Ingo Hoffmann, Che Guevara e a Revolução Criativa

Ingo Hoffmann, Che Guevara e a Revolução Criativa

Ao longo da vida, muita gente se vê diante de situações em que o pragmatismo para colher resultados olha para valores éticos e solta um sorriso cínico e/ou simula incompreensão.

Lembro de sempre carregar um rigor ético e preocupação responsável como se tivesse essa coisa de integridade como um "item de fábrica" (claro que sou imperfeito e erro por vezes). O bom é que nossa visão e atitudes vão sendo ajustadas aqui e ali, nas experiências da vida – e uma “epifania” aconteceu quando passei a liderar a estratégia de marca da 3M (em 2007).

O catalisador dessa mudança foi improvável: Ingo Hoffmann, ex-piloto de Fórmula 1, lenda da Stock-Car e, acima de tudo, um ser humano admirável. Patrocinar a equipe dele por 3 anos de convivência foi mais do que uma escolha estratégica; transformou-se numa aula marcante de profissionalismo e humanidade.

Ingo é daquelas figuras que dispensam intermediários. Ligava, resolvia, aparecia na hora marcada e demonstrava um carinho genuíno gigantesco pelo público. Ingo tinha desempenho olímpico nas pistas, mas também no quesito decência, transparência, cordialidade e gentileza.

Fora das pistas, o piloto acelerava para vencer outros desafios. O Instituto Ingo Hoffmann, criado para abrigar famílias de crianças em tratamento contra o câncer no Centro Infantil Boldrini em Campinas (onde fui diretor por 6 anos), era mais uma de suas conquistas.

Foi por essas e outras que batizei “efeito Ingo Hoffmann” o ideal de alinhar resultados com integridade. Precisamos aprender, de uma vez por todas, que quando agimos no mundo, não pode ser jogo de vale-tudo. É fundamental considerar os impactos de nossas ações com uma visão abrangente, responsável, ética.

Por isso, no curso de liderança criativa “Creative Leadership Program” do World Creativity Day , reforçamos esse equilíbrio em todas as aulas, e ainda chamamos para uma das disciplinas o Rodrigo V Cunha , CEO da agência Profile, cara certo para inspirar os alunos sobre “Impactos com Ética e Sustentabilidade”, alicerce e pré-requisito para atuar no mundo em qualquer dimensão.

A partir da interação com Herr Hoffmann, minha régua definitivamente subiu. Meu comportamento intuitivo se transformou em processo consciente e deliberado. Projetos que não passavam no teste de alinhamento ético eram automaticamente descartados. E foram muitos! Continuo usando este mesmo metrônomo em todas as coisas de minha vida.

E você e sua empresa? Como anda a régua nos últimos tempos? Contratariam a celebridade que arrasta milhões de seguidores, sabendo que sua ficha é mais suja que pau de galinheiro? Patrocinariam um programa de audiência explosiva, recheado de sensacionalismo? Continuariam vendendo aquele produto que descobriram posteriormente ter efeito nocivo na saúde das pessoas e no meio-ambiente? Promoveriam aquela liderança tóxica para a Diretoria que promete trazer resultados rápidos, mas sabidamente a custo de muito sangue e sofrimento?

Temos que elevar o nível. Se muitas empresas definem critérios objetivos e rigorosos para contratar fornecedores, por que não aplicar essa mesma lógica às estratégias e escolhas de todos os departamentos (marketing, RH, vendas, TI etc.)?         

O dilema é antigo. Maquiavel, no século XVI, deixou a pergunta subentendida em O Príncipe: os fins justificam os meios? Nos anos 1990, Sílvio Santos trouxe a questão ao horário nobre com seu Topa Tudo por Dinheiro. Falando em Sílvio, o remake “Vale tudo” vem aí. O crime compensará como no final crítico e provocativo da primeira versão?

Hoje, entre bets duvidosas, conteúdos rasos e fakes, automações viciantes, o dilema se reinventa em velocidade quase tão alta quanto a dos carros do campeão Ingo na Stock-Car.

A esperança? Que o “efeito Ingo Hoffmann” nos inspire a cruzar a linha de chegada com integridade, responsabilidade e, por que não, uma pitada de gentileza. Aliás, minha amiga Carolina Nucci , uma das líderes do Marketing de Gentileza e tremenda referência nesse tema, provavelmente endossaria a ideia do efeito Ingo Hoffmann e concordaria com a conclusão: É sempre possível ganhar sem perder a humanidade no caminho!

