A INFLUÊNCIA DA CHINA NA LOGÍSTICA GLOBAL
A China avança rumo ao ocidente e restará aqueles que aproveitarão e os que
serão aproveitados na cadeia de suprimentos global.
A China em trinta anos tornou-se uma mega exportadora de produtos de todos os tipos, se passando por "fábrica do mundo", influenciando as decisões de produção, desenvolvimento e distribuição de produtos, de modo que, praticamente, a maioria dos produtos que consumimos e almejamos são provenientes de lá.
Desde 2013 com a ascensão de Xi Jinping ao poder como Presidente da República Popular da China, este país vem assumindo um novo posicionamento econômico e estratégico, sinalizando a postura de superpotência do século XXI. Nesse jogo geopolítico, a logística e as cadeias de suprimento no planeta serão primordiais e sinalizam tomar novos fluxos, impactando as cadeias de produção em escala global em uma abordagem poderosa.
O cenário mundial que se desenha, certamente contribui para esse ímpeto chinês, pois é impossível não mencionar a lacuna causada pelos Estados Unidos com a saída do país do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), o movimento de saída do Reino Unido (BREXIT) da União Européia e, além disso, de um contexto que ainda se recupera dos desdobramentos da crise de 2008.
Um novo cenário para a logística e rede de suprimentos no planeta está por se desenhar, pois a China através de uma iniciativa chamada “Um cinturão, uma rota” (do inglês One Belt, One Road), cujo termo foi cunhado após as visitas de Xi Jinping em 2013 ao Cazaquistão e em 2014 à Indonésia, Nessa ocasiões, enfatizou-se a necessidade de fortalecimento de integração da China com a Ásia Central, África e Europa, além de vários países do entorno do Oceano Índico e Pacífico, sendo, portanto, caracterizada como uma versão modernizada e mais ambiciosa da lendária Rota da Seda.
Na verdade, o que se apresenta é um pacote de intenções para promover as cadeias produtivas da China, em que várias frentes de incentivo de infraestrutura com seus novos parceiros comerciais viabilizaria a conexão comercial da China e consequentemente daria o impulso necessário para desenvolver as províncias interiorioranas do país. Além disso, a China investe para ser uma exportadora de capitais ao invés de uma mera exportadora genérica de produtos.
Isso já é perceptível em várias frentes de cooperação como a construção de ferrovias, rodovias, portos, prospecção, mineração e exploração de commodities em diversos países da Ásia, África e Oceania, mas que em contraponto atiça o interesse do Ocidente. Mas essa iniciativa é muito mais que isso, pois está a se construir uma intensa área de desenvolvimento econômico que mudará para sempre as cadeias de suprimento globais. No livro Essential Logistics & Management - The Global Supply Chain (EPFL Press) enfatiza que as modificações da cadeia de valor mundial reforça a ideia que o importante é não possuir a cadeia, mas sim controlá-la, pois muitas vezes é mais lucrativo controlar sem possuir do que controlar possuindo.
A China chacoalha o mundo a abordar dois lados da mesma moeda: a sua dependência de recursos naturais (importação) e a sua necessidade em escoar seus produtos (exportação). Artifícios como a fundação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) para bancar financiamentos em energia, transportes e telecomunicações abraçam dezenas de nações que por décadas amargaram no esquecimento do cenário internacional. Ao fazer isso, a China conquista aliados (fornecedores) e promove seu desenvolvimento (gera valor de cadeia) e isso se traduz num macro gerenciamento da cadeia de suprimentos.
A infraestrutura significa poder logístico para qualquer nação. Prosseguindo com essa cartilha a China segue cerimoniosamente, aproveitando as oportunidades do mundo, mesmo aqui na América Latina os investimentos em infraestruturas sensíveis são perceptíveis ao apetite chinês. Somente no Brasil, como exemplo disso, a companhia de energia State Grid comprou a CPFL e a China Three Gorges comprou hidrelétricas da CESP, isso sem falar em participações chinesas em empresas de agronegócio. O que acham disso (energia e alimentos)?
A grande lógica da China é que o mundo precisa de infraestrutura e mais meios de conexão para permitir um maior fluxo de capitais e de variação de cadeias de valor de produção (diga-se cadeia de suprimento ou supply chain). O indiano Parag Khana, autor do livro Connectography: Mapping the future of Global Civilization, compara essa intenção chinesa inspirada no modelo comercial que a Holanda desenvolveu no século XVII com a fundação da Companhia das Índias, a qual foi um contraponto em relação à política de conquista de territórios realizadas então por Portugal e Espanha, pois o modelo holandês visava o desenvolvimento dos intercâmbios comerciais oferecendo uma estrutura mínima.
Ao longo da história, a logística foi a grande responsável pela ascensão e decadência de impérios e sempre foi calcada em torno dos fluxos de informação e infraestrutura disponíveis. O capitalismo desenvolveu e sofisticou-se graças aos entendimentos constantes da cadeia de valor gerada pelo fluxo de capitais, entretanto, com a consolidação da Internet e das tecnologias que permitem mobilidade, as cadeias de suprimentos urgem por um novo estágio de tratamento. Parag Khana ainda acrescenta que atualmente as cadeias de suprimento são mais importantes do que o poderio militar.
Muito mais do que a conexão dos grandes modais de transporte, a atitude visionária da China está no foco do desenvolvimento de seu Soft Power, pois o que se anuncia é que através do domínio de Bytes e das fronteiras da informação é que reside a fonte para a alocação e realocação de recursos e capitais onde for necessário na dosagem adequada. Esse desenrolar de novelos é concordante com os conceitos modernos de logística e da cadeia de suprimentos: Na hora certa, no lugar certo, na quantidade certa.