Os problemas e as oportunidades de logística no Brasil
Quantas vezes você ficou desejando aquele produto em promoção, um bem mais caro ou mais quantidades de um mesmo item, mas devido aos custos de frete a vontade parou aí? Ou sua empresa desejava expandir suas operações no território nacional e exterior e foi barrada por vários entraves na logística?
Os mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de território brasileiro oferecem desafios e oportunidades no mundo logístico, pois é a partir daí que as nossas vidas ganham impulso de variadas formas - do presente de natal comprado no site predileto à construção de uma hidrelétrica. De todos os fronts da logística, o modal de transportes ocupa um lugar de destaque, pois é aquele cuja importância emana as idas e vindas de bens e serviços em todos os países e que apenas reforça o jargão "na hora certa, no lugar certo e na quantidade certa".
Segundo o ranking LPI (Logistics Performance Index) do Banco Mundial apresentado em 2016, o Brasil figura na posição 55 entre 160 países (A Alemanha é a líder em logística no mundo), destacando-se nos quesitos competência, rastreabilidade e infraestrutura e pecando em custos inflacionados, infraestrutura e pontualidade, o que indica que o nosso país tem muito a avançar.
Junte-se ainda as demandas agregadas pelo aumento do e-commerce que segundo a revista Pequenas Empresas Grandes Negócios apenas no 1º semestre de 2017 cresceu 7,5% em relação ao mesmo período de 2016, faturando 51 bilhões de reais com tendências de altas expressivas no futuro. Num país com mais de 200 milhões de habitantes, movimentos de mudança social e tecnológica como as mais de 240 milhões de linhas de telefones celulares ativas e o uso crescente de apps como o Uber devem ser olhados com atenção, pois outras áreas como a logística certamente estão sendo demandadas no meio dessa onda disruptiva e onde há criação há destruição. Tais transformações são apenas a ponta do iceberg.
Problemas no horizonte
O site Portal Lubes e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que os principais problemas de logística no Brasil incluem o roubo de cargas, carga tributária alta, uso inadequado da tecnologia, péssimas condições nas estradas, mão de obra despreparada, frota ruim e sucateada, jornadas de trabalho exaustiva e descumprimento de obrigações legais.
Fatores como a recessão econômica e queda de diversos indicadores econômicos como a geração de empregos ainda complicam mais o cenário logístico. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), no que diz respeito a empregos no setor ferroviário contou com um timidíssimo aumento de 0,5% entre 2014 e 2016.
O país conta com modais de transporte irregulares entre si com a predominância do sistema rodoviário. A CNT indicou em seu Anuário CNT de Transportes 2017 que houve queda de produção de locomotivas em 2016 no transporte ferroviário apresentando baixa de 15,5% em relação à 2015, enquanto que no modal aeroviário nacional e internacional houve quedas de 0,7 e 1,7%, respectivamente, e no aquático, de 1%. Ainda há o problema de integração entre esses modais que representam um enorme entrave no escoamento de cargas.
Mesmo contando com uma enorme dependência do transporte rodoviário o sistema viário conta com infraestrutura ruim e, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) dos mais de 1,7 milhões de quilômetros de estradas apenas 210.618,8 km (12,2%) são pavimentadas, sendo que as estradas "em condição" ainda apresentam diversos problemas - imperfeições no pavimento, problemas de geometria e sinalização deficiente, o que gera diversos tipos de problemas no escoamento de cargas destinadas ao mercado nacional e internacional, além daquelas ligadas à segurança dos usuários e danos materiais nos transportes.
O custo Brasil influenciado pela alta carga tributária e custos de transportes. O portal da Confederação Nacional da Indústria (CNI) informa que a crise vivida no transporte de cargas reflete nos preços praticados, onde "36% das empresas aumentaram o valor do frete, 28% não reajustaram e outras 36% concederam algum desconto. Os números revelam que 35% dos autônomos têm veículos próprios ainda não quitados e, como consequência, apresentam um nível de custo que os coloca em condições competitivas desfavoráveis". Os custos embutidos no frete aumentam mais se juntar as más condições de infraestrutura e tempo perdido. Experimente comprar qualquer produto na Internet e você visualizará o custo do frete oferecido, salvo alguns incentivos de frete grátis, mas com custos de transportes, por vezes, embutido na mercadoria.
Oportunidades no "país do futuro"
Algumas mudanças no contexto legal e regulatório no país são importantes para o transporte. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicou no estudo intitulado de Transporte Rodoviário de Carga (TRC): características estruturais e a crise atual, propostas de soluções para conter a crise logística de transportes de carga como maior fiscalização relativa ao cumprimento da Lei nº 13.103/2015 (sobre exercício da profissão motorista - profissional e autônomo), intensificação da fiscalização do peso dos veículos de carga que trafegam nas rodovias federais e ganho de agilidade na implantação de novos postos de pesagem de veículos, utilização das possibilidades abertas pela exigência de emissão do Conhecimento de Transporte Eletrônico (CTe) no combate à sonegação de impostos e da implementação para toda a frota comercial, a nível nacional, da inspeção técnica de veículos (previsto no Código de Trânsito), com periodicidades diferenciadas e intervalos decrescentes de acordo a idade, tendo como consequência o cancelamento da inscrição no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) do veículo não aprovado na inspeção e que não tenha se adequado às normas no prazo que lhe for concedido.
Muito além disso, novas frentes se abrem, pois a logística é um terreno vasto e diante das mazelas e dificuldades que se apresentam no Brasil, ainda há muitas oportunidades para empreendedores e profissionais que desejam atuar nessa área. Querendo ou não, precisamos olhar para os movimentos que ocorrem simultaneamente no mundo: dos surpreendentes investimentos chineses na África em infraestrutura e na exploração de commodities aos poderosos tentáculos da Amazon com seus armazéns automatizados com robôs, uso de inteligência artificial (Alexa) e testes com drones para entrega - o fato é que o mundo superconectado nunca mais será o mesmo e isso exige dos países maior capacidade de inovação e de visionariedade.
Uma dos fatores chaves pela esperança em novas soluções para a logística está no uso intensivo da tecnologia, pois as diversas oportunidades ligadas à automação, inteligência artificial, Internet das Coisas, uso de drones e tecnologias móveis estão causando disrupturas no modo como as pessoas consomem e produzem serviços e produtos. A esse conjunto de valores que se agregam ao meio produtivo denomina-se de indústria 4.0 (termo cunhado na Feira de Hannover na Alemanha em 2011) e que significa a completa descentralização dos processos de produção e a incorporação de elementos e dispositivos inteligentes e interconectados que causarão uma grande revolução nos padrões da indústria e suas relações sociais.
Em muitos setores produtivos nacionais há muito potencial para a implementação de recursos logísticos variados. No agronegócio, segue desde o monitoramento e controle da produção (com o uso de drones, satélites, inteligência artificial, biotecnologia e automação) ao investimento em infraestrutura nos modais de transporte - integração dos modais rodoviário, aquaviário, ferroviário e aeroviário - para o escoamento da produção. Idem para os setores industriais e de serviço. O fato é que áreas de logística tais como transporte de cargas, pátios de armazenamento, automação de atendimento, gestão de frotas, tecnologia para logística e e-commerce moldarão o novo desenho da logística.
Diante desse cenário espera-se que diante das oportunidades latentes no mundo da logística os profissionais, empreendedores, universidades e governantes do nosso país busquem um novo olhar e uma abordagem visando a especialização técnica e um ambiente mais favorável para as novas fronteiras da cadeia de suprimento.