Ernesto Che Guevara tem a célebre frase: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás! A frase sintetiza um ideal de equilíbrio entre firmeza e sensibilidade, no contexto da luta política e social, mas perfeitamente aplicável aos nossos desafios no mundo do trabalho.         
A Revolução Criativa para trazer equilíbrio entre resultados e humanidade, produtividade e sensibilidade, urgência e gentileza nas organizações está nas nossas mãos. Viva la Revolución!
Rodrigo V Cunha

Profile Founder & CEO | TEDxAmazônia Organizer&Curator | Autor Humanos de Negócios | Comunicação ESG/Sustentabilidade | 4xTEDxSpeaker

2 sem

obrigado pela citação meu amigo! e feliz em poder juntar forças ao redor de ética e valores. que privilégio!

Ary Filler

Coordenador na Trabalho 60 +

2 sem

"Integridade, ética, princípios morais" são mesmo fundamentais, porém estão paulatinamente sendo descartadas, ou então relativizadas, num processo terminal de "obsolescência programada" do comportamento humano...... quem viver, verá !!

Daniel Astun Cirino, MD, MPH

Occupational Medicine Manager at 3M

2 sem

Integridade, verdade, ternura, humanidade. Tocantes palavras, costura genial, meu amigo!

Marta Almeida Gil

Coordenadora Executiva no Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas

2 sem

Luiz Serafim, mais um texto que realmente inspira e alerta: a ética deve inspirar TODAS as nossas ações. Gostei de saber sobre Ingo Hoffmann: exceto o Senna, não acompanhei o mundo do automobilismo. Levei "Integridade como item de fábrica"! Gracias!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Luiz Serafim

  • Paternidade Ativa e Atípica no TEDx FIA

    Paternidade Ativa e Atípica no TEDx FIA

    Se tiver a oportunidade de falar em evento TEDx, com qual tema você subiria ao palco? Sou dos palestrantes veteranos do…

    28 comentários
  • Reinvenção Profissional aos 50+: 1 ano de Jornada

    Reinvenção Profissional aos 50+: 1 ano de Jornada

    Há um ano, encerrei jornada de 3 décadas na 3M, partindo de trainee e chegando a líder máximo de comunicação e marca da…

    80 comentários
  • Um dia emocionante no mundo corporativo (quando ganhei presente inesquecível)

    Um dia emocionante no mundo corporativo (quando ganhei presente inesquecível)

    Tive a alegria de viver muitas histórias emocionantes em três décadas dentro de organizações. O mundo corporativo tem…

    40 comentários
  • Minha história equilibrando Paternidade e Carreira

    Minha história equilibrando Paternidade e Carreira

    Foi surpresa receber convite da ABRH-SP Regional Campinas para falar sobre Mulher Contemporânea e a Maternidade. Mas…

    18 comentários
  • 19 anos: campeão paralímpico, calouro da USP e PCD

    19 anos: campeão paralímpico, calouro da USP e PCD

    Hoje, meu filho Gabriel completa 19 anos. A festa já seria enorme em qualquer situação, mas como tomamos susto quando…

    150 comentários
  • O intraempreendedor que "mordeu a língua" e virou empreendedor

    O intraempreendedor que "mordeu a língua" e virou empreendedor

    Passei parte da vida me definindo orgulhosamente como intraempreendedor enquanto me esquivava da ideia de ser…

    26 comentários
  • Arte Kintsugi para valorizar nossas cicatrizes

    Arte Kintsugi para valorizar nossas cicatrizes

    Você conhece a arte japonesa chamada de "kintsugi”? Tomando café com meu amigo-irmão Gui Rangel , reaprendi sobre a…

    31 comentários
  • O valor da amizade verdadeira que apoia e que chuta a canela

    O valor da amizade verdadeira que apoia e que chuta a canela

    Há consenso de que bons amigos estão sempre do nosso lado, nos apoiando e acolhendo em qualquer circunstância, torcendo…

    28 comentários
  • Equilíbrio: Tradição & Inovação

    Equilíbrio: Tradição & Inovação

    O mundo da inovação bate na tecla da destruição criativa, só valorizando mudanças radicais enquanto pinta o antigo como…

    15 comentários
  • Vamos acabar com o Hobby?

    Vamos acabar com o Hobby?

    Quer se juntar a mim numa nova “cruzada”? Procuro voluntários para derrubar o conceito de hobby que a sociedade…

    59 comentários

Conferir tópicos