);
  • Who Ordered This Truckload of Dung? (Ajahn Brahm);
  • Don't Worry, Be Grumpy (Ajahn Brahm);

Ana Luisa Almeida

Career Mentor at Sarsa Edu 🍂 | Chemical Engineer | Continuous Improvement

3 m

Eu precisava ler este texto. Gratidão!!

Absolutely! Going back to the basics is crucial to truly embody the teachings of Buddhism. It's all about consistent practice and reflection. Bell Lopes

Zeh Negri

Chief Client Officer (CCO) @ Performa_IT | Digital Transformation Tutor @ MIT xPRO by Global Alumni | Expert in Business Transformation, Innovation Strategy & Complex Program Management

3 m

Ah! A querida filosofia... a reflexão... a arte de espantar-se com o que é corriqueiro... valeu por compartilhar, Bell!

Milton Sousa

Gerente, Coordenador, Gestão de Ativos, Operação e Manutenção, Hidrelétrica, Energia Renovável,

3 m

Que belo texto, me fez lembrar uma passagem dos tempos de faculdade. Em uma palestra do saudoso Rubem Alves, ele comentou sobre a visita dos netos a o seu sítio, nessa passagem as crianças ficavam muito interessadas nas estórias do avô no sítio, como era viver sem veículos, celular, gás encanado, Internet, etc. O mestre falava sobre a contemplação da natureza pelo matuto, o quanto era importante esse tempo para pensar e refletir.

Gerson Baptista

Engenheiro de sistemas(Indépendant)

3 m

Leal👍 histórias semelhantes existiram, como o russo Tostoy, que participou da revolução Russa junto com Lênin, ele pertencia a uma família super rica e renunciou tudo.

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